Tráfico de seres humanos, de órgãos, trabalho escravo e grupo de extermínio. O desaparecimento de seis adolescentes de Luziânia ; município goiano distante 66km de Brasília ; completa dois meses de abertura do inquérito policial com diversas linhas de investigação. Nenhuma confirmada, nem muito menos descartada, para desespero das mães que, desde então, já percorerram quase 1.200km em peregrinações a Brasília e Goiânia em busca de apoio das autoridades.
Somadas as vezes que vieram ao Distrito Federal (três) e à capital goiana (duas) chega-se a esse número, equivalente à distância entre Brasília e Vitória, capital do Espírito Santo. Tantas idas e vindas renderam a atenção de gente importante. As mães de Luziânia ficaram conhecidas nacionalmente depois de reportagens nos programas de maior audiência da televisão brasileira. Após o Correio divulgar o caso com exclusividade em 16 de janeiro, chamaram a atenção de deputados federais e senadores, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Polícia Federal e do Ministério da Justiça. Ontem, promoveram um ato público na praça em frente à casa de uma das vítimas, no Setor Fumal.
Cerca de 40 pessoas participaram. ;Organizamos esse ato público para não deixar que esses crimes sejam esquecidos;, ressaltou a servidora pública Sônia de Azevedo, 45 anos, mãe de Paulo Victor. ;As mães já conquistaram muita coisa, já conseguiram que os sumiços parassem;, afirmou o pastor Jean Carlos da Silva.
Representantes da OAB-GO, subseção Luziânia, e do Conselho Tutelar do DF compareceram ao ato público. Os próximos passos das mães serão decididos numa reunião hoje, na casa de Sônia, no Setor Fumal. ;Estou aflita e angustiada, mas não vou parar. Ficaremos juntas até conseguir uma resposta das autoridades;, disse a mãe de Diego Alves, a dona de casa Aldenira Alves, 51 anos.
Em 15 de janeiro, quando o delegado Rosivaldo Linhares, do Centro Integrado de Operações Especiais (Ciops) abriu o inquérito, quatro garotos estavam sem dar notícias às famílias: Diego, 13 anos, Paulo Victor, 16, George, 17, e Divino, 16. Três dias depois sumiu Flávio, 14 anos, e, em 22 de janeiro, Márcio, 19 (veja quadro abaixo).
Risco
A primeira hipótese foi de trabalho escravo. A contadora Valdirene Fernandes da Cunha, 36 anos, mãe de Flávio, acredita nesta possibilidade. ;Os meninos que desapareceram são todos fortes, com biotipo ideal para trabalhos pesados;, deduziu. A divulgação foi duramente criticada pelo promotor da cidade, Ricardo Rangel. ;A divulgação de possibilidade trabalho escravo colocaria em risco as vítimas, uma vez que o criminoso pode sentir que seu negócio está ameaçado;, explicou Rangel.
Linhares foi afastado do caso e, após 25 dias sem respostas, as mães conseguiram que a Polícia Federal participasse da investigação. Nem o apoio federal deu fim ao suplício das mães. A Polícia Civil goiana chegou a prender dois irmãos suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Márcio. Porém, nunca confirmou a participação da dupla no caso. O chefe do Departamento Judiciário de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira, que tomou as rédeas do inquérito, ainda está atrás de pistas. ;Não é possível que seis jovens desapareçam em plena luz do dia e nenhuma pessoa nesta cidade os tenha visto.;
Colaborou Yale Gontijo