Em seu último domingo como governador do Distrito Federal, Wilson Lima (PR) acordou cedo. Ao lado da mulher, Márcia, com quem é casado há 31 anos, foi à missa celebrada pelo padre Natal, minutos antes das 8h, na Paróquia São Sebastião, no Setor Leste do Gama, onde mora. Dois seguranças do GDF o acompanharam, de pé, próximos às portas da igreja. Na celebração, que durou uma hora, cantou de olhos fechados, não contribuiu com a oferta, comungou, abraçou Márcia ao perceber que ela enxugava uma lágrima após receber a hóstia,e ouviu com atenção a homilia sobre vocação divina e traição.
Hoje, às 10h, em solenidade na Câmara Legislativa, Wilson Lima transmite o cargo ao pemedebista Rogério Rosso. Deixa o governo após receber o apoio de apenas quatro dos 24 deputados distritais que participaram da eleição indireta na tarde de sábado. Resultado surpreendente. Até a véspera, seu nome era um dos mais fortes no processo, mas ao final angariou menos votos que o candidato do PT, Antônio Ibañez, que somou seis.
Na paróquia que frequenta há décadas, Wilson Lima continua popular. Foi o último a sair da igreja, ao fim da missa. Pelo menos 10 pessoas pararam o governador em seu caminho até o carro. Foram manifestações de solidariedade pelo revés eleitoral, cobrança por visitas não feitas e até congratulações pelos 54 dias em que permaneceu à frente do Executivo local.
O governador em exercício tomou a manhã de domingo para conversar com o porteiro do Condomínio Villagge Meditaranee, no Gama, onde mora com Márcia e os filhos. Perambulou pelo pilotis de camisa polo amarela desbotada, bermuda branca e sandália de dedo. Horas mais tarde, levou a família para uma galeteria no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Frango é um de seus pratos preferidos, servidos frequentemente em almoços no Palácio Buriti.
Ontem, ele convidou os quatro seguranças que cuidam da privacidade do governador para se juntar à família na mesa. Wilson Lima não conversou no almoço. Manteve-se isolado em um canto, tomou refrigerante, comeu uma sobremesa e pagou a conta. ;Ele é gente boa, não é igual a outros aí que não davam nem obrigado;, comentou um dos seguranças, que preferiu não se identificar, e somente em 2010 trabalhou para José Roberto Arruda e Paulo Octávio.
A partir de segunda-feira, Wilson Lima não terá mais a companhia dos seguranças e voltará a ser presidente da Câmara Legislativa. Não poderá concorrer à reeleição em outubro e garantiu não estar preocupado com o que vai fazer em 2011. ;O futuro a Deus pertence;, afirmou.
Entrevista - Wilson Lima
A derrota na eleição indireta foi uma supresa?
Não foi uma derrota. Cumpri com meu dever. Quando Brasília mais precisava eu entrei e trouxe tranquilidade. Estou feliz por ter servido ao Distrito Federal. Sou um vencedor.
A que o senhor atribui o resultado da votação?
É a construção política. Faz parte do jogo. Ele (Rogério Rosso) construiu melhor e levou.
O senhor não está magoado com os que o apoiavam, como Aylton Gomes, que é do seu partido e votou em Rogério Rosso?
Não, não. Eu sou companheiro de todo mundo. Não guardo mágoa de ninguém.
Em seu discurso no sábado, o senhor disse que não aceitou pressões indecorosas. Que pressões são essas?
Esquece esse assunto. Brasília não merece essa crise, essa história toda.
O senhor pretende conversar com Rogério Rosso?
Vou cuidar de alguns itens da transição, a questão da festa de 50 anos, na quarta-feira. Nunca trabalhei com ele, mas sei que é uma pessoa preparada. Ivelise (Longhi, vice-governadora) eu conheço, é arrojada, trabalhadora. Vai dar tudo certo.
Qual é a nota que o senhor daria para a sua gestão?
Só o povo pode avaliar. Eu sei que trouxe paz ao DF. As pessoas estavam com medo de perder o emprego, de ver as obras paradas, de as empresas quebrarem, e nada disso ocorreu, está tudo calmo novamente após meu governo.