As mães dos seis jovens desaparecidos de Luziânia, município goiano localizado a 66 km da capital do país, virão a Brasília pela quarta vez este ano. Elas foram convocadas para participar de uma audiência pública no Senado Federal, na quarta-feira próxima (24/3), com a participação de integrantes da Comissão dos Direitos Humanos da Casa, do ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, além do secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller. As famílias vão aproveitar a sessão para pedir mais apoio das autoridades federais a elas.
Uma das propostas que vão apresentar no Senado será a criação de um Fundo de Amparo às Famílias de Vítimas de Desaparecimento. Isso porque algumas mães deixaram o trabalho para se dedicar exclusivamente às buscas dos filhos desaparecidos há, pelo menos, dois meses e meio. Hoje, o único tipo de ajuda a que os familiares de desaparecidos têm direito é o acompanhamento psicológico. Mas nem isso as mães de Luziânia receberam até o presente momento.
Desde que o filho Diego Alves Rodrigues, 13 anos, sumiu, em 30 de dezembro de 2009, a costureira autônoma Aldenira Alves de Sousa, 51 anos, moradora do Parque Estrela Dalva 4, tem recusado qualquer serviço para fazer. Em contrapartida, os gastos com a peregrinação atrás do filho só aumentaram. ;Em cada lugar que a gente vai, é sempre um litro a mais de gasolina, um lanchinho, almoço;, enumera a filha mais velha dela, Gláucia Gomes de Sousa, 25.
A situação mais crítica é a da dona de casa Sirlene Gomes de Jesus, 42 anos. Com o sumiço de George Rabelo dos Santos, 17, o medo tomou conta da família dela. Eles estão desesperados para mudar, mas alegam falta de condições financeiras. A casa onde moram ; no Parque Estrela Dalva 8 ; está situada perto de uma mata fechada. A iluminação pública é insuficiente. Além disso, o imóvel de paredes apenas rebocadas não tem qualquer segurança. As portas não fecham e não há muro em volta da residência. ;Preciso mudar daqui;, apela.
Interpol
Depois de conseguir apoio da Polícia Federal no caso, as mães querem agora a ajuda da Interpol ; Organização Internacional de Polícia Criminal ; com sede na França. O pedido delas também vai ser analisado na audiência da semana que vem. Por enquanto, somente os dados dos jovens estão na rede da polícia internacional. ;A gente acha que eles não estão mais aqui;, admite a servidora pública Sônia Vieira Lima, 45 anos, mãe de Paulo Victor, 16, desaparecido desde 4 de janeiro.
Na mesma sessão de quarta-feira no Senado, as mães também vão propor a criação de uma delegacia nacional de desaparecidos. A ideia é fazer com que os dados sejam disponibilizados num mesmo sistema para facilitar o acesso de polícias de outros estados. ;Isso dará mais agilidade nas investigações;, explicou Sônia.
A audiência pública foi proposta pelo presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Senado, senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Foram requisitados relatórios das polícias Civil (GO) e Federal, responsáveis pelo inquérito, sobre os passos tomados até o momento por essas duas corporações. A audiência tem o poder de recomendar novas diligências, caso sejam necessárias.