Jornal Correio Braziliense

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Shopping Iguatemi atrai 10 mil clientes na estreia

A maioria das pessoas foi levada pela curiosidade em conhecer o shopping mais luxuoso da capital federal, instalado no Lago Norte


Muita gente e poucas sacolas no primeiro dia de funcionamento do Iguatemi Brasília, aberto ontem ao público, no início do Lago Norte. Quem visitou o shopping queria mesmo era matar a curiosidade. Às 10h, quando a entrada foi liberada, havia fila de carros no estacionamento. Menos de 20 minutos depois, os corredores já estavam movimentados, e assim permaneceram até o fim da noite. A administração calcula que cerca de 10 mil pessoas passaram pelo centro de compras, ainda inacabado.

Homens e máquinas continuam trabalhando nos arredores do shopping, onde montes de areia e entulho se acumulam. Faltam concluir o paisagismo e a sinalização. Cerca de 20% das lojas, incluindo três âncoras, não ficaram prontas no prazo previsto. Em alguns pontos, sente-se cheiro de tinta e ouve-se o barulho de furadeiras. Ontem, fios e tábuas eram carregados de um lado para o outro. Funcionários se apressavam para terminar as vitrines.

Duas das seis salas do cinema começam a exibir filmes nesta sexta-feira. As demais, somente na próxima semana. A administração espera que todas as lojas estejam abertas antes de junho. Na praça de alimentação, mais da metade dos 20 restaurantes estão fechados. O Iguatemi é menor que o ParkShopping e o Conjunto Nacional, em tamanho e número de operações.

Com 39 grifes inéditas, o empreendimento, resultado de parceria entre as Organizações PaulOOctavio e a Empresa Iguatemi de Shoppings Centers, surgiu com a promessa de ser o mais luxuoso centro comercial da cidade. O início da construção, dois anos e quatro meses atrás, valorizou imóveis e terrenos no bairro. Agradou a moradores carentes de opções de lazer e irritou outros, que temem principalmente problemas no trânsito.

Delza Andrade não precisou de carro para chegar ao Iguatemi na manhã de ontem. Moradora da QL 2 há três décadas, a aposentada de 76 anos se programou e caminhou menos de 2km, acompanhada da irmã Dilma, 66, para conhecer o novo shopping. ;Estou muito radiante com isso aqui;, disse Delza, de tênis e camiseta. ;Você viu como tem gente bem arrumada aqui? A gente veio desse jeito só porque estava mexendo no jardim;, completou.

Curiosidade
Os amigos Ítalo Mello e João Costa de Alencar, ambos de 14 anos, passeavam pelo shopping com o uniforme da escola onde estudam, no início do Lago Norte. Eles contaram que terminaram a prova de geografia e decidiram ver o Iguatemi de perto. Depois de andar pelos corredores, pararam na praça de alimentação e tomaram um sorvete. ;É cabuloso demais este shopping;, repetia João. ;Mas é tudo caro. Tem gente famosa aí?;, completou Ítalo, emendando na pergunta.

Na volta para casa depois das aulas na universidade, os irmãos Bernardo, 19 anos, e Bárbara Castro, 21, moradores do Lago Norte, viram o movimento e pararam para conferir o luxo prometido pelo Iguatemi. ;Tem que ter muito dinheiro para comprar aqui;, observou o estudante de psicologia, após uma rápida olhada nas vitrines. ;Para elas, isso aqui é perdição;, acrescentou, referindo-se às mulheres. ;Hoje, a gente veio só olhar;, despistou a irmã.

Como era de se esperar, moradoras do Lago Sul atravessaram a cidade para visitar o Iguatemi na primeira manhã de funcionamento. Pompeia Addário, 60 anos, entrou pela ala da Louis Vuitton, loja frequentada por ela nas viagens à Europa. ;O shopping em si não tem nada de diferente. A novidade está nas marcas;, comentou a decoradora, que planeja ir ao novo centro comercial pelo menos duas vezes por mês. Ontem, não comprou nada. ;Mas me segura, me segura;, brincava ela, em frente à Le Lis Blanc.

A empresária Mariangela Cardoso, que também vive no Lago Sul, foi uma das poucas pessoas que saíram do shopping na manhã de ontem de sacolas nas mãos. Ela chegou ao Iguatemi às 11h e, menos de uma hora depois, saiu com um sapato de R$ 2,2 mil da Louis Vuitton. ;Maravilhoso, o shopping me surpreendeu;, afirmou ela, que não quis dizer a idade. Nas vitrines da primeira loja da grife francesa em Brasília, as bolsas variam de R$ 1 mil a R$ 5 mil.



O número
R$ 250 milhões

Previsão de faturamento do Iguatemi Brasília no primeiro ano de funcionamento





Palavra de especialista
Referência de requinte

"O Iguatemi está provocando dois efeitos: o de ser um ambiente novo e, ao mesmo tempo, luxuoso. O fato de ser novo já provoca um interesse natural nas pessoas. Independentemente de ter luxo ou não, é uma novidade. Quem passava ali, a pé ou de carro, alimentava uma curiosidade em conhecer o lugar. Além disso, vivemos numa sociedade de consumo. E o shopping é a grande referência nesse sentido, ainda mais aqui em Brasília, onde a população possui a maior renda per capita do país. Público para o que o Iguatemi se propõe existe e ele não abriu as portas sem ter certeza disso. Claro que o shopping, hoje em dia, é um ambiente também de lazer, para onde as pessoas vão sem necessariamente comprar. O público não é fixo. O fluxo de quem está visitando o shopping neste início por causa da novidade tende a diminuir, mas os que vão para comprar continuarão indo."
Rafael Porto
, professor e pesquisador do programa de pós-graduação em administração da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em comportamento do consumidor