Em um resultado atípico para o início do ano, a indústria do Distrito Federal deu sinais de crescimento em fevereiro. O faturamento do setor aumentou 3,7% na comparação com janeiro e 17,54% frente ao mesmo período de 2009. A utilização da capacidade instalada (UCI) alcançou 66,49%, a melhor performance para o mês desde 2004, quando a Federação das Indústrias do DF (Fibra) começou a medir os indicadores industriais. Apenas a variável de emprego apresentou um esperado desempenho negativo, com recuo de 1,28% em relação ao mês anterior.
Os dados divulgados ontem surpreendem porque, após diminuir o ritmo no fim do ano, a indústria costuma retomar a expansão somente a partir de abril. Desta vez, houve avanço em janeiro e fevereiro, contrariando a tendência de queda. O faturamento acumulado expandiu 11,54%, ante o primeiro bimestre do ano passado. O cenário positivo, na avaliação de técnicos da Fibra, reflete a ampliação nas condições de crédito, o aumento da renda e a queda na taxa de desemprego no DF.
Em fevereiro, mês com o menor número de dias úteis do ano, quatro dos seis segmentos pesquisados registraram variação positiva no faturamento. O destaque ficou com o grupo ;outras indústrias;, que inclui as fábricas de vidro, em franca expansão nos últimos dois anos. ;Para segurarmos a concorrência externa, tornamos os preços mais competitivos e, por isso, as vendas não param de crescer;, explicou Geraldo Campolina, da Vitral, localizada no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA).
As fábricas de produtos de metal, de móveis e de edição e impressão também faturaram mais que em fevereiro de 2009 (veja quadro). Todos os segmentos aumentaram a utilização da capacidade instalada. O indicador médio da UCI ficou 2,03 pontos percentuais acima da taxa de janeiro e superou em 2,83 pontos o índice do mesmo período do ano passado. ;Os números mostram que 2010 tem tudo para ser um ótimo ano para a indústria;, disse o presidente da Fibra, Antônio Rocha.
Mesmo com a variação negativa em fevereiro, em relação ao mês anterior, o emprego industrial cresceu 5,25% na comparação com 2009. No acumulado do bimestre, o indicador aumentou 3,89%, frente aos dois primeiros meses do ano passado. ;A queda do emprego no mês pesquisado foi o único dado que não surpreendeu;, comentou o coordenador da pesquisa, o economista Diones Cerqueira. O resultado é explicado pelo fim das contratações temporárias.
A indústria responde por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do DF. Em 2009, ano pós-crise econômica mundial, a Fibra previu um crescimento médio de 7% no faturamento do setor. O índice ficou em 3%. As previsões para o nível de emprego e para a UCI também não se confirmaram. Este ano, a entidade aposta novamente em um aumento de 7% no faturamento e de 4% no emprego, além de um percentual de UCI em torno dos 70%.
Medo da crise
Os empresários da indústria da construção civil temem as consequências das indefinições políticas no governo do DF, um dos principais clientes. Números também divulgados ontem pela Fibra mostram que o segmento está aquecido. No entanto, os indicadores referentes às expectativas para os próximos seis meses indicam um cenário de preocupação. O índice de atividade do setor alcançou no DF 63,1 pontos, frente aos 67,3 pontos da média nacional. Em relação a novos empreendimentos e serviços, o otimismo também ficou aquém: 60,3 pontos no DF, ante 67,40 pontos da média brasileira.
Desde que estourou a Operação Caixa de Pandora, em novembro do ano passado, obras públicas foram desaceleradas, segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Elson Ribeiro. ;Os trabalhos não estão no ritmo em que deveriam estar. Se continuar essa indefinição, as demissões vão começar a acontecer;, disse. ;Com certeza, a crise política influencia no dia a dia do setor. Houve um certo recuo nos investimentos;, completou o presidente da Fibra, Antônio Rocha.