A ausência das estrelas internacionais especuladas nos últimos oito meses não afugentou por completo o público da festa oficial dos 50 anos de Brasília. O evento atraiu cerca de 850 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios, segundo a Polícia Militar. Muita gente, mas abaixo do 1,3 milhão esperado pelos organizadores e do 1,2 milhão registrado na celebração de 21 de abril de 2009. No entanto, mais que o suficiente para lotar o metrô, a Rodoviária do Plano Piloto e as vias de acesso ao cenário da comemoração do cinquentenário.
Apesar dos representantes da Secretaria de Segurança Pública afirmarem que não houve casos graves de violência na Esplanada dos Ministérios, até as 22h a Polícia Civil havia registrado no local sete esfaqueamentos, sete prisões por porte de droga, um furto de veículo, além de três flagrantes de embriaguez ao volante. Ao todo, foram 174 ocorrências, sendo a maioria (135) por mal súbito, em decorrência do forte calor e da ingestão de bebidas alcoólicas. Já os bombeiros fizeram outros 144 atendimentos por mal súbito e queda de pressão.
Mesmo proibido, o álcool era vendido livremente, apesar da tentativa de repressão por parte dos fiscais. Eles recolheram 20 caminhões de mercadorias de ambulantes sem autorização para trabalhar no local da festa. Outro problema foi a quantidade de crianças perdidas. Mais de 110 até o fim da noite, de acordo com a Vara da Infância e da Juventude e a Polícia Civil.
No fim da manhã, um congestionamento de veículos parou o trânsito na área central de Brasília. O epicentro foi a via S1, que liga o Eixo Monumental à Esplanada dos Ministérios, mas a grande quantidade de carros chegou a afetar o tráfego nas pistas próximas. O Batalhão de Trânsito (BPTran) estimou mais de 20 mil veículos estacionados nas vias paralelas à Esplanada, onde só eram permitidos pedestres. O BPTran, no entanto, considerou o movimento ;dentro do limite esperado para as proporções da comemoração;.
Badaladas
A Esplanada começou a receber o público desde as primeiras horas da manhã de ontem, quando o Distrito Federal acordou com as badalas dos sinos das igrejas católicas, tocados simultaneamente a partir das 7h. Logo em seguida, mais de 5 mil atletas amadores e profissionais correram pelas avenidas largas do centro do poder nacional, durante a maratona de revezamento organizada pelo Correio Braziliense. Enquanto isso, o público chegava em peso de carro, ônibus e metrô. Vindos de Ceilândia, desembarcaram de um dos trens os amigos Adna Seabra, 14 anos, Brendon Patrick, 17, e Larissa Gomes, 14. O trio queria dançar e paquerar. ;Brasília é um lugar tranquilo, eu me sinto bem aqui, apesar de ser uma cidade diferente das outras;, comentou Adna.
Os sete aviões T27 da Esquadrilha da Fumaça apareceram no céu limpo da tarde ensolarada às 14h, com as famosas manobras arriscadas. A plataforma superior da Rodoviária estava lotada de gente ansiosa para ver as piruetas. Mas a maioria preferiu acompanhar o show do gramado da Esplanada. Qualquer manobra era ovacionada com gritos e aplausos da multidão. Por fim, os pilotos escreveram no céu, com fumaça, a mensagem ;Eu te amo Brasília;.
A moradora do Gama Maria Bethânia Gonçalves, 30 anos, não se intimidou com a barriga de seis meses que carrega. Levantou cedo e levou o filho Pedro Gabriel, 3, e o marido Maurício Souza, 37, para comemorar os 50 anos de Brasília. A família não ficou parada e se divertiu bastante na tenda montada pela Polícia Militar. O pequeno Pedro subiu e desceu dos barcos e se encantou com as viaturas expostas. Maria Bethânia contou que, independentemente de crise política, sente orgulho do filho ter nascido na cidade. ;É um lugar de oportunidades e espero que seja um local generoso para o meu filho;, afirmou.
Acordes Gospel
Bastou os aviões da Esquadrilha da Fumaça encerrarem as acrobacias no ar para o palco gospel, ao lado do Teatro Nacional, propagar os primeiros acordes. Os evangélicos fervorosos logo se amontoaram para assistir de perto aos três grandes nomes da música religiosa ; Lázaro, Kleber Lucas e Oficina G3 ;, além de artistas locais.
A família e alguns amigos da dona de casa Silvana Maues, 41 anos, chegaram ao local às 9h30. Enquanto não começava o show no palco gospel, visitaram os monumentos. Silvana prometeu só voltar para casa após a última apresentação. ;Louvo ao Senhor e danço. Estamos todos muito animados;, comemorou. Ela levou cadeiras de praia, canga e guarda sol para toda a família. (Juliana Boechat)