A rotina no Instituto Dom Orione(1), no Lago Sul, começa logo cedo. Por volta das 7h, os moradores acordam, fazem a primeira refeição do dia e, logo em seguida, saem para uma caminhada. A sala de aula já está pronta para recebê-los e o dia está cheio de atividades, que incluem oficinas de música e tapeçaria e exercícios fisioterápicos. Tudo isso para atender 36 portadores de necessidades especiais que vivem lá. Eles chegaram ainda crianças e hoje passam dos 20 anos de idade. Poucos têm família e um lar fora dali. A maioria não conhece o que há além do muro da instituição.
O ensino especial existe desde 1994 no instituto, mas os moradores chegaram bem antes. A maior parte foi encaminhada pela Justiça. ;Quando não oferecíamos o ensino a eles, nós levávamos as crianças de ônibus todos os dias até os colégios da Asa Sul;, lembra o diretor do instituto, padre José Carlos Rezende. Por meio de um convênio, a Secretaria de Educação fornece professores da rede pública para dar aulas aos portadores de necessidades especiais e, em troca, o Instituto Dom Orione cede um dos prédios da instituição para o funcionamento do Centro de Ensino Fundamental 6, além de oferecer atividades a 110 alunos em situação de risco.
De sorriso fácil estampado no rosto, o portador de necessidades especiais Tarciso Alves da Silva demonstra alegria de viver. Tem quem afirme que ele está sempre assim, de bom humor. A liberdade e o carinho que conquistou das funcionárias do instituto permitem a ele chamá-las de mãe. Tarciso não sabe dizer há quanto tempo está lá, nem mesmo a sua idade, mas ele sabe bem do que gosta: fazer tapetes artesanais. Os casos da família também são sempre lembrados em conversas com as ;mães;. ;Nas férias, meu pai me levou para a casa da minha avó, lá em Minas Gerais. Gosto muito de sentar no banco que tem lá e conversar com as pessoas;, recorda.
Currículo funcional
Ao contrário de Tarciso, Cristiano Martins, 24 anos, não mora na instituição. Todos os dias bem cedo, ele sai de São Sebastião na companhia da irmã, que o leva até a QI 15 do Lago Sul. O longo trajeto não desanima o portador de necessidades especiais. ;Não quero parar de vir para cá. O que mais gosto de fazer é brincar e fazer bordados;, diz. Ailson Aparecido Antônio, 40 anos, também se diverte nas aulas em que aprende a bordar tapetes com retalhos de malha. Mas não sabe trabalhar sem ouvir música. Ele leva para onde vai um CD de músicas religiosas que ganhou.
De acordo com a coordenadora de apoio socioeducativo, Ceomar de Araújo Rosa Cruz, os professores trabalham com um currículo funcional que se volta para três pontos: independência, socialização e produção. ;Temos aqui um outro olhar da alfabetização. Em vez de ensinar o ABC, ensinamos a pessoa, por exemplo, a saber se portar na mesa;, explica. Entre as atividades que eles realizam estão a produção de tapetes artesanais e aulas de música. ;Sempre lutei para que eles se sentissem úteis e produtivos;, diz a coordenadora. E completa: ;Somos privilegiados de trabalhar num ambiente como esse. Em meio à natureza e com crianças carentes;.
1 - Santidade
Luis Orione nasceu em Pontecurone, na Itália, em 23 de junho de 1872. Ficou conhecido pelos trabalhos que prestou como o santo da caridade. São Luis Orione foi canonizado em 16 de maio de 2004. O sacerdote esteve no Brasil nos anos de 1921, 1934 e 1937.
Sem tempo de ir para a rua
Muitos alunos do Centro de Ensino Fundamental 6 do Lago Sul têm aula pela manhã ou à tarde e, no período contrário ao estudo, ficavam ociosos em casa e encontravam na rua a única diversão. A falta de uma ocupação dessas crianças preocupava muitas mães que precisam trabalhar o dia inteiro para sustentar a casa. Para acabar com essa angústia, o Instituto Dom Orione oferece a meninos e meninas em situação de risco reforço escolar, aulas de música e de informática, catequese e orientações para a prática de atividade física. ;É triste ver a criança brincando na rua com bandido, com traficante;, lamenta o padre Rezende.
Desde 1994 a instituição oferece as atividades para os estudantes do colégio ao lado. A aluna da 4; série do ensino fundamental do CEF 6 Patrícia Emelyn Vazlovs, 10 anos, moradora do Itapoã, frequenta o lugar há quatro anos. Pela manhã, a menina fica no Instituto Dom Orione e, à tarde, vai à escola. A rotina de Patrícia está repleta de atividades. Ela faz parte do coral do instituto e revela o quanto gosta de cantar: ;É a atividade que mais gosto. Já fizemos muitas apresentações fora daqui. Um dia nos disseram que nós vamos cantar para o Papa;, conta a menina.
Ana Clara Alves de Oliveira, 9 anos, aluna da 3; série, sai de casa no Itapoã todas as manhãs para ir ao instituto há dois anos. A menina se diverte nas aulas de informática. A estudante da 4; série Paloma Cardoso dos Santos, 10, frequenta a instituição há quatro anos com mais dois irmãos. Assim como Patrícia, gosta de ir às aulas de música. Já Vitória Pas Landim dos Santos, 8 anos, que estuda na 3; série, não perde as aulas de informática há dois anos. ;O que mais gosto de fazer é entrar em jogos na internet e ouvir música no computador;, diz. (TP)
Ajude
O coral do Instituto Dom Orione precisa de instrumentos (novos ou usados) para complementar as aulas de música.
Os interessados podem entrar em contato pelo telefone (61) 3248-6043.