Goiânia (GO) ; A Polícia Civil de Goiás encerrará o inquérito responsável pela investigação das mortes de seis jovens de Luziânia (GO) em 20 dias. O prazo leva em conta a conclusão dos laudos técnicos nos corpos das vítimas, a descrição minuciosa do perfil do pedreiro Ademar de Jesus Silva e uma possível reconstituição dos crimes cometidos entre 30 de dezembro e 22 de janeiro. Depois disso, o assassino confesso dos garotos de 13 a 19 anos deve ser indiciado por homicídio, estupro, ocultação de cadáver e furto ; os quatro delitos valeriam para cada jovem e renderia mais de 300 anos de prisão.
A fase final de apuração foi discutida ontem pela manhã durante a CPI da Pedofilia da Assembleia Legislativa de Goiás. O delegado-adjunto da 1; Delegacia Regional de Goiânia, Juracy José Pereira, também responsável pelo inquérito do caso, disse que a definição das três pendências servirá para embasar a tendência por um indiciamento por assassinato. Caso isso ocorra e o Ministério Público de Goiás concorde com a polícia, o futuro do acusado será definido por um júri popular. Ele está detido na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), em Goiânia (GO), desde o último sábado.
Segundo o delegado, os exames cadavéricos pela Polícia Federal devem ser os últimos passos a serem concluídos ; ficarão prontos em no máximo 13 dias. Mas os outros dois pontos serão encaminhados logo. É certo, por exemplo, que uma equipe da Polícia Civil de Goiás irá à Bahia até amanhã. ;Queremos traçar um perfil detalhado do acusado;, revelou Pereira. As informações levantadas no interior baiano também serão usadas para estudo policial, como indicou na última terça-feira ao Correio o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Aredes Pires.
Quanto à reconstituição dos homicídios, os delegados goianos tratam do assunto com cautela. Tanto Pires quanto Pereira acreditam que a volta de Ademar ao local pode preencher lacunas. Mas temem mais exposição do pedreiro, além de preverem dificuldades na organização da simulação realizada em parceria com a Polícia Federal. ;Seria a chance de termos o dia, a hora e o local dos crimes. Se fosse um criminoso comum, e não um psicopata, (1) seria mais fácil;, explicou Pires.
Análise geral
O delegado Pereira também aproveitou a CPI da Pedofilia goiana para fazer uma análise geral da investigação e do crime. Para ele, houve uma falha completa no sistema de políticas públicas, inclusive da polícia e dos moradores do bairro de Luziânia. ;A polícia também trabalha com informação da população. Faltou interação;, avaliou.
Além do delegado Juracy Pereira e dos parlamentares envolvidos na CPI da Pedofilia da Assembleia Legislativa de Goiás, participaram das discussões juízes, policiais rodoviários federais, promotores e representantes da Secretaria Estadual de Saúde, do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Conselho Regional de Psicologia. O promotor Everaldo Sebastião de Sousa, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público, revelou que os casos de pedofilia aumentaram em 20% nos últimos dois anos em Goiás.
Segundo ele, o caso Ademar deixou em evidência os erros das políticas públicas em relação ao problema. ;Este caso de Luziânia aponta a falha de todo o sistema penitenciário, do Judiciário e, o pior, do sistema de proteção à criança e aos adolescentes;, apontou. Para ele, faltaram elementos para que o Estado barrasse o convívio social do pedófilo.
1 - Sádico e perverso
O pedreiro passou por um exame criminológico na época em que cumpriu pena por crime sexual contra dois adolescentes de Brasília. O exame detectou ;indícios sérios que favorecem à prática de delitos sexuais. Sinais de sadismo, uma perversão sexual em que a busca de prazer se efetua através do sofrimento do outro. Sinais de transtornos psicopatológicos também se fizeram presentes;.