A correlação de forças na Câmara Legislativa do Distrito Federal está completamente indefinida. O afastamento e a prisão do governador José Roberto Arruda (sem partido) provocaram uma debandada em sua base aliada. O sinal mais claro foi dado na aprovação, por unanimidade, dos três pedidos de impeachment contra Arruda na última sexta-feira, em uma reunião informal feita para definir a postura dos parlamentares. Na reunião havia 14 deputados, entre oposição, aliados e até mesmo envolvidos no escândalo revelado pela Operação Caixa de Pandora.
Ninguém assume oficialmente a debandada nem o apoio incondicional ao governador afastado. Dos 24 parlamentares, Arruda sempre contou com o apoio de 19. Desde o início do escândalo do suposto pagamento de propina e corrupção à cúpula do GDF, a distritais e a empresários da cidade, a bancada do governo no Legislativo vem perdendo integrantes. Nos bastidores, apenas três distritais ainda demonstram alguma solidariedade a Arruda: o presidente da Casa, Wilson Lima (PR); o corregedor, Raimundo Ribeiro (PSDB); e a líder do PMDB, Eurides Brito. Mas até mesmo eles evitam explicitar esse apoio. Eurides, por exemplo, ainda demonstra apoio a Arruda, mas mesmo assim votou a favor do prosseguimento dos pedidos de impeachment.
Apesar da mudança de postura, nada garante que o apoio migrará para o governador em exercício Paulo Octávio (DEM). Pelo contrário, ele pode acabar tendo dificuldades em conseguir apoio no Legislativo local para respaldar suas ações à frente do GDF. Parte da base diz aguardar decisão do partido sobre qual caminho seguir. ;Até agora meu partido não recebeu convite para participar do encontro entre legendas que o governador em exercício quer promover. Por enquanto, me sinto à vontade para não apoiá-lo;, afirmou o deputado Bispo Renato (PR). E como Paulo Octávio tem dito que não vai disputar as próximas eleições, é possível que esses partidos alinhem-se com os prováveis candidatos ao Buriti.
A decisão do governador interino em tentar costurar um pacto de coalizão é considerada prematura entre alguns distritais. Não apenas porque Arruda é governador, embora licenciado, mas também porque o nome de Paulo Octávio é citado no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Paulo Octávio ainda é alvo de quatro pedidos de impeachment, que foram protocolados no primeiro dia dele no cargo. ;Arruda está apenas licenciado do cargo e, pelo menos oficialmente, não falou em renúncia;, avalia Paulo Tadeu (PT), membro da CPI da Codeplan.
O Correio apurou que há uma semana ; portanto, antes da prisão ; cinco deputados da então base governista reuniram-se com Arruda sugerindo que ele renunciasse ao cargo. O governador teria dito que isso estava fora de cogitação. O vice-líder de governo e presidente em exercício da CPI da Codeplan, Batista das Cooperativas (PRP), deu provas de que a sustentanção de Arruda está ruindo na Casa. Ele antecipou que vai apresentar, na próxima quinta-feira, relatório pela aprovação dos três pedidos de impeachment contra o governador licenciado.
Uma vez aberto o processo de impeachment, Arruda não poderia mais renunciar, sob risco de perder os direitos políticos por oito anos, caso tenha o mandato cassado. O processo de impeachment deve se arrastar, pelo menos, por quatro meses. ;Se Arruda renunciasse antes da abertura dos processos, reduziria seu desgate político, mas perderia o foro privilegiado;, disse um dos distritais ouvidos ontem pela reportagem.
Defesa
Os deputados estão mais preocupados no momento em salvar a própria pele. Especialmente os oito distritais citados nas denúncias reveladas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa. Todos entregaram a defesa contra os processos de quebra de decoro parlamentar para o corregedor da Câmara Legislativa, Raimundo Ribeiro, que garantiu finalizar o relatório ainda esta semana. A situação dos deputados flagrados em vídeo é mais grave. ;As imagens causam impacto mais forte;, analisou.
Os argumentos de que o dinheiro mostrado nas filmagens era para a campanha de 2006 e de que os deputados não exerciam o atual mandato são facilmente rebatidos. Distritais cujos nomes são citados no inquérito sustentam que a referência a eles feita por terceiros não pode ser comprovação dos fatos. Raimundo Ribeiro está trabalhando no relatório com base nos autos do inquérito do STJ.
Quinta-feira será dia de decisões importantes na Câmara Legislativa. Além da possibilidade de analisar o relatório dos processos de quebra de decoro parlamentar dos oito distritais citados nas investigações da Caixa de Pandora, os deputados terão que votar os pedidos de impeachment de Arruda e indicar os nomes para integrar a Comissão Especial que irá apreciar o mérito dos pedidos. A recomposição da CPI da Codeplan também faz parte da pauta pós-carnaval.
;Por enquanto, me sinto à vontade para não apoiá-lo
Bispo Renato, deputado pelo PR, referindo-se ao governador em exercício Paulo Octávio