A população de Brasília não foi a única a ficar frustrada com a notícia de que a celebração dos 50 anos da capital não terá mais os shows internacionais que foram anunciados pelo Governo do Distrito Federal. A confirmação de que o evento terá artistas nacionais em lugar de nomes como Madonna, Paul McCartney, Shakira e U2 foi um balde de água fria para os empresários do DF. Eles contavam com um gigantesco incremento nos negócios na semana do 21 de abril, data do aniversário da cidade, e ao longo de todo o ano do cinquentenário. A crise política que estourou em 2009 e ainda se desenrola na capital federal ofuscou as comemorações. Hotelaria, turismo e gastronomia, que se preparavam para fazer de 2010 um ano de faturamento recorde, serão os segmentos da economia mais prejudicados.
A Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur) bateu o martelo na segunda-feira última sobre os shows e as atrações para a festa na Esplanada dos Ministérios. Bruno e Marrone, Paralamas do Sucesso e NX Zero serão presenças certas. A cantora baiana Daniela Mercury e o sertanejo Luan Santana podem ser acrescentados à lista. Bandas e cantores evangélicos e católicos; um espetáculo da Universidade do Circo, companhia do ator global Marcos Frota; e um minidesfile da Parada Disney no Eixo Monumental estão na programação fora do palco principal. O orçamento previsto para o evento caiu de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões. O momento de turbulência política foi determinante na decisão de organizar um evento menos dispendioso.
Pacotes
O diretor de Relacionamento com o Mercado da Associação Brasileira das Agências de Viagens no DF (Abav-DF), Yoshihiro Karashima, afirma que, com a crise política e a colocação em segundo plano da comemoração do cinquentenário, as agências e as operadoras de viagem foram privadas de tempo hábil para preparar e vender pacotes tanto para os shows de 21 de abril quanto para o turismo cívico. Ele diz ainda que o setor se encheu de expectativa em torno da vinda de atrações internacionais. ;Os shows, agora, atrairão no máximo um público regional. Esperávamos um aumento de 30% no fluxo de visitantes, o que não acontecerá;, avalia.
Para Clayton Machado, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), a hotelaria sofreu um dos piores baques com o encolhimento das celebrações. De acordo com ele, na última semana, o sindicato procurou a Brasiliatur para expressar insatisfação com a demora na definição das atrações para a festa de abril e, ainda, com a divulgação falha dos eventos ligados ao aniversário. ;Não adianta empurrar toda a responsabilidade para a crise política. Claro que ela contribuiu, mas as políticas para o turismo no DF sempre foram deficientes. Com a devida divulgação, o evento não ficaria comprometido dessa forma. Agora, não se recupera mais nada por causa do atraso no calendário;, disse Machado.
O presidente do Sindhobar afirmou ainda que a gastronomia não terá o movimento esperado pelo empresariado, mas poderá ser minimamente beneficiada pelo grande público que se reunirá na Esplanada em 21 de abril. ;Não teremos mais o turista. No máximo virá gente das cidades próximas, mas as pessoas inevitavelmente vão lanchar, sair da festa e procurar algum lugar para comer;, acredita.
O comércio também está pessimista com a proximidade das celebrações do aniversário de Brasília. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Antônio Augusto de Moraes, caiu a expectativa inicial de um incremento de 10% a 15% no desempenho do setor com a chegada de visitantes. Agora, um aumento de 5% será considerado um bom resultado, mas o varejo sequer conta com ele. ;A chegada de turistas beneficiaria principalmente as lojas de shoppings.;
Planos refeitos
A Brasília Convention & Visitors Bureau, fundação privada de fomento ao turismo, foi obrigada a refazer seus planos para a festa da cidade. Em 2007, a entidade começou a buscar parcerias para vender pacotes de viagem para a capital federal a preços reduzidos. Em 2008, fechou um acordo com a TAM Viagens, que concordou em baixar em torno de 70% os valores de passagens para grupos que quisessem visitar o DF. O setor hoteleiro reduziu igualmente as diárias. Ao fim, o valor de três dias de estadia na capital federal passou de R$ 3,2 mil, em média, para R$ 799, com passeio turístico e refeições incluídos. A expectativa era de que a estratégia fosse bem-sucedida e o ápice de visitantes se concentrasse em abril deste ano. Desde o seu lançamento em novembro do ano passado, o projeto só conseguiu vender três pacotes. Dois grupos vieram em novembro e dezembro, e um deve vir neste mês. Ainda não houve procura de pacotes para abril.
Segundo Jackeyline Reis Marupunga, diretora executiva do Convention Bureau, empresários ligados à fundação devem se reunir nos próximos dias na tentativa de salvar o mês, criando dois tipos de pacote para a semana do aniversário: de sexta a quarta-feira, 21 de abril, e de quinta-feira a domingo. Jackeyline diz ainda que, nos últimos meses, a entidade tem realizado reuniões em busca de parcerias para trazer, por conta própria, atrações internacionais de peso para Brasília em seu cinquentenário. ;Seria uma forma de captar o turismo para o resto do ano;, diz.