Jornal Correio Braziliense

Cidades

Assaltos nos arredores de colégios públicos e particulares deixam pais e diretores em alerta

O combate ao crime torna-se difícil porque poucos procuram as delegacias

Estudantes da quinta à oitava séries dos ensinos fundamental e médio viraram alvo de assaltos nas proximidades das escolas do Distrito Federal. Mochilas, bicicletas, celulares, relógios e equipamentos eletrônicos são os objetos mais visados por ladrões, que espreitam não só nas proximidades dos colégios ; tanto particulares, quanto públicos ;, mas também nos caminhos que levam a meninada de casa para a escola. Alunos devem ter atenção no trajeto de ida e de volta. E, em caso de furto ou roubo, registrar boletim de ocorrência na delegacia da região, além de comunicar à diretoria dos lugares onde estudam.

O Colégio Rogacionista, que fica na Área Especial 08 do Guará II, divulgou uma circular para os pais alertando sobre as ocorrências de furtos e roubos nos arredores do colégio. No documento, a instituição recomenda que alunos andem em grupo e evitem levar consigo equipamentos eletrônicos. De março a abril, sete estudantes tornaram-se vítimas. ;Já é uma constante. Pais chegam à escola para dizer que o filho foi assaltado. Recomendamos sempre fazer o boletim de ocorrência na 4; Delegacia de Polícia (Guará);, explicou a orientadora educacional do colégio, Cláudia Cristina Vieira.

Os roubos aos alunos do Rogacionista estão diretamente ligados aos crimes contra estudantes do Centro Educacional n; 5, na QE 34 do Guará II. Isso porque as duas escolas têm um caminho em comum, que liga a quadra da escola pública à QE 38. O trajeto facilitaria, segundo os diretores das duas escolas, a fuga dos marginais. Os alunos do centro de ensino são vítimas dos mesmos tipos de ataque. A diretora do colégio, Josceline Pereira, contou que até pais de alunos já foram assaltados. ;Isso é por causa de drogas. Mas os alunos também precisam ficar atentos. A primeira coisa que fazem quando saem da escola é ligar os celulares;, apontou.

Em Taguatinga, a situação dos alunos não é diferente. O diretor do Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab), na QSA 03/05, Francisco Roza Filho, conta que, além dos roubos ; que geralmente ocorrem no início e no fim da tarde ;, os alunos do turno da noite ainda convivem com a prostituição no local. A escola não tem policiamento fixo. ;A localização é complicada. Além disso, a concentração de alunos é grande. Estamos próximos do Centro Educacional n; 2 e do Centro de Ensino Fundamental n; 3. Há mais de 3 mil estudantes circulando por aqui diariamente;, contou.

Também próximo ao Cemab, está o Guiness Instituto de Educação. Segundo a coordenadora de educação do colégio, Kênia Batista, o colégio já deixou de fazer cursos preparatórios para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) no turno da noite porque recebeu ameaças das prostitutas e dos travestis que fazem ponto na região. ;Fizemos o curso no ano passado. Eles chegaram a jogar pedras em janelas para nos intimidar. Além disso, nos últimos dois meses, pelo menos 15 alunos foram roubados nas imediações. Para prevenir, alunos têm que ficar atentos, e pais têm que registrar boletim de ocorrência nas delegacias;, recomendou.

Faltam registros
As polícias Militar e Civil alertam para o fato de nem sempre pais e alunos registrarem boletim de ocorrência. O comandante do Batalhão Escolar da Polícia Militar, tenente-coronel Maurício Andrade da Silva, explicou que, quando não há registro, para o Estado, é como se o crime não tivesse ocorrido.

Segundo ele, sempre que a PM tem conhecimento de ocorrências, procura identificar os responsáveis. ;Os autores não costumam mudar.; Esse é um fator que dificulta o combate aos crimes: os assaltos são quase sempre praticados por menores de idade, que só podem ser apreendidos em flagrante. E, quando isso acontece, acabam sendo liberados rapidamente.

Para piorar, de acordo com o policial, apesar dos diretores e dos alunos do Rogacionista, do Guiness, do Cemab e do Centro Educacional n; 5 se queixarem, não há ocorrências de roubos recorrentes nas proximidades das escolas. Ainda assim, o policiamento foi intensificado no primeiro colégio.

Quanto aos casos de roubo no Cemab e do Guiness, segundo Silva, fica difícil estabelecer uma prevenção efetiva porque a área de abrangência das escolas é grande. O comandante desconversou quando questionado sobre quais seriam as escolas que apresentam maiores índices de roubos a alunos nas imediações no DF. ;A situação do DF, em termos de segurança, é boa;, comentou. ;Mas a população precisa registrar ocorrência. Se desconhecemos as incidências, as ações ficam restritas;, alertou.

Na 4; DP, o delegado-chefe, Joás Roza de Souza, disse não conhecer casos específicos. Ainda assim, reconheceu que várias pessoas são assaltadas e não procuram a delegacia. ;A necessidade do registro é imediata. Se as equipes investigam logo, as chances de esclarecer o fato são bem maiores. Normalmente, o produto roubado é moeda de troca por drogas em bocas de fumo;, explicou. (LC)


Previna-se

Estudantes devem ficar atentos ao ir para a escola e ao voltar. Uma série de medidas de segurança pode diminuir muito o risco de um assalto. Se, mesmo precavido, o jovem for vítima do crime, ainda há o que fazer para evitar que outros passem pelo problema

No dia a dia
Evite, se possível, levar equipamentos eletrônicos para o colégio, tais como celulares, tocadores de MP3 e câmeras digitais.


Caso seja necessário levar o celular, o ideal é não utilizá-lo fora dos muros da escola e não ostentar o aparelho Procure ir para a escola com tênis simples. Roupas e sapatos de marca são um atrativo a mais para os ladrões Faça o percurso entre a casa e a escola sempre em grupos. Também é importante ficar atento a pessoas com comportamento suspeito Evite caminhos ermos e lugares pouco iluminados.

Em caso de roubo
Registre um boletim de ocorrência na delegacia responsável pela área. As estatísticas orientam as ações das polícias Militar e Civil Comunique o fato à direção da escola e aos colegas, para que eles possam evitar o local do assalto e ficar mais alertas Pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos. Nem sempre o adolescente comunica o roubo. Machucados, roupas rasgadas e perda de objetos podem ser provas.

Fonte: Polícia Militar do Distrito Federal e direções do Colégio Rogacionista, do Centro Educacional n; 5, do Centro de Ensino Médio Ave Branca e do Guiness Instituto de Educação


Memória
Roubos e ameaças

Entre 2008 e 2009, o Correio publicou uma série de matérias sobre insegurança dentro e fora da escola. Os casos englobam tanto assaltos, quanto brigas de gangues e agressão a professores:

3 de junho de 2008
O professor de história Valério Mariano, 32 anos, foi espancado por Laerte Furtado, 21 anos, antigo aluno do professor, e Leonardo Alves, 19.

8 de junho de 2008
Ocorrências do batalhão escolar confirmam o avanço da violência de alunos contra professores. De janeiro a junho daquele ano, foram registradas 10 ameaças e três lesões corporais.

13 de agosto de 2008
A diretora do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 4 (no Lago Oeste), Márcia Brant, é ameaçada de morte. A mensagem foi escrita no banheiro feminino, poucos meses após o assassinato do ex-diretor do colégio, Carlos Ramos.

4 de setembro de 2008
Um grupo de 23 PMs esteve na Escola Parque 307/308 Sul. Os policiais foram à instituição após o desentendimento entre dois alunos ; por conta de um esbarrão ; virar uma briga de gangue.

26 de outubro de 2008
Pesquisa da Secretaria de Educação do DF mostra que a sensação de insegurança nas escolas é grande. Segundo os números, 16,5% dos professores e 27,8% dos alunos já sofreram furto ou roubo.

13 de outubro de 2009
Correio divulga matéria com casos de assaltos a estudantes nas proximidades de escolas do Plano Piloto. A polícia já alerta sobre a necessidade de registro de boletim de ocorrência.