A desqualificação da então única prova material recolhida pela polícia durante a apuração do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul extinguiu a linha de investigação baseada nas três prisões realizadas pela 1; Delegacia (Asa Sul). Com isso, na semana em que se completam oito meses de mistérios em torno das mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58, a polícia se aprofunda em uma vertente: a suspeita de envolvimento de parentes das vítimas no crime.
A Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) da Polícia Civil do DF amadurece a linha de apuração voltada para os familiares dos Villela. Entre eles, a filha do casal, Adriana Villela. No último dia 17, ela prestou depoimento no Departamento de Polícia Especializada na condição de suspeita. Estava acompanhada de um advogado. Foi a primeira vez em que a polícia admitiu a possibilidade de participação de um parente do casal de advogados no triplo assassinato ocorrido em 28 de agosto.
A presença dela na Corvida ocorreu horas depois de equipes da unidade policial especializada em apuração de assassinatos cumprirem ao menos três mandados de busca e apreensão em casas de familiares de José Guilherme Villela e Maria. Para conseguir as ordens judiciais, a Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios alegaram a falta de colaboração por parte dos investigados e uma suposta conduta incompatível deles com a de quem perdeu os pais. Uma das ações ocorreu na residência da própria Adriana, no Lago Sul.
Segredo
O diretor-geral da Polícia Civil do DF (PCDF), delegado Pedro Cardoso, reforçou ontem que o avanço das investigações não pode ser divulgado porque o caso segue sob segredo de Justiça. Durante entrevista coletiva realizada ontem, porém, ele explicou que os investigadores da Corvida se concentram hoje na busca de provas capazes de vincular o autor do triplo assassinato ao local do crime e, assim, aos próprios homicídios. ;O momento é de reunir e reforçar as provas materiais.;
Por enquanto, o que se sabe em relação aos crimes não vai muito além da dinâmica descrita pelos peritos do Instituto de Criminalística da PCDF e das conclusões do Instituto de Medicina Legal. Pelo menos dois homens invadiram, provavelmente pela porta dos fundos, o apartamento dos Villela no início da noite de 28 de agosto de 2009. Mataram as três pessoas e fugiram com dinheiro e joias.
Análise da notícia
Respostas necessárias
Não bastasse um triplo homicídio ocorrido no coração da cinquentenária Brasília estar há oito meses sem solução, agora a Polícia Civil vem a público admitir que a principal prova material do crime ; uma chave encontrada no ano passado com um homem com passagens pela polícia ; simplesmente não existe. Erro grosseiro ou má-fé? Na primeira hipótese, a chave teria sido confundida com uma semelhante que fora recolhida pelos peritos na cena do crime ; uma falha injustificável. Na segunda, bem mais grave, a polícia teria plantado a chave na casa do suspeito para vinculá-lo aos assassinatos.
Qualquer que seja a resposta, ela mostrará que a polícia mais bem paga do país falhou feio. Seja por errar na condução inicial das investigações ; somente após três meses o caso passou a ser conduzido por uma delegacia especializada em homicídios, que precisou dar início a nova apuração ;, seja por tentar arranjar culpados para um caso de difícil solução. Agora, a instituição precisa dar duas respostas à sociedade. Além de elucidar o bárbaro crime, terá que esclarecer: a primeira parte da investigação foi incompetente ou foi manipulada?
Opinião do internauta
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