Mesmo com os ovos de chocolate mais caros, o comércio espera uma Páscoa melhor do que a do ano passado. Os produtos estão expostos em parreiras montadas em lojas e supermercados. Para chamar a atenção dos clientes, inventaram até ovos quadrados. Os empresários estimam um faturamento médio 11,44% superior ao de 2009, segundo levantamento divulgado ontem pelo Instituto Fecomércio do Distrito Federal. As chocolaterias são as mais otimistas: acreditam em uma alta de 19,27%.
A disparada do preço do açúcar é a explicação dos fornecedores para o reajuste de 2010. A Fecomércio ouviu 45 empresários dos segmentos de supermercados, produtos alimentícios, lojas de departamento, além das chocolaterias. Eles revelaram que houve um aumento médio de 2,29% no preço dos ovos. Mas, nas prateleiras, alguns produtos estão sendo repassados aos consumidores até 12% mais caros em comparação à última Páscoa. As empresas chegam a trabalhar com um lucro de 35% sobre o valor cobrado pelas distribuidoras.
Os dados da Fecomércio mostram que 66,7% dos empresários apresentarão novidades aos consumidores. Exemplos: ovos com brinquedos de desenhos animados da moda, em forma de coração e de cenoura e com recheios inusitados, como damasco, castanha e soja. Até o domingo de Páscoa, 4 de abril, devem ser vendidos no DF cerca de 1,6 milhão de ovos, de acordo com estimativa do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF).
Em média, os ovos industrializados variam entre R$ 10 e R$ 60, a depender da marca, do recheio e do tamanho. Os artesanais costumam sair mais em conta e ainda podem ser personalizados pelo cliente. Fazer o ovo em casa é outra opção para quem quiser escapar da alta dos preços. A produção caseira também custa, em geral, bem mais barata. O preço médio de um ovo de 240g ; R$ 16 ; é o mesmo de uma barra de 1kg de chocolate da mesma marca.
Receitas não faltam na internet. Além da matéria-prima bruta, serão necessárias formas para moldar o ovo, um pouco leite e pronto. Não há muito mistério. Claro que mais itens podem incrementar o produto final. A técnica em enfermagem Cláudia Cristina Pereira, 41 anos, nunca arriscou fazer ovo em casa. Mas se previne para não cair no que chama de armadilha da embalagem. Mãe de três filhos, ela é provocada a comprar os ovos mais caros, apenas porque são do Ben 10, do Hot Whells ou da Hello Kitty, personagens infantis que estão em alta no gosto da criançada.
Com folhetos de lojas especializadas na bolsa, ela compara: ;Esse aqui é rosinha também e custa R$ 10 a menos. Minha filha vai ter que querer;. Cláudia calcula que gasta pelo menos R$ 150 com ovos a cada Páscoa. ;A cada ano, tento eliminar um afilhado da lista;, diz. Deixar de presentear, principalmente as crianças, ela acredita que não seja possível. Mas defende a pesquisa de preço. ;A gente acaba se prendendo às festas. Não tem jeito. Mas é preciso dar um jeito de economizar.;
O poder da data
Os empresários sabem do poder da Páscoa e da rentabilidade que ela pode trazer. Gustavo Morais, da loja Rei das Embalagens, na W3 Sul, encomendou 35 toneladas de chocolate este ano ; 10 toneladas a mais do que em 2009. ;Nesta época, aumentamos o faturamento em até 20%;, conta. Para enfrentar a concorrência, ele garante que as barras de chocolate vendidas por ele são as mais baratas do DF. ;Pesquisei em todos os lugares e fiz questão de colocar nem que fossem centavos abaixo do preço do mercado;, completa.
As vendas na Páscoa superam as das semanas de Cosme e Damião e do Dia das Crianças. ;É a melhor época para esse segmento;, diz o presidente da Fecomércio-DF, Adelmir Santana. A reposição dos estoques nas empresas atacadistas começou em novembro. A contratação de mais funcionários também. O levantamento da Fecomércio indica que 26,67% dos empresários contrataram temporários. A Garoto, a Lacta e a Nestlé treinam e espalham representantes pelas lojas para turbinar as vendas.
Lojas especializadas em chocolate, as chocolaterias, estão em alvoroço. Na Kopenhagen, a expectativa é vender 30% mais do que em 2009. São sete lojas em Brasília, e uma oitava será inaugurada no fim do mês, no Shopping Iguatemi. A Cacau Show, que tem 19 unidades no DF, estima produzir 1,7 mil toneladas de chocolate em todo o país ; 42% a mais do que no ano passado. O Grupo Pão de Açúcar aumentou o estoque em 10%. Produtos de marcas exclusivas estão custando entre R$ 1,89 e R$ 35.
Impacto das chuvas
O preço do açúcar disparou em todo o país desde o fim do ano passado por conta das fortes chuvas, principalmente na Região Sul, e da quebra da safra da cana em países como a Índia, segundo maior produtor mundial.
Artesanais em alta
Com o aumento do preço dos ovos industrializados, quem trabalha com doces caseiros acredita que as vendas este ano vão superar as expectativas. Os pedidos não param de chegar para Elisa Castro, 29 anos, proprietária da Cioccolateria, empresa familiar que começou a funcionar um ano e meio atrás. Na Páscoa passada, ela calculou que precisaria de 40kg de chocolate. Vendeu o triplo.
Este ano, Elisa investiu, até agora, R$ 4 mil com matéria-prima e equipamentos para preparar os ovos personalizados, os pães de mel e os bolos finos. Animada com a demanda desde o fim do carnaval, ela usa a internet para fazer propaganda dos produtos e conquistar mais clientes. ;As pessoas querem algo diferente. Querem escolher o tamanho e o recheio do ovo, acrescentar um desenho, um nome. Gostam de novidade;, comenta.
Donos de empresas são bons clientes para quem aposta em ovos artesanais. ;Há comerciantes que compram em grande quantidade para presentear os funcionários;, conta Elisa, que já fez cursos de culinária em São Paulo e nos Estados Unidos. ;Esse é um bom mercado em Brasília. Na Páscoa, então, é um estouro;, reforça. Os preços dos produtos artesanais são em média mais baratos. Mas a variação não muda muito. Os ovos vendidos por Elisa, por exemplo, custam de R$ 14 (200g) a R$ 62 (1kg).