Aumentou para 114 o número de policiais e bombeiros militares suspeitos de pagar propina para o recebimento de lotes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab). Entre os seis malotes de documentos apreendidos durante a Operação João de Barro, deflagrada na última quarta-feira, os investigadores da Divisão Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap), da Polícia Civil, encontraram uma lista manuscrita com a indicação dos nomes de supostos beneficiários do esquema fraudulento. Todos da nova listagem estavam relacionados com seus respectivos lotes em becos espalhados pelo Distrito Federal.
Além dos 114, uma outra lista com o nome de 19 policiais militares já vinha sendo investigada. A polícia, entretanto, não sabe se os primeiros citados estão inclusos na listagem maior. Na próxima semana, a Decap vai intimar todos os suspeitos para prestar esclarecimentos. Ainda não se sabe quantos deles chegaram a receber o lote, mas a polícia não tem dúvidas de que uma grande parte pagou R$ 7 mil divididos em duas parcelas para ser beneficiada no programa habitacional do governo.
Na lista manuscrita, a letra foi identificada como sendo de Fábio Guimarães Nery, 35 anos. Ele seria o encarregado de agenciar interessados sem obedecer à ordem de pontuação necessária para o recebimento do terreno. Em depoimento, Fábio declarou que recebeu apenas R$ 6 mil, mas negou ter embolsado algum dinheiro. O acusado garantiu que toda a quantia arrecadada foi repassada ao servidor da Codhab Lester Sebastião da Silva, 47 anos, também preso na quarta-feira. A explicação, no entanto, não convenceu o delegado-chefe da Decap, Flamarion Vidal. ;É claro que ninguém faz nada de graça;, afirmou.
Ontem à tarde, foi a vez de Lester prestar depoimento. O servidor, que contradisse Fábio Nery, confirmou o esquema e declarou ainda ter recebido R$ 10.800 de propina paga por 17 policiais e bombeiros militares indicados por Nery. Durante o interrogatório, que durou duas horas, Lester atribuiu a ideia de ganhar dinheiro alterando a lista dos beneficiários ao suposto agenciador. ;Ele disse que parou de receber dinheiro depois que viu que os lotes não seriam entregues, mas que Fábio teria continuado com o esquema sozinho;, relatou o delegado.
A reportagem do Correio tentou entrar em contato por várias vezes com os advogados dos acusados, mas sem sucesso. Tanto Fábio como Lester estão presos no Departamento de Polícia Especializada (DPE). Eles foram indiciados pelo crime de corrupção passiva, praticado contra a administração pública. Ele consiste no ato de receber dinheiro para beneficiar alguém, cuj a pena varia de dois a 12 anos de prisão. A dupla cumpre prisão temporária de cinco dias e automaticamente será solta pela Justiça amanhã, quando vence o mandado de prisão. A soltura poderá ser antecipada para hoje, caso os advogados de defesa consigam um habeas corpus. ;Poderíamos pedir a prorrogação da prisão por mais cinco dias, mas isso não será necessário, uma vez que o interrogatório já foi feito;, explicou Flamarion Vidal.
Prisões
A Operação João de Barro foi realizada na última quarta-feira pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc) do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), em parceria com a Polícia Civil. Na casa dos dois acusados, que foram presos, e em escritórios da Codhab, os investigadores recolheram celulares, CPUs e seis malotes com documentos referentes ao programa habitacional de entrega de lotes em becos.