Jornal Correio Braziliense

Cidades

Delegada se licencia da polícia

Martha Vargas pede afastamento do trabalho por 30 dias. Outro suspeito alega ter apanhado para confessar participação no triplo homicídio

Desgastada após a divulgação do laudo do Instituto de Criminalística (IC), que colocou em xeque a investigação do triplo assassinato na 113 Sul, iniciada por ela, a delegada Martha Vargas pediu licença da Polícia Civil pela primeira vez em 20 anos de carreira. Ontem, ela havia sido exonerada da chefia da 1; Delegacia (Asa Sul) para garantir a isenção nas diligências abertas pela Corregedoria da corporação, que apura indícios de falsidade na suposta principal prova material do crime que levou à prisão três homens. Todos foram soltos após o caso mudar de unidade policial.

O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Pedro Cardoso, não impôs dificuldades ao pedido de Martha para ficar 30 dias fora da corporação. Novamente, Cardoso lamentou o fato de a chave apreendida no quarto de Alex Peterson Soares, 23 anos, preso em novembro passado, ser a mesma recolhida por agentes na noite em que descobriram o crime. Os corpos do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram encontrados em 31 de agosto de 2009 no apartamento dos Villela, o 601/602 do Bloco C da SQS 113. Os três haviam sido esfaqueados três dias antes. Peritos do IC fotografaram o objeto no cenário da tragédia, há oito meses, e comprovaram a falha por meio de comparações. O Correio divulgou com exclusividade que a chave havia sido desmontada como prova. ;É uma pena que uma profissional como ela (Martha) tenha sua biografia manchada dessa forma;, disse Cardoso.

O diretor revelou que a intenção da ex-delegada da 1; DP não é ficar os 30 dias de folga. ;Ela disse que deve voltar antes.; Martha Vargas e alguns agentes que participaram dos primeiros três meses de investigações do crime na 113 Sul devem prestar depoimento na Corregedoria da Polícia Civil quando a delegada retornar da licença. Desde dezembro, o caso está sob a responsabilidade da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), unidade especializada em homicídios.

Agressões
A Corregedoria também deverá apurar as denúncias de dois homens, que foram presos pela equipe da 1; DP, em novembro passado, por suspeita de envolvimento no crime. Depois de Alex Peterson afirmar ao Correio ter sido torturado por agentes da unidade chefiada por Martha Vargas, agora é vez do ex-vizinho dele Cláudio José de Azevedo Brandão(1), 38, acusar os policiais de o agredirem na ocasião em que ficou detido. ;Os 12 anos que passei na cadeia, por conta de um homicídio, nem se comparam aos 20 dias em que fiquei preso no Departamento de Polícia Especializada (DPE);, disse Cláudio.

Cláudio contou que sofreu diversas agressões. ;No dia em que fui preso (13 de novembro), apanhei;. A violência também teria sido psicológica, segundo ele: ;Eles me tiraram às 6h da cela e só me devolviam às 4h da madrugada do dia seguinte. Ficavam me obrigando a confessar, pois sabiam que era eu o assassino. A própria delegada (Martha Vargas) falava isso;, afirmou.

[SAIBAMAIS]Para Cláudio, a exoneração de Martha Vargas não é suficiente: ;Eu quero que os agentes dela também recebam punição;. ;Os agentes falaram que, se eu não confessasse, iriam empurrar (imputar) outros crimes para mim: homicídio, estupro. Eu falei: ;Pode fazer. Vou chegar na cadeia e vou logo morrer, pois estuprador os caras (detentos) matam na hora. Mas eu não confessarei esse crime;;, afirmou. O homem reiterou que já pagou pelo que fez, referindo-se ao homicídio que cometeu e, por ele, ficou preso por 12 anos.

Desempregado e pai de quatro filhos ; de 7, 9, 15 e 17 anos ;, Cláudio passa por dificuldade financeira. Ele acusa a prisão pelo crime da 113 Sul como a principal causa para não arranjar emprego. ;A dona da casa onde moro de aluguel pediu o imóvel de volta;, lamentou. O homem garante que não voltará a cometer crimes. Da época em que ficou preso, ele mantém o hábito de ler a Bíblia: ;Gosto de todos os salmos;.

1 - Depoimento
Cláudio José acabou preso porque, em depoimento prestado a Martha Vargas, dois homens detidos anteriormente o acusaram de ser o dono da suposta chave que abria uma das portas de serviço do apartamento do casal assassinado. A partir do 13 de novembro, época da prisão, a polícia começou a tratá-lo como o principal suspeito do triplo homicídio.

Sem resposta

Os Villela e a empregada deles foram assassinados há 246 dias

As vítimas levaram, ao todo, 73 facadas