Toda mulher sonha com uma gravidez tranquila e, principalmente, com o nascimento de um bebê saudável. Para que os nove meses da gestação só tragam boas surpresas à futura mamãe, é preciso seguir um rígido calendário de exames e de visitas ao médico. São essas consultas que podem garantir o bom desenvolvimento do feto e a saúde da gestante. No Distrito Federal, o número de grávidas que realizaram o pré-natal na rede pública cresceu 21,24% nos últimos seis anos. Só em 2009, foram atendidas 192.955 pacientes.
O aumento das consultas não reflete, entretanto, maior qualidade dos atendimentos. Em alguns postos de saúde, as mulheres enfrentam dificuldades para marcar as sessões de acompanhamento com os médicos. Nos hospitais, são longas as filas para os exames de ultrassom. Com isso, a capital federal ainda apresenta dados negativos, como um número alto de registros de sífilis congênita ; doença que é prevenível com a realização de um bom pré-natal. Nos últimos três anos, foram registrados 489 casos no DF. A meta do governo é eliminar a doença.
Outra estatística desfavorável é o coeficiente de mortalidade materna ; índice que também está relacionado à qualidade do pré-natal ;, que cresceu no DF. No ano passado, 12 gestantes morreram durante a gestação, no parto ou logo depois de dar à luz. O número é o dobro do registrado em 2008 na cidade, de acordo com o Datasus. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice de mortalidade materna é um dos principais indicadores da qualidade da assistência dada à mulher.
Há mais um sinal de alerta. Apesar da alta contabilizado nos últimos seis anos, de 2008 para 2009, houve uma redução de 35% no número de consultas de pré-natal. Os técnicos do governo vão analisar os dados para investigar se essa queda está relacionada à redução das taxas de natalidade ou à uma baixa procura das gestantes.
O coordenador de ginecologia e obstetrícia da Secretaria de Saúde, Avelar de Holanda Barbosa, diz que o aumento do número de consultas na rede pública é positivo, mas destaca que esse dado é insuficiente para registrar a qualidade do atendimento. ;Se os índices de mortalidade materna aumentam e se ainda temos casos de sífilis congênita, por exemplo, é porque existem falhas no pré-natal;, reconhece.
A doméstica Maria das Dores da Silva Lira, 34 anos, está ansiosa pela chegada da primeira filha, Alana. O nascimento está previsto para o próximo dia 10, mas Maria não gostou do atendimento que recebeu no Centro de Saúde 3 do Guará. ;A maioria das consultas foi apenas com enfermeiras, não com médicos. Para fazer dois exames de ultrassom, tive que procurar uma clínica particular;, reclama Maria das Dores.
Apesar das falhas no sistema, é possível perceber a conscientização das mulheres sobre a importância de uma gestação saudável. A maior da escolaridade da população contribui para o crescimento dos atendimentos feitos durante a gravidez nos centros de saúde públicos de Brasília. No Brasil, o aumento do número de consultas no SUS foi de 125%. Roraima teve o crescimento mais expressivo: 2.379%.
[SAIBAMAIS]Para a babá Maria da Conceição Dionísio Silva, 21 anos, o pré-natal foi importante, já que a futura mãe sofreu com dores abdominais durante toda a gravidez. ;Eu ficava preocupada com a dor, que às vezes era forte. A médica teve o cuidado de me acompanhar todos os meses e, quando o incômodo era maior, eu corria para o posto, mesmo fora das datas marcadas para as consultas;, explica Maria da Conceição, moradora do Itapoã, que foi atendida no Centro de Saúde 9 do Cruzeiro Novo.
Fortalecimento
O Ministério da Saúde comemorou o aumento do número de consultas de pré-natal realizadas em todo o país. O diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas da pasta, José Luiz Telles, atribui o fenômeno à melhoria da rede de atenção básica no país. ;Além do fato de as pessoas terem maior acesso à informação, o crescimento das consultas também está ligado ao fortalecimento da atenção primária. Isso é importante porque ajuda a reduzir as taxas de mortalidade infantil e representa uma vitória das mulheres brasileiras;, justifica Telles.
Nas consultas ao longo da gestação, as mulheres devem realizar uma série de exames, tanto de sangue como de imagem. Os médicos verificam se a futura mamãe tem diabetes gestacional (1)ou hipertensão, doenças que podem levar a uma gravidez de alto risco. ;Esses problemas representam duas das principais causas de mortalidade materna. Com o pré-natal e com um acompanhamento especializado, a mulher pode evitar situações que colocam em risco a sua vida e a do bebê;, explica José Luiz Telles.
Entre as mais importantes orientações dos médicos às gestantes está a proibição do uso de drogas, cigarro ou álcool. Abrir mão desses hábitos nocivos é essencial para que o bebê se desenvolva de forma saudável. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos Júnior, explica os perigos de fumar durante a gravidez. ;A mãe que fuma coloca em grande risco a criança, pois aumentam as chances de morte súbita. Além disso, com o consumo de álcool, há mais possibilidade de desenvolvimento da síndrome alcoólica fetal, que afeta muito o desenvolvimento;, alerta o pediatra.
Dioclécio Campos Júnior também destaca a importância do pré-natal para a construção do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. ;É preciso fazer um trabalho com a gestante para que ela enfrente o mínimo de estresse possível, já que ele é muito nocivo para a criança. A presença do pai nas consultas também é bastante recomendável, porque o conceito de paternidade é indispensável para completar à gravidez.;
1 - Alerta
O diabetes gestacional é a alteração das taxas de açúcar no sangue durante a gravidez. Na maioria dos casos, o tratamento é feito com dieta e exercício. Quando essas medidas não são suficientes, é necessário fazer um acompanhamento com injeções de insulina. Sempre que a gestante apresentar essa doença, a gestação é considerada de alto risco.
"É preciso fazer um trabalho com a gestante para que ela enfrente o mínimo de estresse possível, já que ele é muito nocivo para a criança. A presença do pai nas consultas também é bastante recomendável"
Dioclécio Campos Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria