Joalherias e lojas sofisticadas do Lago Sul se tornaram alvos de uma possível quadrilha de estelionatários especializados em golpes de altos valores. Os três ataques registrados nos últimos dois meses, todos eles com o uso de cheque, totalizaram prejuízo superior a R$ 20 mil para os empresários. Chama a atenção o padrão seguido pelo principal articulador do grupo, descrito pelas vítimas como educado, brincalhão e de cerca de 40 anos. Em todos os casos, abusou das boas maneiras para obter sucesso nos desfalques e escapar com produtos de luxo.
As ações tiveram início em dezembro último, quando uma loja de roupas, sapatos e cintos acusou o rombo de R$ 2.041. Uma das funcionárias atendeu o golpista horas antes, por volta das 14h. ;Ele chegou conversando bastante, em um momento em que não havia nenhum cliente aqui. Bem arrumado, com traje esporte, tipo sapato social e calça jeans, disse que queria comprar alguns presentes para a namorada. Só achei estranho porque tudo que eu oferecia ele levava. Levou o cinto mais caro sem mesmo perguntar o preço;, contou a moça.
O homem escolheu cinco peças. Fez o cadastro na loja, com um endereço de Taguatinga, e pediu para realizar o pagamento em dois cheques. Os documentos levavam o nome de José Antônio da Silva. A atendente, apesar de não pedir a carteira de identidade, tomou o cuidado de consultar todos os registros da identificação. Nenhum deles apontou restrições de crédito. Fechou-se, então, a compra. O golpe acabou descoberto pelo setor financeiro, pois os cheques tinham a mesma numeração. O estelionatário não pôde ser identificado, pois o sistema de câmeras instalado no local não grava imagens.
Depois do prejuízo, os donos da loja evitam o recebimento de cheques e tornaram obrigatória a apresentação de um documento de identificação. O recurso, porém, não ajudou uma joalheira do Lago Sul a cair na mesma história. O homem por trás do nome de José Antônio da Silva aplicou um golpe no valor de R$ 15 mil. ;Estava bem-vestido, com roupa de grife, e falava bem. Mostrou até saber a história da nossa loja. Foi realmente muito convincente, ainda mais que pagou com um cheque especial;, disse a proprietária, que preferiu se manter no anonimato.
O golpista disse que estava à procura de um presente para a mulher. Olhou com calma as opções de joias oferecidas pela loja e escolheu uma das mais caras. Para pagá-la, mais uma vez apresentou um cheque clonado. ;Nós checamos tudo o que podíamos. Mas o nome e o CPF usados por ele estão com o cadastro limpo;, afirmou a empresária. O ataque ocorreu pela manhã, antes do horário bancário. Ela registrou ocorrência na 8; Delegacia de Polícia, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), que deve repassar a investigação para a 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul.
Nome manjado
O terceiro golpe ocorreu na primeira semana de janeiro, também contra uma loja de roupas e artigos de luxo. A diferença em relação aos demais se revelou pelo nome e a intenção da compra. O criminoso estava à procura de peças de vestuário para ele mesmo. Chegou ao local por volta das 14h e escolheu jeans, tênis e camisetas. Preço total: R$ 4 mil. ;Ele tinha o português correto e se mostrou muito bem educado. Não tinha como desconfiar de que tudo aquilo se tratava de um golpe;, disse a dona do estabelecimento, que também preferiu não se identificar.
O golpista ofereceu um cheque, outra vez clonado, para pagar os produtos. Nesse caso, apareciam dois nomes: o de uma mulher e o de um homem (André). As atendentes checaram as identificações e nenhuma restrição foi encontrada no sistema. Compra, então, autorizada. A descoberta do desfalque mais uma ocorreu a partir do setor financeiro. Uma funcionária ligou para o banco identificado no cheque e consultou a gerente. Ela respondeu em 15 minutos que se tratava de um cheque clonado com um nome manjado na praça. A loja agora só aceita cheques de clientes antigos.
O delegado-adjunto da 10; DP, Wisllei Salomão, não descarta a hipótese de golpes praticados por quadrilha especializada em clonagem e falsificação de documentos. Segundo ele, a lábia usada pelos estelionatários no Lago Sul também segue padrões. ;São geralmente pessoas de boa aparência e com linguajar educado. É preciso agir sempre com desconfiança antes de confirmar a compra e fazer todas as consultas possíveis de cadastro. Estamos investigando, o que pode se tratar de uma quadrilha que aplica golpes em outros locais do DF;, explicou.
Cuidados
# Estelionatários seguem padrão no momento da aplicação do golpe. Agem de forma educada, articulada e tranquila com encenações para evitarem desconfianças.
# O valor alto de uma compra deve levantar suspeitas, ainda mais se não se tratar de um cliente conhecido.
# Resguarde-se. Faça todas as consultas possíveis de identificação e de cadastro. Se necessário, ligue para o gerente do banco responsável pelo cheque.
# Denuncie em caso de suspeita. O Disque-Denúncia da Polícia Civil do DF é o 197. O 190 é o telefone de emergência da Polícia Militar. O telefone 3248-9600 é o da 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul.