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Com pagamento cada vez mais acessível, lipo exige precauções

Ter um corpo modelado e cada vez mais magro é o desejo de muitas mulheres. Mas, para ser esbelta nos dias de hoje, não é preciso muito esforço físico. As facilidades estão aí, espalhadas pelos consultórios particulares e pelas clínicas especializadas em cirurgia plástica, que oferecem pacotes com pagamentos parcelados em várias vezes para quem quer perder barriga, ganhar peito e bumbum. Mas todo cuidado é pouco na hora de encarar uma mesa de cirurgia. O paciente está exposto a riscos de infecção e hemorragias que podem levar à morte, como ocorreu no último dia 25 com a jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos, após realização de lipoaspiração no Hospital Pacini, na 715/915 Sul. [SAIBAMAIS]O laudo cadavérico da jornalista constatou que houve erro médico. O cirurgião plástico Haeckel Cabral Moraes, com mais de 16 anos de profissão, teria perfurado uma veia renal da jovem, que levou ao choque hipovolêmico, ou seja, à hemorragia seguida de várias paradas cardiorrespiratórias. Casos como o de Lanusse, entretanto, são raros. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Sebastião Guerra, a proporção é de uma morte em cada 250 mil cirurgias plásticas realizadas no país. A incidência é realmente muito pequena. O que aconteceu foi uma fatalidade, disse. A lipoaspiração está entre os procedimentos mais procurados. Das 629 mil cirurgias plásticas realizadas no país em 2008, 125.800 foram para retirar gorduras localizadas no abdome, nas coxas ou nos quadris (veja quadro). Mas perder um ente querido significa muito mais do que dados estatísticos. Para o empresário Sebastião dos Santos, 44 anos, a morte da mulher com a qual era casado há mais de 10 anos veio como um tiro no coração. A funcionária pública Kátia Oliveira, 35, estava feliz com a possibilidade de realizar o sonho de fazer lipoaspiração. Dividiu o pagamento de R$ 11 mil em 12 cheques pré-datados de R$ 775 e, em 11 de janeiro de 2008, fez a primeira consulta com o cirurgião plástico. A operação foi feita quase um mês depois. "Ela foi para casa, mas no sexto dia reclamou que estava se sentindo mal e que, se soubesse que a dor era insuportável daquele jeito, ela jamais teria feito", contou Sebastião. No dia da consulta com o médico que a operou, Kátia desmaiou no banheiro e precisou ser levada às pressas para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde deu entrada com diversas paradas cardiorrespiratórias. Kátia morreu em 28 de fevereiro de 2008. O cirurgião responsável pela operação não encaminhou o corpo dela para o IML para a constatação da causa mortis, embora Sebastião tenha solicitado várias vezes. O atestado de óbito, dado pelo próprio médico que a operou, constatou tromboembolismo pulmonar, causado pelo coágulo de uma artéria. Eu tenho certeza de que ela morreu vítima de um erro. O médico não encaminhou o corpo da minha mulher para o IML para queimar as provas contra ele. Não quero que façam com os outros a mesma covardia que fizeram comigo, alertou. Quase dois anos se passaram desde a tragédia e até agora nada foi feito em relação a este caso. Casos de cirurgiões plásticos que sofrem algum tipo de punição após erro de procedimento são difíceis de encontrar. Dos 234 processos julgados que chegaram ao Conselho Federal de Medicina (CFM), 70 foram arquivados, 15 médicos foram absolvidos e apenas nove tiveram os direitos de exercer a profissão cassados. O restante teve algum tipo de censura pública, confidencial, receberam advertência ou suspensão por 30 dias. (Colaborou Luiz Calcagno)