A Esplanada dos Ministérios foi cenário de um acidente que, por sorte, não passou de um grande susto. Por volta das 14h, nove pessoas, entre elas um bebê, pegaram um elevador no térreo do Bloco A, onde funciona o Ministério do Esporte e outros órgãos do governo federal, mas não chegaram ao destino. Entre o 4; e o 6; andar, segundo as vítimas, o equipamento despencou e parou apenas no subsolo do prédio. De acordo com o Corpo de Bombeiros, porém, a queda ocorreu a partir do 2; andar, de uma altura de 10 metros. As vítimas foram levadas para o Hospital de Base de Brasília (HBDF) e, até o fechamento desta edição, apenas uma continuava internada, com achatamento de uma vértebra.
Quem estava no elevador conta que, no momento da queda, as luzes do equipamento continuaram acesas e, cerca de dois minutos depois, brigadistas iniciaram o socorro. ;A sensação foi a de um acidente aéreo;, comentou uma das vítimas, Samira Marcos, 24 anos. Ela estava no elevador com o marido, Yakari Kuikuro, que carregava a filha do casal, de 10 meses, no colo. A criança não se feriu.
Do lado de fora do elevador, a mãe de Samira aguardava para subir em uma próxima viagem. Míriam Marcos acompanharia a filha, diretora do Instituto de Memória da Cultura Indígena, em uma reunião na Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Ao ouvir um grande estrondo e o choro da neta, ela correu para o subsolo do prédio. Apesar do susto, Samira não teve ferimentos graves. Ficou apenas com uma luxação e arranhões nas pernas. Para proteger a pequena Maytsairu das consequências do impacto, o marido dela, Yakari (ambos são indígenas), acabou caindo de joelhos sobre o piso e também teve ferimentos leves.
Quem também estava no hall do prédio era José Sebastião Araújo, funcionário de uma secretaria instalada no local. Ele ouviu um barulho semelhante à explosão de uma bomba e correu para o subsolo. ;As pessoas estavam em estado de choque, assustadas e tremendo. Não conseguiam falar;, relata. Por volta de 14h30, ambulâncias do Corpo de Bombeiros transferiram o grupo para o Hospital de Base. O resgate reuniu curiosos e um grande contingente de servidores que trabalham nas proximidades. As portas do edifício foram fechadas e só funcionários com crachá podiam circular.
A última vítima a ser socorrida foi Maria Isabel Oliveira, que trabalha como assessora de gabinete de um ministério. Ela não percebeu os efeitos do acidente de imediato, já que conseguia caminhar após a queda do elevador. Mas, com o passar do tempo, sentiu dores nas pernas e foi levada, imobilizada e de maca, para o hospital. Até o fechamento desta edição, ela havia se cansado de esperar por atendimento no Hospital de Base e teria seguido para casa. Porém, teria percebido um inchaço na perna e procurado a emergência do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Não há mais informações sobre seu estado de saúde.
No fim da tarde, o primeiro a ser liberado do HBDF foi o motoboy Douglas Carvalho Sobrinho, 23 anos. Ele fazia a entrega de convites no local. Segundo Douglas, o elevador balançou antes de cair e um pouco de poeira entrou pelas frestas. ;Não deu tempo de pensar em nada. Estou tremendo até agora;, ressaltou. Ele foi medicado e ganhou atestado médico para descansar por três dias.
Vértebra atingida
Três funcionárias da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) também estavam no elevador. O estado mais grave era o de Fernanda Lattarulo Campos, 25 anos. Ela sofreu achatamento de uma vértebra e deverá usar colete ortopédico por cerca de quatro meses. A expectativa é que ela fosse transferida para o Hospital das Forças Armadas (HFA) ainda durante a noite de ontem. Uma de suas colegas, Naiá Schurmann Brilliager, sofreu luxação no tornozelo e sente dores pelo corpo, mas já foi liberada do hospital. A terceira funcionária da Senad, identificada apenas como Sirjane, também teve dores musculares e já deixou o HBDF.
O elevador foi interditado para que fosse realizada a perícia pela Polícia Civil. O resultado do laudo deve sair em até 15 dias. Ontem à tarde, os peritos concluíram que o cabo que movimenta o elevador não se rompeu. A 5; Delegacia de Polícia (área central de Brasília) abriu inquérito para apurar o acidente. Em nota, o condomínio do Bloco A manifestou-se sobre o acidente. O texto menciona a substituição dos quatro elevadores, em dezembro último, destaca que o fato será elucidado pela perícia e afirma que ninguém se feriu gravemente. Na nota, consta ainda que nove pessoas estavam no elevador, mas o Correio teve acesso a informações a respeito de oito vítimas.
Empresa aponta modernização
A AMG Inteligência e Elevadores, responsável pela instalação dos equipamentos no Ministério do Esporte, só vai se pronunciar oficialmente após ter acesso ao laudo da perícia realizada ontem pela Polícia Civil. O gerente comercial da empresa, Edmilson Rodrigues, disse que tentar definir as causas do acidente antes disso seria ;algo precipitado;. ;Temos que aguardar o laudo conclusivo para saber o que aconteceu;, disse.
Segundo Rodrigues, cerca de 600 elevadores foram modernizados pela AMG no Distrito Federal e nunca houve qualquer acidente como de ontem. ;É a primeira vez que isso acontece. Não é normal;, afirmou. No ministério, o trabalho de modernização está sendo realizado há quatro meses e ainda não foi concluído.
O gerente disse que o fato de o elevador ter ficado intacto é um bom sinal. ;Prova que os itens de segurança funcionaram. Se o piso não foi comprometido, é porque o elevador não bateu na mola, ou seja, o freio de segurança funcionou bem;, comentou. ;Para quem está dentro (do elevador), não é uma sensação boa, é terrível. Mas temos que agradecer a Deus por não ter sido mais grave;, completou.
O episódio de ontem foi o mais perigoso registrado no local, mas os elevadores do Bloco A da Esplanada dos Ministérios vêm dando dor de cabeça, segundo os usuários, desde o começo do ano. Em dezembro, a AMG começou a reforma, que incluiu a troca dos cabos e da caixa do elevador. Desde então, quem trabalha ou frequenta o prédio coleciona pequenos incidentes. José Sebastião Araújo, funcionário do local, disse que ficar preso entre os andares é frequente. ;Acontece quase que diariamente;, alerta.
Mas o pior episódio foi descrito por Maria Eunice Oliveira, funcionária da Presidência da República que trabalha no prédio. Na sexta-feira de carnaval, ela e mais 11 pessoas seguiam para o térreo, quando este mesmo elevador despencou. Porém, neste dia, não chegou a ferir ninguém, e, antes de tocar o solo, parou entre dois andares. O grupo esperou cerca de 10 minutos até ser resgatado por bombeiros. A funcionária destaca que, segundo a empresa responsável, os elevadores estão em fase de testes. ;É preciso interditar esses equipamentos. Estão fazendo experiências com a vida dos outros?;, questiona.
Colaborou Saulo Aráujo