O Memorial dos Povos Indígenas inaugurou ontem uma sala de inclusão chamada Estação Digital Mário Juruna. Ela conta com 10 computadores, com acesso à internet, webcam, fone de ouvido, microfone e impressora. O espaço será utilizado a partir da primeira semana de maio para ensinar informática gratuitamente aos índios da capital federal. O benefício alcançará tanto estudantes quanto indígenas que estejam em Brasília a passeio ou trabalho. Pessoas carentes e alunos de escolas públicas também poderão frequentar as aulas, desde que haja vagas. Os índios receberão um diploma ao fim do curso, que terá duração de um mês.
Segundo o gerente do Memorial, Marcos Terena, essa é uma oportunidade de os índios se capacitarem para entrar no mercado de trabalho. ;Além de ser uma atividade inclusiva, o uso da ferramenta tecnológica propiciará a afirmação da própria cultura;, ressaltou. Com o aprendizado, a expectativa é de que os índios levem o conhecimento para a tribo de onde vieram. Essa pelo menos é a ideia de Auakamu Kamayurá, 20 anos. O jovem mato-grossense chegou a Brasília há um ano, em busca de uma vida melhor, mas não sabe utilizar a internet e as ferramentas do Windows. ;Tem muitos índios que eu conheço que querem aprender, mas não têm oportunidade. Acho que a partir de agora vou ampliar meus conhecimentos e ensinar para muita gente;, disse.
Anita Tikuna, 39 anos, deixou a comunidade do Alto Solimões, no Amazonas, há quatro anos, quando resolveu se mudar para Brasília com a família para estudar. Cursa linguística na Universidade de Brasília (UnB), mas ainda não se adaptou ao computador e à modernidade da linguagem digital. ;Tinha medo de quebrar alguma coisa, mas tenho muita vontade de entrar no mundo e me atualizar. É sempre interessante aprender mais um pouco para quando eu voltar para a aldeia ensinar o meu povo. A comunidade precisa de alguém que ensine informática;, contou.
As aulas serão ministradas por dois jovens monitores de escola pública que foram selecionados pela gerência do Memorial dos Povos Indígenas. Eles receberão uma bolsa de R$ 300 e, durante todo o mês de abril, passarão por um treinamento. Por enquanto, duas turmas de 10 alunos cada já estão formadas. Destes, cerca de 15 são índios que irão fazer o curso com duas horas de duração, duas vezes por semana. As aulas estão previstas para maio, das 14h às 18h e, além de informática, os jovens poderão fazer pesquisas diversas, principalmente relativas à história dos índios no Brasil.
A estação digital foi montada com um investimento de R$ 39,9 mil, graças ao apoio da Fundação Banco do Brasil, por meio do Programa de Inclusão Digital. O objetivo é capacitar pelo menos 200 pessoas ao ano. Existem outras três estações voltadas para índios no Oiapoque, em Macapá (ambas no Amapá) e em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
Doações
Os jovens ainda não têm apoio para o lanche durante os intervalos do curso. Quem quiser ajudar com doação de pães, suco ou outros alimentos pode ligar para 3664-5917 ou 3342-1156
Antes, um museu
O Memorial dos Povos Indígenas fica no Eixo Monumental, de frente para o Memorial JK. A visitação mensal é de 3,5 mil pessoas. O prédio, projetado por Oscar Niemeyer em forma de maloca redonda dos índios Yanomami, foi construído em 1987, mas por muitos anos foi utilizado como museu de arte moderna. Somente em 16 de abril de 1999 ele começou a funcionar de forma definitiva.