Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pelo menos seis jovens foram abordados pelo pedreiro no Parque Estrela Dalva

Vítimas em potencial tinham o mesmo perfil

Um misto de tristeza e alívio. Foi com esse sentimento que o estudante Luciano*, 16 anos, recebeu a notícia da prisão do pedreiro Adimar Jesus da Silva, 40, acusado de matar seis jovens, incluindo o melhor amigo dele, George Rabelo dos Santos, 17. O rapaz garante que esteve na mira do acusado, mas não se deixou levar por suas promessas. ;Uma semana depois da morte do Paulo Victor ; o segundo a desaparecer ; ele me chamou quando eu saía da padaria, perguntando se aceitava descarregar um caminhão de telhas. Disse que não poderia, pois na época estava trabalhando com a venda de DVDs na rua. Minhas pernas tremeram quando eu vi a foto dele no jornal. Esse cara, com certeza, ia me matar também;, contou.

O relato de Luciano é narrado de forma semelhante por outros cinco jovens e duas mães moradoras do Parque Estrela Dalva. O ;monstro;, como Adimar foi apelidado pelos moradores da região, ao contrário do que muitos imaginam, não escolhia suas vítimas aleatoriamente. O perfil dos abordados era sempre o mesmo: rapazes com menos de 19 anos e de boa reputação. Pelo menos é o que contam Wesley*, 16 anos, e Vitor*, 17. ;Você pode ver os meninos que ele mexia. Todos, tanto os que morreram como os que conseguiram escapar, são bem tranquilos. Ninguém tem cara de ;mala; e nunca teve problema com a polícia;, analisou Wesley.

;Tenho certeza que ele escolhia a dedo quem ia abordar;, complementou Vitor, que também ouviu a proposta de trabalhar em serviços braçais em troca de R$ 20. ;Estava indo buscar minha irmã na escola, de bicicleta, quando cruzei com ele. Ele me chamou pra ir até uma casa para descarregar um caminhão de tijolos em troca de R$ 20. Como já estava assustado com os desaparecimentos, nem respondi. Montei na bicicleta e saí de perto dele;, disse.

Aliciamento
Os depoimentos dos adolescentes reforçam a tese de que Adimar aliciava rapazes quase que diariamente, usando sempre o mesmo argumento. Ele também não demonstrava comoção com o desespero das mães que procuravam notícias dos filhos. Isso porque todos os jovens ouvidos pela reportagem foram abordados por ele após o sumiço de Diego Alves Rodrigues, 13 anos, em 30 de dezembro do ano passado.

A costureira M.S.P., 47 anos, ficou chocada ao saber que o serial killer (assassino em série) morava tão perto de sua residência. O seu filho, 16 anos, foi outro que, por muito pouco, não caiu na lábia do pedreiro. ;Meu filho sempre gostou de trabalhar, apesar de novo. A sorte é que ele estava ajudando na cozinha de uma padaria e não aceitou o convite dele para cavar um buraco. Isso ocorreu menos de uma semana depois que o quarto garoto (Divino Luiz Lopes da Silva, 16 anos) desapareceu. Cheguei a passar mal quando soube que esse monstro quis fazer mal ao meu filho;, contou.

O delegado regional de Luziânia, José Luiz Martins, afirmou que a polícia já ouviu vários depoimentos de jovens que foram abordados por Adimar e que eles contribuíram para ratificar a culpa do pedreiro. ;Identificamos que o Adimar tinha realmente uma rotina de aliciar adolescentes naquela região;, ressaltou.

Os nomes de todos os adolescentes citados nessa reportagem são fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)



Depoimento
;Tenho muita raiva dele;

;Dois amigos meus, o Diego e o Marcinho (Márcio Luiz de Souza), estavam desaparecidos há muito tempo. Desconfiava de todo mundo estranho que me pedia informação, mas não dele, porque morava quase em frente à minha casa. Teve um dia que ele estava capinando e perguntou se eu não queria ajudá-lo para ganhar R$ 20. Não fui porque estava indo para a escola. Uma semana depois, ele perguntou novamente se eu queria ganhar um dinheiro. Novamente não pude ir. Hoje, dou graças a Deus por estar vivo, mas tenho muita raiva dele. Ele matou meus dois amigos e merece ficar a vida toda na cadeia;.
Daniel*, 16 anos