O maior impacto da confirmação do primeiro caso no Distrito Federal de um animal contaminado por mormo, grave doença infectocontagiosa que atinge equídeos (cavalos, burros e mulas), ocorrerá em competições esportivas. Brasília tem a segunda maior tropa competidora do país. Só no próximo fim de semana, pelo menos 20 animais brasiliense estão escalados para participar de uma prova de enduro em São Paulo, relata o veterinário Antônio Raphael Teixeira Neto, professor da Universidade de Brasília (UnB). Os cavalos só poderão participar do torneio se for comprovado por exame ; que custa de R$ 35 a R$ 40 ; que eles não estão infectados pela bactéria do mormo.
A partir de agora, o trânsito interestadual de animais do DF para qualquer outra unidade da Federação fica condicionado à apresentação de documento que comprove a não contaminação do equídeo. "Na sociedade de animais de hipismo, há um trânsito de mais de 100 animais por mês, indo e vindo. Então, o impacto esportivo vai ser mais rápido do que o econômico", comenta Antônio Neto. Ele, no entanto, reconhece que haverá efeitos negativos na venda e na compra de animais. "O fato de se saber que existe um foco desse é um efeito dominó. Isso a gente remete à aftosa, com foco na Argentina, e os russos pararando de comprar carne do Brasil no dia seguinte", compara.
Apesar de ainda ser cedo para calcular o impacto do registro da doença no mercado de exportações de animais, a expectativa é que as vendas de equídeos para o exterior não sejam tão afetadas quanto no ano passado, após a confirmação de um caso de mormo em São Bernardo do Campo (SP) em 2008. Naquela ocasião, a exportação de cavalos para a Europa despencou de 145 em 2009 para 42 em 2008, segundo Cassiano Ricardo Rios, dono de uma empresa especializada em exportação de cavalos. Nesse mesmo período, a venda de cavalos para o mercado externo caiu de US$ 5,64 milhões para US$ 4,35 milhões, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Para Silvio Batista Piotto Junior, presidente da Associação Brasileira de Veterinários de Equídeos (Abraveq), o caso diagnosticado no DF é igualmente crítico a São Paulo, em 2008, exceto pela exportação. "O mais agravante é que implica em custos e cancelamento de provas e eventos (esportivos com cavalos). No caso de São Paulo, foi especialmente crítico porque todos os cavalos exportados no Brasil saem de São Paulo, via Viracopos ou Guarulhos", observou.
Silvio Junior explicou que, como o caso foi constatado em São Paulo, nenhum animal podia ser exportado. "O trânsito internacional ficou fechado por quase um ano. Imagine as centenas de milhões de reais que não foram exportados, provas que cavalos brasileiros não puderam participar", exemplificou. Na visão da professora da UnB e médica-veterinária Roberta Godoy, o impacto nas exportações não deve ser tão grande como no caso de São Paulo porque o DF importa muito mais cavalos do que exporta, destacando o grande número de centros de treinamento e hípicas na capital federal.
Repercussão
A divulgação da confirmação do caso, registrado em Sobradinho e comunicado internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde Animal, causou forte repercussão no DF. No Primeiro Simpósio da Abraveq, realizado ontem e hoje na capital federal, coincidentemente, uma das palestras tinha como tema o mormo e teve público acima da expectativa depois da publicação da matéria pelo Correio ontem.
Consultor técnico do Ministério da Saúde e responsável por uma palestra sobre mormo, realizada ontem, Francisco Amilton Araújo fez questão de minimizar o alarde em relação à comprovação do caso no DF. "O Nordeste convive com barreiras sanitárias há mais de 10 anos, com a exigência do exame para sair (do estado). Calcular impactos (econômicos) é especulação", afirmou. O especialista também tranquilizou a população quanto à contaminação da doença para seres humanos. "Se fosse uma doença de rápida contaminação, nós não estaríamos só com um caso", destacou. Ele esclareceu ainda que a doença pode acometer seres humanos, mas para isso é necessário contágio direto com o animal infectado.