Em 2 de outubro de 1975, uma ;caixa mágica; foi desembrulhada. A partir daquela data, um mundo novo se abriu. Sonhos foram realizados, amizades construídas, dúvidas deixadas para trás. Ali nascia o Centro de Ensino n; 6 de Ceilândia, e, daquele dia em diante, várias vidas seriam modificadas. Passaram-se mais 11 anos. A instituição mudou de nome com o nascimento de uma nova herdeira: a Escola Normal de Ceilândia. E passou a ser um espaço destinado para a formação de docentes. Em 2004, com a extinção de todas as escolas normais no DF, um novo batizado aconteceu. E surgiu o que hoje é a Escola Classe 64 de Ceilândia. Mesmo com as mudanças, várias pessoas não se desligaram daquele universo, entre elas alguns dos alunos que se dedicaram à tarefa de lecionar e hoje cumprem com o dever de passar tudo o que aprenderam para os 806 estudantes da EC 64. Dos atuais 46 professores do educandário, 16 ocupam as mesmas salas de aulas que frequentavam 11 anos atrás, quando buscavam se tornar o que hoje são: mestres do saber.
Quando Cleovane Raimunda de Souza, 39 anos, recebeu o convite para poder voltar àquele lugar, em 1989, ficou tomada pela euforia. A resposta para o chamado nem poderia ter sido outra: ;Eu aceitei, é claro. E fiquei muito emocionada com isso. Eu já tinha uma verdadeira paixão pela escola;. Cleovane não está mais nas salas de aula. Hoje, com 23 anos de magistério, ela passou a coordenar a instituição. ;Me sinto lisonjeada em saber que sou cria da casa e que já ensinei a vários alunos. É um sentimento muito bom.;
Para alguns desses 16 professores, regressar ao lugar onde tudo começou gera orgulho e, ao mesmo tempo, estranhamento. ;Eu me sinto muito feliz de estar aqui e trabalhar com professores que já foram meus mestres na época em que estudava. Mas também achei estranho ao ver, na prática, a diferença do tempo em que eu era aluna e aprendia e agora que sou professora e ensino;, declara Ana Clécia Nascimento Silva, 32 anos.
O resgate histórico
O passado só não ficou para trás graças ao trabalho de resgate de funcionários da Escola Classe 64, que propuseram, como um dos subtemas do projeto ComunicARTE: de Brasília à África, o nome ;Escola Classe 64: de Ceilândia a Brasília;. Foi a partir do assunto que a professora de artes Maria Cláudia Alves da Silva, 43, compôs um poema, A casa mágica, e uma crônica com a história do local, além de duas músicas que já foram gravadas: Vem pra Brasília ; que rendeu um vídeo produzido pela Secretaria de Saúde ; e Pé na África.
;A escola é mágica. É onde ocorre a transformação e o processo de lapidação para as crianças e também para os professores, que acabam aprendendo com os seus alunos;, explica Maria Cláudia. A ideia do projeto deu certo e está sendo usada até no processo de alfabetização dos alunos. ;Eles ficam mais envolvidos e, por isso, mais interessados. Até porque, fazem parte dessa história;, acredita a docente Elenice Viana, 47.
Vitória Firmino dos Santos, 8 anos, aluna do 3; ano, avalia: ;Eu acho legal a gente saber que a nossa escola tem uma longa história;. Da mesma forma pensa João Lucas Cardoso, 12, que cursa o 5; ano da instituição: ;É bom saber das coisas que aconteceram antes de eu entrar aqui. Porque saber disso me faz até me motivar mais a estudar;. João Lucas e mais 14 alunos de sua classe foram incumbidos de projetar três maquetes com os prédios que compõem o colégio. A sala foi dividida em três grupos. ;Fizemos um mapa da escola com legendas e uma planta. Com isso, deu para usar esses trabalhos para fazer itens de matemática e de geometria;, explica a professora Raimunda Ferreira, 46.
A casa mágica
(Maria Cláudia Alves da Silva)
A casa mágica é a escola
A escola é uma mágica!
Na casa mágica aprendo
a ler e escrever
Na casa mágica eu aprendo a viver
Lá eu faço amizade,
tenho a oportunidade
De me desenvolver
É mágico aprendermos ao brincar
O professor aprender ao ensinar
Viver a cada dia com muita alegria
Sem desanimar
Na casa mágica eu aprendo a pensar
Na casa mágica eu aprendo a amar
Respeitar o diferente,
ser justo e coerente
Disposto a ajudar
Aprender me dá asas para voar
É necessário perder para ganhar
Em meio à transformação
vivo muita emoção
Ao me renovar