Da perda do mandato de governador à saúde debilitada; do fim dos privilégios à manutenção da prisão de José Roberto Arruda. A história do escândalo que sacudiu a capital completa hoje quatro meses e coincide com o desmoronamento de todas as relações de poder erguidas durante a gestão de Arruda. Desde que a Polícia Federal deflagrou a Operação Caixa de Pandora, em 27 de novembro de 2009, o ex-governador viu da prisão(1) a derrocada de um governo eleito no primeiro turno das eleições de 2006. Mas que termina envolto em suposto esquema de corrupção e pagamento de propina.
Dos 121 dias que separam hoje de 30 de novembro do ano passado, os últimos 30 deixaram o Distrito Federal marcado por decisões judiciais, incertezas políticas e ineditismos constitucionais. A capital do Brasil despencou junto com o ex-chefe do Executivo local. As principais derrotas dele no período ocorreram no âmbito do Judiciário. A maior delas, em 16 de março, quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE)(2) lhe tirou oficialmente do cargo (leia quadro ao lado). No dia 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia recusado, por unanimidade, o pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados do ex-governador.
A Caixa de Pandora, assim, mudou o cenário político e administrativo da capital do Brasil. Há um ex-governador e cinco aliados próximos presos e sem direito a recorrer a foro privilegiado; O vice, Paulo Octávio, assumiu o governo, mas renunciou 12 dias depois; e um deputado distrital à frente do Executivo local ; Wilson Lima (PR), cotado pelos próprios colegas como favorito para vencer a disputa eleitoral indireta na Câmara. Os respingos da crise institucional também atingiram o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF). O procurador-geral de Justiça do DF e uma promotora são citados pelo recebimento de dinheiro em suposta troca de privilégios e favorecimentos.
A bomba que caiu sobre o Distrito Federal se chama Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais. As denúncias, feitas à Polícia Federal com base em delação premiada, envolveram dezenas de autoridades. Além das duas figuras mais importantes do Executivo, Arruda e Paulo Octávio, a investigação aberta por conta da Operação Caixa de Pandora atinge diretamente 12 dos 24 integrantes do primeiro escalão do GDF, um terço da Câmara Legislativa e o único representante do TCDF nomeado por Arruda: Domingos Lamoglia. A operação colocou sob suspeita contratos que somam R$ 500 milhões.
Disputa eleitoral
Desde as denúncias de Durval, cargos importantes no governo local e na Câmara acabaram sem titulares ; e mais tarde substituídos ; por conta de um efeito dominó. Houve ainda três operações policiais realizadas por conta das informações prestadas por Durval. Foi uma tentativa de suborno, porém, que resultou na prisão de Arruda. O ex-chefe do Executivo local acabou acusado de tentar atrapalhar as investigações da Polícia Federal depois que o ex-conselheiro do Metrô-DF Antônio Bento entregou uma sacola com R$ 200 mil ao jornalista Edson Sombra. Policiais monitoraram a negociação.
[SAIBAMAIS]Apesar da série de mudanças e transformações, o DF vive a expectativa por conta das eleições indiretas para governador. A alternativa de se fazer um novo pleito no DF ganha força em detrimento da possibilidade da primeira intervenção federal no país ; o pedido foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Enquanto a intervenção não é julgada, a Câmara Legislativa se organiza em torno da disputa eleitoral. As regras foram definidas pelos deputados distritais, assim como a data: 17 de abril.
1 - Detido
O ex-governador Arruda está preso na Superintendência da Polícia Federal desde 11 de fevereiro. São 44 dias detido no Setor Policial Sul, onde recebe poucas visitas além dos defensores e da mulher, Flávia. Deixou o local apenas para exames médicos. Em uma das vezes, precisou se submeter a um cateterismo no Hospital das Forças Armadas (HFA).
2 - Infiel
Com um placar apertado, o destino político de Arruda acabou decidido por um voto, o de desempate, proferido pelo desembargador Lecir Manoel da Luz. Por quatro a três, venceu a tese do Ministério Público Eleitoral de que Arruda cometeu infidelidade partidária ao se desfiliar do Democratas para evitar o processo interno de expulsão.