Jornal Correio Braziliense

Cidades

Mais rigor no controle das cirurgias plásticas

A morte de Kelma Gomes, sete dias após uma lipo, deve acelerar protocolo de segurança sobre os procedimentos e resultar num acordo que prevê a preservação de provas em clínicas

A morte de Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos, provocará alterações nas regras e nos procedimentos cirúrgicos ligados à estética e à reparação corporal. Além de acelerar a redação final de protocolo de segurança voltado para a exigência de medidas básicas em intervenções ocorridas no Distrito Federal, a tragédia em torno da mulher que perdeu a vida sete dias depois de passar por uma operação em Goiânia (GO) promoverá modificações na política de preservação de provas em casos semelhantes. As mudanças serão amadurecidas ao longo da semana.

As duas iniciativas envolvem o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), um dos principais responsáveis pela investigação do caso ; a outra apuração segue na 23; Delegacia de Polícia, no P Sul. A segunda delas será tomada por conta de dificuldades para garantir a realização do exame cadavérico de Kelma. O promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Diaulas Ribeiro, impediu a liberação do corpo no mesmo dia da morte, ocorrida na última sexta-feira. Se dependesse de um hospital de Ceilândia e dos parentes da vítima, os restos mortais seriam enterrados sem necropsia.

A interferência da Pró-Vida provocou a revolta dos familiares. Eles acreditam que o desfecho do caso não tem relação com a lipoescultura realizada em uma clínica da capital goiana. Para Diaulas, porém, a situação precisa ser investigada com profundidade ; a mulher passou mal quatro dias depois da intervenção e estava internada no Hospital São Francisco, em Ceilândia, desde terça-feira. Laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) aponta para morte em decorrência de pneumonia e embolia pulmonar. O resultado oficial deve ser conhecido em 15 dias.

Para evitar futuras confusões, Diaulas quer que hospitais, clínicas especializadas e sindicatos médicos candangos assinem um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPDF para evitar liberações de corpos em casos de morte suspeita. ;Vamos fazer isso para segurança e preservação de provas em cirurgias das mais variadas. No caso da Kelma, mesmo havendo suspeita, a família quis fazer o enterro (1). Com esse TAC, vamos impedir a destruição de provas, mesmo que seja feita de boa-fé;, explicou.

A Pró-Vida também se juntou à Vigilância Sanitária do DF, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) para a criação de normas a serem usadas em plásticas realizadas no DF e no Brasil. ;Hoje, as regras não são muito claras. Existem 17 clínicas especializadas em cirurgia plástica no DF. Vamos fazer um pente-fino em todas elas para ver o certo e o errado;, afirmou. As informações serão incluídas em um protocolo de segurança capaz de exigir procedimentos básicos nas operações estéticas realizadas na capital do país (leia quadro).

Reuniões e debates
A morte de Kelma também mobilizará entidades médicas e sindicais de Goiás ao longo da semana. O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) entrou em contato com o MPDF e pediu o envio de informações sobre o caso. Não se descarta, assim, uma possível colaboração do órgão na investigação. A vítima se submeteu à operação no Hospital Goiânia Leste, no Setor Universitário, em Goiânia. O médico responsável é membro associado da SBCP. Tem pelo menos 11 anos de experiência profissional e detém o título de especialista em cirurgia plástica.

O Cremego também deve participar de encontro promovido em caráter de urgência pelo

SBCP. A reunião servirá para debater a frequência com que mulheres perdem a vida na Região Centro-Oeste por conta de intervenções estéticas. Pelo menos nove ; cinco em Goiás e quatro na capital do país ; não resistiram a procedimentos cirúrgicos realizados na última década.

Kelma assessorava o ministro das Cidades, Márcio Fortes, havia oito anos. Era casada e deixou dois filhos, de 3 e 8 anos. A família mora no Setor O, em Ceilândia. Ela se submeteu a uma lipoescultura às 6h30, em 26 de março. Recebeu alta e voltou de carro para Brasília, acompanhada do marido, às 8h do dia seguinte.

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Comoção
O velório e o enterro de Kelma ocorreram no fim da tarde de sábado no Cemitério de Taguatinga. A tia da vítima, Leila Cardoso, 47 anos, contou que a sobrinha consultou especialistas em Brasília e em Goiânia antes de realizar a operação. O cirurgião do hospital goiano teria sido o único a concordar com a plástica na barriga de Kelma.

Mudanças previstas

O Ministério Público do DF quer reforçar as regras das cirurgias estéticas e de reparação. Confira alguns pontos em discussão:

As operações de lipoescultura deverão ocorrer somente em clínicas que tenham Unidade de Terapia Intensiva (UTI) à disposição.

O paciente contará obrigatoriamente com dois médicos de prontidão na sala de operação. Além do cirurgião plástico, pode-se exigir a presença de um clínico geral para agir em caso de emergência.

As clínicas terão de reservar um banco de sangue exclusivo para quem for se submeter a qualquer intervenção cirúrgica.