Com oito deputados titulares e dois suplentes investigados por corrupção, acusações registradas em depoimentos feitos por Durval Barbosa de compra de votos para aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) e participação em manobras para preservação dos colegas e do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), a Câmara Legislativa vive seu pior momento na história. A falta de confiança na capacidade dos deputados distritais em agir de acordo com o interesse público provocou um inédito pedido de intervenção federal na capital do país, protocolado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mais do que apontar a suspeição dos distritais denunciados por Durval, que vem colaborando com a Justiça, o Ministério Público Federal considera a Câmara Legislativa um ninho de suspeição, a começar pelo presidente eleito em meio à crise, o deputado Wilson Lima (PR). ;Vê-se, na verdade, que o atual presidente da Câmara Legislativa sistematicamente confunde as atribuições e relações existentes entre a base governista e os interesses do gestor distrital na apreciação e deliberação dos projetos de lei com o procedimento próprio à apuração dos graves fatos apresentados contra parlamentares e integrantes da administração distrital;, afirmou Gurgel no pedido de intervenção.
A petição mostra que a subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, responsável pelo inquérito da Caixa de Pandora, acompanhou com atenção o desenrolar dos fatos na Câmara Legislativa e a atuação dos distritais desde 27 de novembro, quando as denúncias vieram à tona. No pedido de intervenção, o MP cita situações que considera manobras dos deputados para evitar a convocação de Durval Barbosa e a celeridade na apreciação dos pedidos de impeachment e das representações por quebra de decoro parlamentar.
Crise grave
Wilson Lima admite que Brasília vive a sua pior crise política, mas sustenta que o escândalo atingiu todos os poderes. ;Essa crise foi pior do que o Haiti. O Haiti é aqui;, disse ontem ao Correio. Ele, no entanto, garante que vai agir como magistrado e não em benefício de Arruda ou do governador em exercício Paulo Octávio (DEM). ;Vou acatar a decisão que os colegas escolherem. Não vou influenciar nenhum processo;, acrescentou. Lima afirma que não era o escolhido pelo governador para presidir a Câmara. ;O preferido do Arruda era o Raimundo Ribeiro (PSDB), que é amigo dele. Todo mundo sabe disso;, afirmou.
O presidente da Câmara evita falar sobre seu futuro na hipótese de renúncia de Arruda e de Paulo Octávio. ;Não é hora de falar em vacância;, afirmou. Mas acrescenta: ;Fui eleito para presidente da Câmara, mas não vou deixar Brasília na mão se essa for a minha missão e até faria o sacrifício de não ser candidato à reeleição ;. Ex-presidente da Casa, Alírio Neto (PPS) avalia que a Câmara vai fazer a sua parte. Ele acredita que a base governista se esfacelou. ;Arruda não tem mais sustentação na Câmara e toda a classe política teme uma intervenção no DF;, aposta.
Ex-secretário de Justiça e Cidadania, Alírio rompeu com a base antes da prisão e do afastamento do governador. Para o líder do PT, Paulo Tadeu, os deputados distritais estão conscientes de que, se não agirem, a intervenção será inevitável. ;Corremos o risco de ver crescer o movimento pela extinção da Câmara, pela renovação política e pela derrota eleitoral de todos que não agirem de acordo com o interesse público;, acredita o petista.
Interferência na eleição de Lima
O presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), não foi citado pelo governador José Roberto Arruda (sem partido) nas conversas gravadas pela Polícia Federal (PF) em que supostamente descreve a folha de pagamentos de mesadas para distritais em troca de apoio para votação de projetos de interesse do Executivo. Também não há gravações divulgadas com a imagem do distrital. Apesar disso, a eleição de Lima no cargo é questionada porque o distrital foi escolhido para o comando da Casa numa negociação liderada por Arruda.
Justamente pela lealdade, Lima foi escolhido de forma estratégica por Arruda para suceder o deputado Leonardo Prudente (sem partido). A intenção de Arruda era ter o aliado no comando da Casa durante o julgamento dos processos de impeachment pelos distritais. Na avaliação do Ministério
Público Federal, ao pedir a intervenção federal no DF, a eleição de Lima ocorreu num momento de manobras políticas e contou com o voto de deputados sob suspeição. Dos 15 votos que ele obteve para virar presidente, sete foram de distritais investigados na Operação Caixa de Pandora.
Dessa forma, o MP avalia que Lima, o segundo nome na linha sucessória do DF, não teria condições de virar governador. A eleição de Wilson Lima foi decidida na residência oficial de Águas Claras dias antes da eleição. A deputada Eliana Pedrosa (DEM) chegou a cogitar participar da disputa pela presidência, mas não conseguiu votos suficientes. Segundo deputados aliados do Executivo, Arruda acreditava na possibilidade da criação de uma bancada pró-impeachment com a eleição de Eliana. (AMC)
Opinião do internauta
Leitores comentaram no site do Correio as reportagens referentes aos desdobramentos, no Executivo e no Legislativo locais, da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.
Veja algumas opiniões:
Ricardo Cubas
;Nas próximas eleições não votem em nenhum partido ou coligação que tenham candidatos da atual base governista. Por coerência, PT deve estar fora também. Lembrando que anular o voto é dar carta branca para a corrupção.;
Luiz Ricardo
;O grande mal de Brasília é que toda essa corja veio de outros estados, tanto os eleitores como os governantes. Eles não estão nem aí para Brasília;
Elson de Paula
;Essa cambada deveria ser excluída da vida pública eternamente. Mas é aquela velha história, cada povo tem o governo que merece.;
Marcos Rocha
;Esses corruptos realmente precisam ser punidos exemplarmente para que Brasília não fique desmoralizada não só no Brasil mas também em boa parte da comunidade internacional.;
Vilmar Silva
;Esses políticos devem ir é pra cadeia junto do Arruda. Cadê o bloqueio dos bens desses distritais? Vamos votar em candidatos de partidos não envolvidos.;
José Junior
;Temos que cortar a cabeça de todos os envolvidos.;
Jorge Filho
;Eu não sinto vergonha , tenho um sentimento de perda de identidade ideológica, pois o resto do Brasil pensa que todos somos como nossos representantes. Vejo o descaso estampado no rosto deles, deputados. O mínimo seria ver todos fora pelas mãos do povo. Sem nenhuma cerimônia. Arrancados à força.;
Manoel Silva
;Porque só o Arruda nessa?
Esse tal de Raimundo Ribeiro é o mentor da prevaricação que está ocorrendo na Câmara. Não é possível essa corja se manter nos cargos. Cassação pra eles é pouco.;
José Filho
;Dizem que não sabemos votar. A verdade e que não temos outra saída. Se correr o bicho pega se ficar ele come. Os partidos escolhem os candidatos a serem votados, aí não temos opção, pois só aparecem os piores para nos representar.;
Nardeli Pimenta
;Xô, Câmara Legislativa! Basta de conchavos, maracutaias, troca de favores! Essa Câmara serve apenas para sugar os altos impostos que são pagos pelos contribuintes do DF.;
Waltercy Santos
;A Câmara nunca foi além de um balcão de negócios desta cidade. Diga-se, de poucos privilegiados e apaniguados.;
Alessandro de Castro
Brasília está bem nacional e internacionalmente. Teve o primeiro governador preso da história do Brasil, agora falta o restante, a começar pelo Roriz, Abadia, etc. Tem que prender os outros pelo Brasil afora. Creio que as penitenciárias não vão comportar tantos corruptos.;
Deusnane Ferreira
;Eles querem cassar só três distritais? Não tem problema. Nas eleições, vamos cassar o restante.;
Marcos Antonio Silva
;Vamos fazer uma faxina na Câmara em 2010. Mas vamos tomar cuidado porque o meio político está cheio de lobo mau disfarçado de cordeirinho.;
Heliete Bastos
;Arruda gastou dinheiro à toa. Os traíras estão mostrando a cara. Agora, pra dar uma satisfação à sociedade, querem pedir a cabeça de três. Não têm coragem da degola completa.;