Apontada por Durval Barbosa como a empresa que teria abastecido o caixa dois da campanha do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), a Linknet Tecnologia, uma das empresas mais enroladas nas denúncias da Operação Caixa de Pandora, registrou na Justiça R$ 2.011.922,14 em doações nas últimas eleições a candidatos do Distrito Federal e Goiás. Entre os beneficiados estão o atual governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), o senador Demostenes Torres (DEM) e o prefeito de Aparecida de Goiás, Maguito Vilela (PMDB), que se enfrentaram na disputa ao Palácio das Esmeraldas nas últimas eleições.
Candidato à reeleição, Alcides Rodrigues recebeu R$ 400 mil dos R$ 15,6 milhões que arrecadou, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Maguito, que disputou o segundo turno com Alcides, recebeu R$ 300 mil. Um dos maiores críticos da vinculação que adversários fazem do escândalo ocorrido em Brasília com o seu partido, Demostenes recebeu R$ 58 mil da Linknet, em 2006. A Linknet é investigada pelo Ministério Público desde 2002, quando houve suspeita de favorecimento ilegal à campanha à reeleição de Joaquim Roriz, então no PMDB.
Em 2003, numa das ações judiciais, promotores de Justiça do DF sustentaram que dinheiro do governo do Distrito Federal repassado à Linknet foi usado na compra de urnas eletrônicas para ensinar o eleitor a votar em Roriz. ;Todas as doações que recebi estão declaradas e idôneas. Algumas empresas doam para o candidato que tem mais chance e também para os outros;, disse Demostenes. ;Não tenho nenhum problema com isso, tanto que estou pedindo a expulsão do Paulo Octávio;, acrescentou.
Em Goiás, um dos favorecidos pela Linknet foi o deputado Marcelo Melo (PMDB-GO) que recebeu R$ 50 mil na sua última campanha. De Luziânia, ele é um dos maiores aliados de Roriz no partido. A Linknet tem origem em Goiânia e vínculos com o DF. O Atlético Clube Goianiense, time que tem como cartola o ex-secretário de Fazenda do DF Valdivino Oliveira(1), é patrocinado pela empresa, que se transferiu para Brasília em 1999.
Na capital
No Distrito Federal, a Linknet ajudou, em 2006, as candidaturas do deputado Laerte Bessa (PSC), com R$ 40 mil, e da então governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), contemplada com R$ 600 mil. O advogado Everardo Alves Ribeiro, que representa Durval em ações no Tribunal de Justiça do DF, recebeu R$ 20 mil. O maior beneficiário das doações da Linknet foi Roberto Lucena(2), irmão do dono da Linknet, Gilberto Lucena. Ele declarou R$ 439,8 mil. Mais de 90% de sua campanha foi feita pela empresa de informática da família. Suplente de deputado distrital pelo PMDB, ele deverá votar nos processos de impeachment de Arruda e do governador em exercício Paulo Octávio (DEM).
A Linknet é citada em várias partes do Inquérito n; 650, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que investiga um suposto esquema de corrução relacionado a desvios de recursos de dinheiro de empresas prestadoras de serviço de informática para pagamento de propinas a deputados e secretários, governador e vice. Em uma das gravações feitas por Durval, Gilberto Lucena, o dono da empresa de informática, reclama com Durval por ter de pagar percentual alto de propina para conseguir a liberação de faturas relacionadas a serviços já prestados. Paulo Octávio nega ter recebido dinheiro das empresas de informática e garante que não há imagens que o relacionem ao esquema denunciado por Durval.
Em depoimento à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público, Durval declarou que recebeu de Lucena R$ 3 milhões na garagem do Palácio do Buriti. O dinheiro teria sido guardado no porta-malas do carro de Durval e tinha como destinatário, segundo o ex-secretário de Relações Institucionais, o governador Arruda. O objetivo seria usado como parte do acordo de separação de Arruda com a ex-mulher Mariane Vicentini, de acordo com o depoimento de Durval incluído no inquérito do STJ. Ainda segundo Durval, a Linknet bancou todas as despesas do escritório político de Arruda nos quatro anos que antecederam a campanha de 2006. Os advogados do governador afastado negam a acusação e dizem que as acusações de Durval fazem parte de uma trama política para prejudicá-lo.
1 - Entre o DF e Goiás
Valdivino Oliveira foi secretário de Fazenda entre 1999 e 2006, no governo Roriz, e depois retornou na gestão de José Roberto Arruda, mas sempre fez política em Goiás. Vice-prefeito de Goiânia entre 2004 e 2008 pelo PMDB, migrou para o PSDB, onde deverá se candidatar a uma vaga de deputado federal nas próximas eleições.
2 - Suplente com voto
Médico da Secretaria de Saúde, Roberto Lucena já chegou a assumir o mandato na atual legislatura, como suplente do PMDB. Ele deverá participar das votações dos pedidos de impeachment porque uma liminar impede que os distritais investigados na Operação Caixa de Pandora participem de qualquer deliberação sobre o assunto.
Não tenho nenhum problema com isso, tanto que estou pedindo a expulsão do Paulo Octávio;
Demostenes Torres, senador (DEM-GO)
Prestação de contas
Veja quanto os políticos abaixo receberam de doações da Linknet para a campanha de 2006. Os dados estão no site do TSE:
Governador Alcides Rodrigues Filho (PP-GO) - R$ 400.000
Senador Demostenes Torres (PFL-GO) - R$ 58.118,55
Então candidato a deputado distrital Everardo Alves Ribeiro (PMDB-DF) - R$ 20.000
Deputado estadual José Nelto Lagares das Mercez (PMDF-GO) - R$ 27.100
Deputado federal Laerte Bessa (PMDB-DF) - R$ 40.000
Prefeito de Aparecida de Goiânia Luiz Alberto Maguito Vilela (PMDB-GO) - R$ 300.000
Deputado federal Marcelo de Araujo Melo (PMDB-GO) - R$ 50.000
Então candidata ao GDF Maria de Lourdes Abadia (PSDB-DF) - R$ 600.000
Então candidata a deputada estadual Rachel Azeredo Souza
(PMDB-GO) - R$ 26.837
Suplente de deputado distrital Roberto Batista de Lucena
(PMDB-DF) - R$ 439.866,59
Deputado estadual Thiago Mello Peixoto da Silveira (PMDB-GO) - R$ 50.000