Os invasores de um terreno baldio no Itapoã cumpriram a promessa e voltaram ao local após uma operação de retirada da Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água (Sudesa), acompanhada por policiais militares, que derrubou as estacas e barracas que serviam para demarcar os lotes dos ocupantes na segunda-feira. Estacas e arames foram recolocados e os invasores fazem vigília no local, que fica perto de um centro de ensino e uma garagem de ônibus, para evitar perder o espaço.
Maria Araújo, 45 anos, pediu demissão do emprego de balconista para tentar assegurar seu pedaço de chão. Ela quer se livrar do aluguel de R$ 280 que pagava por um barraco de dois cômodos. Ela reclama que há muito tempo está registrada em programas habitacionais para receber um lote e nunca é premiada. "Se eu ficar com um pedacinho de terra não tem tempo ruim", espera.
Sentado de baixo da mesma árvore que Maria, Adelson dos Santos, 28 anos, conta que ficou sabendo da invasão há cinco dias e resolveu tentar a sorte porque não quer mais pagar aluguel no condomínio Del Lago. Ele e a mulher, Maria Zélia, têm 3 filhos. Adelson recebeu até o aval do chefe para permanecer no local e teve o horário de trabalho flexibilizado: "Fico aqui até às 18h depois vou para o serviço e volto lá pelas 23h". "Eles podem derrubar que no outro dia vamos voltar", promete.
Josi Rodrigues tem o mesmo raciocínio. Desempregada, ela ficou sabendo da "expansão" pelo boca a boca na cidade e participou da invasão desde o começo. Sua barraca de lona e alguns pertences levados pelos tratores na segunda-feira. "Quem arrisca, não petisca. Vou fazer o sacrifício de ficar e conseguir meu lote", conta. Os três filhos pequenos de Josi, que está desempregada, passam o dia inteiro no local, cercado por arames. "A gente faz uma fogueira e passa a noite toda aqui", informa.
Na região da invasão, estão assentamentos autorizados pelo Governo do Distrito Federal para famílias transferidas do Varjãom, o que irrita os moradores do Itapoã. Eles alegam que não têm o mesmo benefício concedido a pessoas que sequer viviam na cidade. "Não sou santa para viver de promessa. O governo tem que arrumar moradia para quem precisa", reclama Josi.
Entretanto, nem todos os invasores estejam brigando pelo direito de morar. Gerson Miranda vive no condomínio Entre Lagos, limítrofe à invasão e disse ao Correio que um homem lhe ofereceu um lotes por R$ 150.
Para ocupar a área, a vegetação nativa foi queimada e poucas árvores resistiram aos facões. Segundo a Companhia daPolícia Militar Independente, a área tomada tem 200 hectares, espaço suficiente para abrigar 200 campos de futebol. A reportagem margeou a região e flagrou dezenas de pessoas ateando fogo em diversos pontos da mata. Em alguns deles, até barracas estavam montadas no local.
O capitão André Caldas, da PM, informou que os detalhes da segunda operação de retirada e demolição, prevista para amanhã, será discutida hoje com a Sudesa, a Terracap e o SLU. "Pessoas flagradas cometendo crimes ambientais ou tentando vender terrenos - que pertencem ao Estado - serão autuadas na hora", garantiu.