O registro de mais um jovem desaparecido no Parque Estrela Dalva, em Luziânia, intriga os policiais federais e civis de Goiás. Após 65 dias sem notícias do paradeiro dos seis adolescentes (1) que sumiram ao passarem pelo Estrela Dalva, os policiais começaram a investigar um sétimo desaparecimento. Rondinelle Henrique da Silva Lima, 24 anos, saiu de casa às 8h30 do último dia 26 para capinar um terreno na cidade. O jovem não avisou aos tios, com quem mora no Parque Estrela Dalva 2, para quem prestaria o serviço. Deveria retornar às 15h30, como fazia após limpar hortas de moradores vizinhos. Não voltou mais.
Os parentes resolveram esperar que o jovem fizesse algum contato. Acreditavam que ele estaria por perto e se esquecera de avisar. Mas os dias se passaram e nada de Rondinelle voltar. Na última quarta-feira, familiares procuraram a 5; Delegacia Regional de Polícia (Luziânia) e registraram o sétimo caso de um rapaz desaparecido nas redondezas do Parque Estrela Dalva. Os parentes evitavam entrevistas. Mas ontem resolveram receber a equipe do Correio. ;A princípio, não queríamos comentar porque as pessoas são maldosas e inventam histórias;, disse a tia, Maria de Fátima de Oliveira, 55 anos. Mãe de sete filhos, é ela quem ajudou a criar Rondinelle para que a mãe dele pudesse trabalhar fora.
Fátima lembra que, naquela sexta-feira, o sobrinho saiu de casa vestido com uma bermuda embaixo da calça jeans, como de costume, e sapato. Não levou mala, nem documentos. A roupa debaixo era para que pudesse, depois trabalhar, voltar limpo para casa. Três dias antes, havia retirado o mato de um canteiro em uma casa vizinha. Ganhara R$ 25 pela mão de obra. Era o preço que ele geralmente cobrava pela capina. Os familiares não entendem o sumiço. De acordo com eles, o jovem não tinha razões para sair de casa. ;Após o desaparecimento dos seis meninos, eu disse para ele se cuidar. Ele sabia dos outros casos;, contou a tia, que percorreu hospitais, delegacia e até o Instituto Médico Legal (IML) à procura de Rondinelle.
Uma pista pode levar os policiais ao paradeiro do jovem. Um endereço de Vazante ; interior de Minas Gerais ; no qual ele estaria interessado, pode ajudar nas buscas. ;Ele teria pedido esse endereço, mas a moça diz não ter dado;, contou Fátima, sem revelar quem é a ;moça;. Os investigadores de Luziânia não acreditam que o caso de Rondinelle tenha alguma ligação com os demais desaparecimentos de jovens. ;Estamos investigando. Pela manhã (ontem), a tia dele esteve na delegacia para depor;, contou o delegado do Departamento Judiciário da Polícia Civil de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira. ;Nada pode ser descartado, mas a possibilidade de os casos terem ligação é mínima porque o perfil de Rondinelle é diferente.;
Retrato falado
A Polícia Civil divulgou ontem que, além do retrato falado publicado com exclusividade pelo Correio, há outras cinco imagens confeccionadas: quatro pela Polícia Civil do Distrito Federal e outra pela Federal. Apesar de confirmar que utiliza os retratos nas investigações, Vaz de Oliveira alega que as informações usadas nos desenhos não são contundentes. ;Os dados são passados por pessoas que dizem ter sido abordadas por suspeitos. Mas cada uma descreve um suspeito diferente. Entre os retratos, há um negro e uma mulher. As informações não levam a uma mesma pessoa;, reforçou.
Os outros retratos não serão divulgados pela Polícia, segundo Vaz de Oliveira. Ele também disse que as fotos dos adolescentes desaparecidos foram inseridas pela Polícia Federal na Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal). ;Todos os estados estão em alerta;, garantiu. Desde 30 de dezembro de 2009, pelo menos 15 pessoas desapareceram na região de Luziânia. Seis retornaram para casa após a divulgação de reportagens, mas nove continuam sumidas. Dentre elas está uma jovem do Novo Gama e um casal de namorados do Jardim Ingá, distrito de Luziânia.
Gritos de socorro
Um mix de caminhada e carreata com as mães de Luziânia reforçou o pedido de agilidade na solução do caso dos desaparecidos. Após 65 dias do sumiço dos adolescentes, cerca de 50 pessoas percorreram as ruas do centro até a saída da cidade. Após gritos de socorro pelas ruas, parentes e amigos, de ônibus e carros, visitaram dois postos de gasolina e o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops). No Posto Passarela, familiares do caminhoneiro Adelino de Oliveira, 41 anos, se prontificaram a ajudar. ;Viajamos o Brasil inteiro. Vemos muita gente e, agora, teremos os telefones para colaborar;, contou a esposa, Cíntia de Oliveira, que estava com o filho de um ano, Eduardo Oliveira. Segundo Aldenira Alves, mãe de Diego Alves, 13 anos, primeiro jovem a desaparecer, o caso não pode cair no esquecimento. ;Vamos fazer de tudo para não ficarmos esquecidas.;
1 - Desaparecidos
Seis jovens desapareceram do Parque Estrela Dalva, em Luziânia. Os sumiços começaram em 30 de dezembro, quando Diego Alves Rodrigues, 13 anos, não retornou para casa. Diego saíra de casa, no Parque Estrela Dalva 4, para ir a uma oficina de carros. Nunca mais foi visto. Na sequência, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos; George Rabelo dos Santos, 17; Flávio Augusto dos Santos, 14; Divino Luiz da Silva, 16; e Márcio Luiz de Sousa Lopes, 19, sumiram.