Jornal Correio Braziliense

Cidades

População de Planaltina enfrenta dificuldades com a falta de transporte escolar

Em razão da falta de ônibus escolar gratuito, pais e filhos são obrigados a enfrentar sol e chuva para chegar às escolas da região

Pais de família do condomínio Quintas do Amanhecer estão preocupados com o futuro escolar dos filhos. No fim do ano passado, as crianças ficaram sem o transporte escolar gratuito oferecido pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e têm de andar em ruas de terra batida sob o sol quente ou debaixo de chuva para ir e voltar das aulas. Os pais também reclamam que os filhos não têm idade para usar o passe estudantil dado pelo governo. ;A situação fica pior quando chove e minha filha chega molhada e suja de lama no colégio;, reclamou a dona de casa Joanita Rodrigues Alves, 31 anos. Ela acompanha a menina Leiliane Evangelista Alves, 5, todos os dias no caminho para a Escola Classe Aprodarmas.

Os filhos da vendedora Luzineide Alves da Silva, 32 anos, enfrentam o mesmo problema de Leiliane. Todos os dias pela manhã, ela segue com Nicole Lorraine Silva da Costa, 8, André Luiz Alves da Silva, 10, e a sobrinha Tânia Alexandrina de Castro Pereira, 9, o trajeto da Aprodarmas. Eles saem de casa antes das 7h para chegar a tempo da primeira aula. ;Se não sair nessa hora, eles chegam atrasados. Também tive que comprar botas de borracha para usarem em dias de chuva;, contou. A vendedora se diz preocupada com o futuro dos filhos. ;Esse colégio só atende até a 4; série. E depois? Eles vão ter que andar até um colégio ainda mais longe?;.

A empregada doméstica Célia Aparecida de Oliveira, 33 anos, gasta 40 minutos para levar a filha e a sobrinha ao Centro de Ensino Fundamental Mestre D;armas e voltar para casa. ;Eu ando rápido quando estou sozinha, mas com as crianças tenho que ir mais devagar;, disse. Tem dia que o caminho de Célia e das meninas é feito debaixo de chuva. O que mais tem tirado o sono da empregada doméstica é que a filha não pode mais frequentar as aulas de segunda-feira. ;Eu trabalho no fim de semana e só volto para casa na segunda. Não tem ninguém para levá-la ao colégio pela manhã;, lamentou.

A autônoma Cláudia Helena do Rosário Sales, 50 anos, tem cinco netos. Três deles, de 8 e 5 anos, estudam e passam pelas mesmas dificuldades enfrentadas pela filha de Célia. Eles estudam longe, em Planaltina, e não têm mais o transporte escolar gratuito para levá-los à escola. ;Esse passe estudantil que recebemos do governo não resolve o nosso problema. Como uma criança de sete anos vai atravessar a rua e pegar um ônibus sozinha?;, questionou. A saída encontrada pela família de Cláudia foi contratar uma van. ;Pagamos R$ 90 por criança. Fizemos esse sacrifício para mantê-las no colégio;.

Os irmãos Thiago Ludson Silva Navarro, 13 anos, e Sara Silva de Paula, 20, saem do condomínio Mansões do Amanhecer, na mesma região, e seguem até o Vale do Amanhecer para estudar. Ela frequenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ele, a 5; série do ensino fundamental. Para chegar à escola, eles têm de passar por dentro da mata que fica atrás da casa. ;Não saio de casa sozinha. É muito perigoso ir para lá à noite;, diz. Thiago deixou de ir à aula por causa da chuva. ;Uma vez cheguei molhado e a diretora me mandou voltar para casa. Hoje, quando chove eu não vou;, revelou.

Em análise
O gerente de transporte escolar da Secretaria de Educação do DF, José Raimundo Carvalho da Silva, afirmou que o ônibus escolar deixou de ser oferecido aos estudantes do Quintas do Amanhecer porque uma empresa privada assumiu a linha na região e passou a oferecer transporte no horário das aulas. Mas os alunos têm de pagar pelo transporte ou apresentar o passe estudantil dado pelo governo. ;O ônibus escolar passava porque não tinha essa linha rural, mas a empresa concessionária se prontificou;, explicou. José Raimundo, porém, garantiu que vai verificar a situação das crianças.

Quem cursa a 5; série vai receber o passe estudantil para ir até Planaltina estudar. Quanto ao caso dos adolescentes Sara e Thiago, José Raimundo afirma que desconhece a situação. ;Eles têm que fazer a reclamação na Regional de Ensino e, se estiver dentro da lei, vamos tomar providência;, sugeriu.

Em relação às ruas de terra, a Secretaria de Obras do DF informou, por meio da assessoria de imprensa, que a região deve receber uma vistoria técnica na próxima semana para começar a colocar o asfalto. A assessoria de imprensa da Companhia Energética de Brasília (CEB) não foi encontrada para esclarecer a situação.