Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ansiedade, tormento e remédios na vida dos familiares dos jovens desaparecidos em Luziânia

Seis jovens desaparecidos, seis histórias diferentes e um mesmo drama. A vida de seis mães de Luziânia ; cidade goiana distante 66km de Brasília ; mudou completamente nos últimos tempos. Em nome de seus filhos, donas de casa, contadora, servidora pública e doméstica tiveram que aprender, da noite para o dia, a perder a timidez e falar em público. Começaram a usar a voz e se fazer ouvidas para que o poder público e autoridades policiais procurassem seus garotos. O drama dessas mães, divulgado com exclusividade em 16 de janeiro pelo Correio, se arrasta há mais de 50 dias. Na casa de Márcio Luiz Sousa Lopes, 19 anos, último a desaparecer em 22 de janeiro, a tristeza que ronda a vida dos familiares completou, ontem, um mês. Trinta dias de tormento sem notícias.

Vivendo o pesadelo da falta de informações sobre os filhos, pais e parentes mudaram a rotina. Pararam de trabalhar, tiveram de se dopar para conseguir dormir e controlar doenças antes não conhecidas. Há um mês, a dona de casa Maria Lúcia Sousa Lopes, 54 anos, toma 12 tipos de comprimidos por dia. Os remédios foram receitados para controlar a hipertensão da moradora do Parque Estrela Dalva 4 desde que Márcio Luiz desapareceu. A pressão arterial dela se descontrolou com a ausência de informações do caçula, único que ainda morava com a família. Hoje, o vigilante José Luiz da Silva Lopes, 54, tentará voltar à rotina de trabalho. Vai fazer a vigília do Museu Cultural da cidade, das 6h às 18h. ;Vou me ocupar. É muito difícil ficar em casa à espera de notícias. O tempo passa, mas a esperança é a última que morre;.

A poucos metros dali, na casa simples e sem reboco de rua sem asfalto, Cirlene Gomes de Jesus, 42, espreme o telefone celular nas mãos à espera de notícias de George Rabelo dos Santos, 17, sumido há 45 dias. Qualquer ligação de número desconhecido é motivo de tormento. ;Durmo com o celular embaixo do travesseiro aguardando uma ligação. George não tem meu telefone, mas acredito que ele possa tê-lo pego nos cartazes;, disse.

Os desaparecimentos começaram em 30 de dezembro de 2009, com Diego Alves Rodrigues, 13 anos. Em 4 janeiro, outro jovem desapareceu do bairro. Dessa vez, era a família de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, que iniciava o calvário em busca do adolescente. Na sequência, Divino Luiz Lopes da Silva, 16, e Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14, sumiram. Nenhum deles é considerado rebelde pelos familiares.