Em 1956, um jovem arquiteto sobrevoou o cerrado onde seria erguida a nova capital. Aos 23 anos e recém-formado, Pedro Paulo de Melo Saraiva tinha uma meta audaciosa: elaborar um projeto para participar do concurso de escolha do Plano Piloto de Brasília. Ele desbravou a região, conheceu o presidente Juscelino Kubitschek e concebeu uma cidade verticalizada, com prédios de até 15 andares. O final dessa história é bem conhecido pelos brasilienses: Pedro Paulo perdeu a disputa para o urbanista Lucio Costa, autor do projeto vencedor e idealizador das superquadras.
Mesmo sem o prêmio nas mãos, o jovem arquiteto e seus três colegas que participaram da aventura comemoraram a participação no concurso. A ousadia abriu uma infinidade de oportunidades profissionais para Pedro Paulo de Melo Saraiva, que durante sua carreira seguiu os preceitos da arquitetura modernista. Ontem, ele relembrou essa e outras histórias durante uma visita a Brasília. O arquiteto veio à cidade para inaugurar seu terceiro projeto na capital federal ; o novo edifício-sede do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), na 509 Norte.
A cada passagem pelo Planalto Central, o arquiteto, que vive em São Paulo, observa o crescimento da cidade que viu surgir. E critica sem hesitação as novas construções que destoam do padrão da cidade. ;A região do lago, por exemplo, está cheia de prédios de gosto bastante duvidoso. A arquitetura da Asa Norte também é uma lástima, muito inferior à da Asa Sul;, critica. Além do prédio do Confea, Pedro Paulo de Melo Saraiva assina os projetos dos edifícios da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no Setor Bancário Norte, e da Escola de Administração Fazendária, no Setor Jardim Botânico.
O quarto projeto do arquiteto para a capital nunca saiu do papel. Em 1969, quando era professor da Universidade de Brasília, Pedro Paulo idealizou o Centro de Vivência da UnB. ;Seria um espaço com opções de serviços para a comunidade, como lavanderia, farmácia, Correios. A UnB não tem um ponto de encontro que seja referência;, justifica. Mas a ideia acabou não indo para a frente.
Influências
Apesar de ter obras construídas na cidade, as lembranças mais fortes de Pedro Paulo são as da época do concurso para escolha do Plano Piloto. O arquiteto se formara em 1955, pela Universidade Mackenzie. À época, o diretor da faculdade era Cristiano Stockler das Neves. ;A formação do Mackenzie era conservadora. O diretor havia estudado na Pensilvânia (EUA) e fazia uma arquitetura neoclássica. Então, para a gente, participar do concurso de Brasília abriu uma perspectiva muito grande;, diz.
Depois da participação no concurso, o arquiteto começou a conviver com grandes nomes da época, como João Batista Vilanova Artigas e Rino Levi ; este último também apresentou projeto para o concurso de escolha do Plano Piloto. Outra grande influência para Pedro Paulo foi o arquiteto Oscar Niemeyer, com quem conviveu em 1969, quando trabalhou na UnB. Só depois de se envolver com o surgimento da nova capital é que o recém-formado conseguiu romper com a tradição arquitetônica tradicional e caiu nas graças do modernismo.
As exigências do edital da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) não eram tão rigorosas. Bastava apresentar uma planta e o memorial descritivo do projeto. A maioria das propostas era bem elaborada, com maquetes detalhadas. Mas o trabalho dos recém-formados da Universidade Mackenzie era bem mais modesto. ;Apresentamos somente aquilo que o edital exigia. Nos inscrevemos em agosto de 1956 e em março de 1957 o material foi entregue;, relembra o arquiteto. O projeto recebeu o número 16. Ao todo, foram inscritas 27 propostas.
Pedro Paulo de Melo Saraiva reconhece que o trabalho desenvolvido por ele e pelos colegas de faculdade não tinha condições de ganhar. ;Não era um projeto para ser premiado. O projeto do Lucio Costa é muito bonito. Mas a gente entrou para experimentar e certamente foi uma vivência muito boa.;