Jornal Correio Braziliense

Cidades

Questionado pedido de habeas corpus

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), vai analisar pedido de liminar em habeas corpus apresentado em favor do ex-chefe da Agência de Comunicação do DF Weligton Moraes. Antes de se decidir, Marco Aurélio, que recusou pedido de liberdade feito pela defesa do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), requisitou informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele quer mais detalhes sobre eventual participação de Weligton nas denúncias investigadas no Inquérito n; 650 relacionado ao suposto esquema de corrupção do governo local e na ação penal protocolada na última quinta-feira pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sobre uma suspeita de suborno oferecido ao jornalista Edson Sombra para alterar evidências no processo contra Arruda.

Mas o advogado Bruno Rodrigues, autor do pedido de liminar registrado no STF para libertar Weligton, não é reconhecido pelos defensores constituídos pelo ex-chefe da Agência de Comunicação, tampouco por sua família. Os advogados Sávio Caram Zuquim e Pedro Barreto, que representam Weligton, estiveram com ele ontem no Complexo Penitenciário da Papuda e pegaram uma declaração em que ele manifesta desistência do habeas corpus(1). O documento será encaminhado ao ministro Marco Aurélio. ;Um pedido feito sem conhecimento da causa, sem o zelo e o cuidado com as verdadeiras razões e argumentos pode atrapalhar muito a estratégia da defesa. Apenas nós, advogados constituídos, temos conhecimento dos fatos;, disse Zuquim.

Apontado pelo Ministério Público como intermediário da negociação com Sombra, Weligton está preso preventivamente desde sexta-feira na ala federal do Centro de Detenção Provisória (CDP) do Complexo da Papuda, assim como o ex-secretário particular do governador Rodrigo Arantes; o suplente de deputado distrital pelo DEM Geraldo Naves; o ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB) Haroaldo Brasil; e Antônio Bento, acusado de ser o encarregado de levar R$ 200 mil a Sombra. A entrega do dinheiro, em 4 de fevereiro numa confeitaria do Sudoeste, foi flagrada pela Polícia Federal (PF), que monitorava as conversas de Sombra em supostas negociações com representantes do governo.

Bento está preso desde então. Weligton esteve com Sombra e emprestou o telefone celular para que ele conversasse com Arruda, mas sustenta que não ouviu o conteúdo da conversa nem se envolveu na negociação. ;É preciso analisar as condutas de forma individualizada. Weligton não tem participação no caso. O próprio jornalista Edson Sombra declarou em várias entrevistas que ele não tem nada a ver com isso;, afirmou Sávio Zuquim. Ele esteve todos os dias com Weligton desde o dia em que este se apresentou à PF. ;Ele está muito abatido, mas confiante de que conseguirá sair logo;, reiterou o advogado.

Frio e calor

Desde que foram para a prisão, Weligton e os demais presos na Papuda só tiveram contato com os advogados. A primeira visita de familiares e amigos só ocorrerá na quarta-feira de cinzas. Pela regra policial, os presos preventivamente têm direito a uma hora de visita por semana sempre às terças-feiras, segundo os advogados do ex-chefe da Agência de Comunicação. Como amanhã é feriado de carnaval, eles poderão encontrar os parentes no dia seguinte. Segundo os advogados, Weligton está numa cela sem ventilação e tem reclamado do calor de dia e do frio à noite.


1 - Estratégia
Os advogados de Weligton Moraes estudam uma estratégia para tirá-lo da prisão e ainda não há previsão de darem entrada com pedido de liminar em habeas corpus. Eles analisam a possibilidade de aguardar o julgamento do mérito do habeas corpus protocolado pelos representantes do governador afastado José Roberto Arruda, embora expliquem que pretendem desvincular as duas linhas de defesa. Os demais presos preventivamente ; Rodrigo Arantes, Geraldo Naves, Antônio Bento e Haroaldo Brasil ; também têm sido visitados por advogados próprios. Mas o Correio não conseguiu contato com eles.


O número
10m2
Área de cada cela em que estão presos cinco dos acusados pelo STJ


Celas são pequenas

Na cela, há dois beliches, numa área com 10 metros quadrados, e um chuveiro de água fria, além de um vaso sanitário sem tampa. A comida é a mesma dos demais presos sob acusação de crimes federais, como tráfico internacional de drogas. Na mesma ala, está preso, por exemplo, o ex-ativista italiano Cesare Battisti.

Quem quiser encontrar os cinco presos na Papuda terá de se submeter à rotina de revista exigida para todos os demais visitantes. Cada detido só tem direito a receber um livro de cada vez e os familiares só podem enviar frutas e alimentos industrializados. (AMC)