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Defesa de acusado da Operação Shaolin pedirá habeas corpus contra investigações

A defesa de João Dias Ferreira, apontado como líder de uma quadrilha que desviava recursos do Ministério do Esporte em Brasília, vai tentar interromper na Justiça as investigações da Operação Shaolin. Na quinta-feira da semana santa (1;/4), a Polícia Civil do DF prendeu na sede da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco) cinco pessoas suspeitas de participação em esquema que resultou num prejuízo de R$ 2 milhões para o programa Segundo Tempo do governo federal. Os acusados foram soltos na última segunda-feira, após prestarem depoimento. Em liberdade, vão tentar evitar as apurações em âmbito local.

Ex-desembargador do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, o advogado Wellington Medeiros vai entrar com um habeas corpus no TJDFT para trancar as investigações da Shaolin alegando falta de competência da Polícia Civil e do Ministério Público em Brasília para investigar os convênios assinados entre a União e as duas associações comandadas pelo policial militar João Dias ; a Federação Brasiliense de Kung-Fu (Febrak) e a Associação João Dias de Kung-Fu. ;O que se discute são convênios firmados com o governo federal, que já instaurou procedimentos como a tomada de contas especial e a ação no Ministério Público Federal para lidar com as suspeitas de irregularidade;, lembrou Medeiros.

Patrimônio
O advogado suspeita que interesses políticos estejam por trás da Operação Shaolin: ;Se as investigações federais estão em curso há mais de um ano, não se justifica que só agora, justamente em período de eleições, o assunto seja retomado no DF por meio dessa ação espetaculosa;, considerou Wellington Medeiros. Inquérito policial aponta que, de R$ 2,99 milhões repassados desde 2006 às entidades não governamentais ligadas a João Dias, R$ 2 milhões teriam sido desviados. Uma das suspeitas é de que parte do dinheiro tenha sido incorporado ao patrimônio de João Dias, que mora em uma luxuosa casa em Sobradinho e mantém duas academias de ginástica na cidade.

O policial militar disputou as eleições em 2006 pelo PCdoB, quando já estava em vigor um dos convênios com o governo federal. Ele pertencia à mesma chapa de Agnelo Queiroz, hoje candidato ao GDF pelo PT. Na época do convênio, Agnelo era ministro do Esporte e também filiado ao PCdoB. O diretor da Polícia Civil, Pedro Cardoso, diz que não há elementos suficientes para caracterizar vínculo político no esquema apurado pela Shaolin. ;Não nos interessa mostrar ou chegar a qualquer ligação política, não é esse o papel da polícia, nos amparamos em elementos técnicos;, afirmou Cardoso.

Durante depoimento na Deco, Dias tentou justificar o patrimônio que, segundo as investigações da polícia e do MP, seria incompatível com a renda do PM. Afirmou que parte do dinheiro aplicado na construção da casa onde mora, avaliada em R$ 2 milhões, veio da herança de família. As informações serão confrontadas com indícios de que João Dias teria desviado a mesma quantia por meio da confecção de 49 notas no valor de R$ 1.999.850,58 emitidas pelas empresas Infinita e Serviços Gerais Ltda. e JG Comércio de Alimentos Preparados e Serviços Gerais Ltda. Elas foram apresentadas na prestação de contas ao Ministério dos Esportes. Depois da análise pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil, descobriu-se que as notas eram falsas.