Jornal Correio Braziliense

Cidades

PF vai apurar se dinheiro destinado a Sombra veio a mando de Arruda

Antônio Bento acaba detido depois de entregar sacola com R$ 200 mil ao jornalista Edson Sombra

A Polícia Federal abriu uma nova frente de investigação na Operação Caixa de Pandora com base nos relatos de Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Sombra, jornalista e amigo do ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, responsável por denunciar um suposto esquema de corrupção envolvendo a cúpula do governo, empresários e deputados distritais. As informações prestadas por Sombra culminaram com a prisão em flagrante de Antônio Bento Silva, que foi abordado por delegados da PF logo depois de entregar sacola com R$ 200 mil em dinheiro a Sombra. A sacola com a quantia é apenas uma parte do material que se somará ao Inquérito n; 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O jornalista entregou aos policiais fitas com 12 horas de gravações (áudio e vídeo) feitas nas últimas semanas que registrariam conversas e encontros sobre uma suposta tentativa de suborno proposta por interlocutores do governador José Roberto Arruda (sem partido).

Em 21 de janeiro, Sombra procurou a Polícia Federal e contou que vinha sendo abordado por assessores de Arruda que lhe propuseram um acordo: Sombra concordaria em assinar uma carta contando que manipulou os vídeos apresentados por Durval Barbosa ao Ministério Público, à PF e à Justiça e receberia em troca a quantia de R$ 3 milhões. Segundo o jornalista contou à polícia, os R$ 200 mil se referiam à primeira parcela do acerto de contas. Outra quota seria paga no dia do novo depoimento de Sombra à PF, depois que ele entregasse uma cópia de seu relato nas mãos dos correligionários do governador. As demais parcelas de R$ 200 mil seriam pagas em março, abril e maio. O restante, a combinar. A carta foi apreendida no momento da prisão de Antônio Bento.

Segundo o relato de Sombra, Antônio Bento seria o terceiro interlocutor de Arruda na suposta negociação. Teria sido escalado para a missão por manter vínculos tanto com o governador, quanto com o jornalista. Aposentado da Companhia Energética de Brasília (CEB), Bento trabalhou na campanha de 2006 de

[SAIBAMAIS]Arruda e foi nomeado em 2007 para o conselho do Metrô. O vínculo com Sombra se dava por meio do contrato com o jornal

O Distrital, no qual Antônio Bento tinha a função de gerente comercial de mercado privado, subordinado a Sombra, editor-chefe do semanário.

Além dos vídeos, o jornalista repassou à PF um bilhete que teria sido escrito pelo próprio governador. Frases como ;sei que ele tentou evitar;, ;quero ajuda;, ;sou grato;, ;Geraldo está valendo; e ;GDF OK; fariam parte da mensagem que será submetida à perícia e comporá novo inquérito aberto pela Polícia Federal. De acordo com o jornalista, o novo líder do governo na Câmara Legislativa, Geraldo Naves, foi o mensageiro do bilhete cifrado enviado supostamente por Arruda. A reportagem procurou Naves para que ele comentasse a acusação de Sombra, mas não o encontrou.

Câmeras
A prisão de Antônio Bento ocorreu às 8h50 na Torteria de Lorenza, na Quadra 303 do Sudoeste. Em vídeo divulgado pela PF, é possível conferir a cena em que Bento entrega uma sacola de dinheiro para Sombra, imagem captada por quatro das 12 câmeras de segurança da confeitaria. Em seguida à conversa, os dois se levantaram e foram abordados por delegados, que os levaram para a Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul. O delegado Elniz Antônio Rocha Junior passou o dia de ontem ouvindo Sombra e Bento. Às 16h45, após ficar sete horas na Superintendência da PF, Edson Sombra foi liberado. Mas Bento passou a noite preso na carceragem da PF e deve ser levado hoje para o Complexo Penitenciário da Papuda, em São Sebastião.

Antônio Bento foi indiciado no artigo 343 do Código Penal Brasileiro, segundo o qual dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha em troca de omitir informação ou mentir em depoimento é crime que pode resultar em pena de três a quatro anos de prisão, além do pagamento de multa. Em nota divulgada em seu site, a Polícia Federal afirma que a prisão em flagrante de ontem será comunicada ao ministro do STJ Fernando Gonçalves, responsável pela condução das apurações da Caixa de Pandora.

Remarcação
Há uma semana, no primeiro relato oficial à PF, Edson Sombra compareceu à Polícia Federal, mas pediu para remarcar o depoimento com o argumento de que precisava ler o inquérito.

Confira o video em que Sombra recebe uma sacola de dinheiro de Bento