Jornal Correio Braziliense

Cidades

Grupo do Gama se une para ajudar portadores de necessidades especiais

Iniciativa de um grupo de moradoras da cidade dá alento à vida de mulheres que têm filhos portadores de necessidades especiais, ensinando-as a utilizar sua própria força de trabalho

Uma parceria informal entre a comunidade e o Centro de Ensino Especial 1 (CEE 1) do Gama tem garantido uma vida melhor a 22 famílias nas quais há portadores de necessidades especiais. Em uma sala improvisada no auditório do colégio, mulheres da organização não governamental (ONG) SOS Vida Saudável, moradoras do Gama, ensinam as mães a fazerem até mesmo fraldas geriátricas para os filhos. Com a ajuda de uma máquina adquirida pela associação, cada uma produz quantos pacotes precisar, sem pagar nada, e economiza até R$ 200 por mês. Além disso, a ONG faz campanhas para arrecadar remédios e alimentos para os mais carentes. A prioridade é sempre para as casas nas quais vivem deficientes.

Antes de comprar a máquina, as voluntárias faziam doações de fraldas comuns. Cada pacote custa, no mínimo, R$ 14. A maior parte das crianças que estudam ali precisam desse recurso e gastam pelo menos dois pacotes por semana. As mães, geralmente, não trabalham, porque precisam cuidar dos filhos em tempo integral. Quando visitavam o centro de ensino, as integrantes do SOS Vida Saudável viam essas mulheres sem ter o que fazer, esperando pela hora de dar remédio e trocar as fraldas dos filhos. Assim surgiu a ideia de, além de ajudar, proporcionar uma atividade produtiva para elas. O material para fazer 350 fraldas custa R$ 400 e é comprado com dinheiro de doações. Essa é a quantidade, geralmente, produzida a cada 30 dias. A ONG tem um cadastro de doadores que contribuem todo mês. As voluntárias ligam para cada um para cobrar a contribuição.

A maioria das mães envolvidas no projeto sobrevive de benefícios doados pelo governo a portadores de necessidades especiais. A renda não passa de R$ 500. ;Pagamos R$ 200 de aluguel, mais R$ 150 em remédios. O que sobra fica para comida e outros cuidados. Quando a gente comprava fraldas, o orçamento ficava muito apertado;, relatou Sirlene Gomes, 37 anos, mãe de Jonatan, 12, portador de lesão cerebral e aluno do CEE 1. ;Este trabalho é muito importante para a nossa sobrevivência, traz mais dignidade. A gente se sente mais útil;, completou.

Cooperativa
As mulheres já pensam em formar uma cooperativa para produzir em maior escala e vender. Mas para isso é preciso dinheiro. ;A gente vive para os filhos. Tem que levar ao médico sempre, trazer para a escola e ficar de olho neles o tempo todo. Quase ninguém tem marido ou pode pagar babá. Somos sozinhas, só Deus olha pela gente. Não sabíamos um ofício. Agora, já pensamos em profissionalizar o que aprendemos aqui. Só falta investimento;, disse Maria Irene dos Santos, 43 anos, mãe de Denise, 11, portadora de síndrome de Down.

A ideia de comprar a máquina veio da administradora de empresas Patrícia Santos, 34 anos, uma das fundadoras da SOS Vida Saudável. ;Procuramos o centro de ensino e cadastramos as famílias mais pobres. Vimos que as fraldas eram um dos itens mais pesados no orçamento e então surgiu essa ação;, relatou Patrícia. Antes disso, o grupo já mantinha uma creche comunitária no bairro Lunabel, no Novo Gama (GO). ;Mas queríamos fazer algo também pelas pessoas necessitadas que estavam mais perto da gente, aqui no DF;, disse Patrícia.

De acordo com a administradora, a SOS Vida Saudável nasceu simplesmente da vontade de ajudar. ;Reunimos várias pessoas que gostavam da sensação de fazer bem a alguém, não importa a quem. Somos uma rede de pessoas que gostam de ajudar;, definiu. A supervisora da ONG, Elenir Correia, 36 anos, se emociona ao falar das mulheres e crianças atendidas pela associação. ;Quando olho para elas, felizes assim, apesar de toda a dificuldade de criar um filho deficiente, dá vontade de chorar. Mas são pessoas muito alegres e fortes que ensinam muito para todos nós;, opinou.

Outras 16 pessoas trabalham com o objetivo de ajudar quem precisa por meio da instituição. Entre eles está a voluntária Eliete Monteiro, 38 anos. Quando começou a trabalhar na instituição, ela era dona de uma loja. Decidiu mudar de profissão e termina este ano o curso de serviço social. ;Me encantei pelo trabalho e decidi me dedicar 100%. Só assim vamos crescer e fazer a diferença. Acredito muito nessa mudança social promovida por cada um de nós;, concluiu.

"Reunimos várias pessoas que gostavam da sensação de fazer bem a alguém, não importa quem. Somos uma rede de pessoas que gostam de ajudar"
Patrícia Santos, voluntária