O contraste da pele clara com os arranhões e a rouxidão em volta do nariz, dos olhos e na testa do pequeno Rafhael Henrique Lacerda, 7 anos, é resultado de uma dolorosa viagem de ônibus, na tarde de segunda-feira última. Ele foi arremessado para fora do veículo da Viação Pioneira, que ainda estava em movimento, e caiu com o rosto no chão, próximo à sua casa, no Vicente Pires. Testemunhas afirmam que o motorista foi imprudente ao manobrar até a parada onde o garoto desceria.
Rafhael retornava da escola na companhia dos irmãos Stephanne, 18 anos, Gabriel, 15, e Samuel, 11. Além dos arranhões no rosto e nos cotovelos, o garoto ostenta um ;galo; na testa e há suspeita de fratura do osso do nariz. Em 15 dias, terá de voltar ao hospital para confirmar se precisará imobilizar a área. Ontem, o projetista Paulo Lacerda, 40 anos, pai do estudante, foi ao Instituto de Medicina Legal (IML) para exame de corpo de delito no menino.
Aluno do segundo ano do ensino fundamental do Sesi de Taguatinga Norte, Raphael usa a linha 43 da Viação Pioneira, que faz Vicente Pires, Taguatinga e P Sul, quando o carro do pai, um Fiat Uno modelo 1993, não está em boas condições de uso. Nesta semana, Paulo Lacerda optou por mandar os meninos de ônibus para o colégio já que o motor do veículo apresentava problemas.
Rafhael, Stephanne, Gabriel e Samuel subiram no coletivo de número 404578 às 18h em frente ao Sesi. Vinte minutos mais tarde chegavam à parada de ônibus na travessa das ruas 4-A com a 3, a cerca de 150 metros da porta de casa. Segundo relato de Rafhael à polícia, ele e os irmãos deram o sinal pedindo para descer e se posicionaram próximos à porta de saída do carro.
Manobra brusca
Antes de parar no ponto, o motorista teria aberto a porta e, em seguida, feito uma manobra brusca para a direita, em direção à parada. ;Parecia um carro de corrida;, comparou o estudante ao Correio. O garoto garante que segurava as barras de segurança com as mãos, mas não aguentou por causa da força do movimento. Ele voou para fora pela porta e caiu de cara no barro vermelho. ;Se ele tivesse caído no asfalto, não teria a mesma sorte;, disse Paulo Lacerda.
Segundo o pai, um motorista que passava no local anotou a placa e os números do ônibus e os entregou à família da vítima. ;Ele (testemunha) tentou parar o motorista para chamar-lhe a atenção, mas não conseguiu;, relatou Lacerda. O projetista prestou queixa na 38; DP, em Vicente Pires. ;Não sei o que fazer, porque eles vão ter que continuar indo de ônibus para a escola;, lamentou.
A assessoria de imprensa da Viação Pioneira disse que o garoto poderia estar sentado na escada junto à porta de saída e por isso teria caído. O motorista prestou esclarecimentos à empresa e negou ter feito qualquer movimento fora do normal. A assessoria garantiu que a Pioneira arcará com as despesas de medicamentos e acionará o seguro DPVAT a que Rafhael tem direito.
Memória
Situações semelhantes
Em fevereiro último, a manicure Salete Pinheiro da Silva, 38 anos, foi arremessada para fora de um ônibus em movimento, em Porto Alegre (RS). O veículo estava lotado e ela se encontrava no segundo degrau da escada quando o condutor deu a partida e fez uma curva fechada em alta velocidade. Salete caiu de costas para a porta, que não aguentou o impacto e se abriu. Por sorte, a manicure não foi atropelada. Salete sofreu escoriações pelo corpo, mas sem fraturas graves. Há três dias, em Salvador (BA), um estudante de 23 anos morreu em circunstâncias semelhantes. O universitário Anderson Jacinto Bezerra caiu do ônibus após uma manobra do motorista. Como a porta ainda estava aberta, o estudante bateu com a cabeça no asfalto e morreu no local. A namorada, que o acompanhava, já havia passado da catraca e não percebeu que Anderson caíra. O condutor pode ser indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). (DB)
Onde denuncia
156: número de telefone para reclamações contra motoristas
de ônibus públicos