O Distrito Federal vive sua pior epidemia de dengue de todos os tempos. As palavras são do subsecretário de Vigilância à Saúde, Allan Kardec. Ontem, a Secretaria de Saúde divulgou que já são 1.956 casos confirmados da doença, número 1.503% maior ao do começo do ano passado. São 415 registros a mais que na semana passada. Diante desse aumento nas estatísticas, técnicos da área de saúde fizeram pesquisas nos anos anteriores e não encontraram situação semelhante. ;Estamos sobressaltados;, admite Kardec.
Para combater o problema, o gabinete de crise, antes a cargo da subsecretaria administrada por Kardec, ficará sob o comando do próprio secretário de Saúde, Joaquim Barros, a partir da próxima terça-feira. A Secretaria de Saúde também discute a realização de um dia de consciência da luta contra a dengue. Nessa data, que será marcada para o começo ou para meados de abril, a imprensa será convocada, serão distribuídos panfletos e estão previstas mobilizações nas comunidades.
De acordo com o assessor da Subsecretaria de Vigilância à Saúde, Aílton Domício da Silva, a pior epidemia da doença havia sido registrada em 2002, em São Sebastião. O mais grave do momento atual, afirma ele, é que o número de registros confirmados é maior e a doença se alastrou por várias regiões do Distrito Federal. ;A situação não está fora de controle, mas é preocupante;, garante.
Subestimados
O quadro pode ser ainda mais grave do que os números oficiais demonstram. Segundo o subsecretário Allan Kardec, a quantidade de pessoas doentes pode estar subestimada, devido à subnotificação, o que quer dizer que pessoas infectadas ou até mesmo postos e hospitais não estariam repassando os dados aos serviços de saúde e à Vigilância Ambiental.
Dos 11 óbitos que podem ter relação com a doença, dois foram confirmados, quatro descartados e cinco continuam sob investigação. A região que mais concentra notificações continua sendo a Asa Norte, incluindo a Vila Planalto, com 588 casos confirmados. Planaltina é a segunda colocada, com 299 casos (veja quadro).
A família de Márcia Cristina Pereira é exemplo do avanço da doença em Planaltina. Há 10 dias, uma das filhas dela, Mayra Pereira, 19, reclamou dos primeiros sintomas da doença. Na manhã seguinte, foi levada ao posto de saúde. No primeiro exame, feito no Hospital Regional de Planaltina, o médico não deu nenhum diagnóstico. Dias depois, ela procurou atendimento no posto de saúde do bairro Jardim Roriz, onde mora. Passou por uma análise clínica e foi encaminhada de volta ao Hospital Regional de Planaltina, para fazer os exames recomendados a fim de obter a confirmação da doença.
Segundo Márcia Pereira, que é coordenadora de uma escola de educação infantil, a família não foi avisada de que seria preciso aguardar 10 dias para realizar o exame sorológico de Mayra. Outra queixa é que não houve orientação sobre reidratação, uso de repelentes e outras medidas para diminuir riscos e incômodos da doença. Márcia, suas duas filhas, sua irmã e um genro já foram infectados pelo mosquito da dengue. ;A muriçoca picou todo mundo e fez o oba-oba;, conta.
A família acrescenta que, este ano, ainda não recebeu a visita de agentes de Vigilância Ambiental e que a rua não é rota dos carros de aplicação de fumacê. Funcionários do posto do Jardim Roriz garantiram que eles estão aptos a lidar com a doença e que os casos mais graves são prioridade. O gerente de Vigilância Ambiental, Laurício Monteiro Cruz, afirmou que a região onde Márcia mora será incluída nas próximas visitas de agentes e no percurso em que é feita a nebulização de inseticida.
A escalada da doença
4.294
casos suspeitos em todo o DF
1.956
casos confirmados
Onde a dengue mais assusta:
Asa Norte (incluindo a Vila Planalto) - 588 casos confirmados
Planaltina - 299
Itapoã - 256
São Sebastião - 127
Paranoá - 99
Guará - 87