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Polícia está tão perdida quanto os desaparecidos em Luziânia

Hoje completa um mês que o primeiro jovem, de um total de seis, desapareceu no município goiano. Somente ontem os agentes iniciaram buscas nos pertences das vítimas

Um mês depois do desaparecimento do primeiro adolescente residente no Parque Estrela Dalva, a polícia de Luziânia ainda não tem nenhuma pista sobre o paradeiro dele e dos outros cinco rapazes - entre eles um maior de 19 anos - que moram no mesmo lugar. Em 30 dias, o contingente policial foi reforçado, ganhou mais viaturas, as autoridades do município apreenderam os bens das vítimas e a permissão da Justiça para vasculhar a vida pessoal delas e dos parentes. Ontem, em audiência pública com as famílias, no Fórum da cidade, o presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, desembargador Paulo Teles, autorizou a quebra dos sigilos telefônicos e bancário de todos os envolvidos no caso, o que inclui também a abertura das chamadas recebidas e originadas dos aparelhos das mães dos adolescentes, além do telefone público. O magistrado designou ainda o juiz Romério do Carmo Cordeiro, de Luziânia, para cuidar das questões relacionadas às apurações sobre o paradeiro dos jovens. "O Poder Judiciário está colocando seu aparato para facilitar os atos necessários ao sucesso das investigações. Já houve a quebra de um sigilo telefônico (Paulo Victor, o segundo desaparecido desde 30 de dezembro) há dois dias. E, à medida que forem solicitadas providências, nós agiremos no sentido de dar celeridade a essas ações", afirmou Teles. A mãe de Diego Alves Rodrigues, 13 anos, que sumiu justamente no dia 30 de dezembro, a dona de casa Aldenira Alves de Sousa, 51, participou da audiência pública e ficou satisfeita com a decisão do desembargador. "Tudo o que vier para ajudar a encontrar meu filho será bem-vindo", disse ela. Em meio à aflição provocada pela ausência do filho, Aldenira ainda teve uma notícia desagradável ao ver o companheiro preso, dia 11 último, conforme divulgou o Correio. J. F. S., 50 anos, é acusado de roubo num processo em tramitação na Justiça de Luziânia. Ele acabou detido no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) ao se apresentar por vontade própria para colaborar com as investigações sobre o sumiço do enteado. [SAIBAMAIS]Como o pedreiro foi o último a sair com Diego, a polícia o incluiu no rol de suspeitos de envolvimento no desaparecimento do jovem. Outro fator levantado pelos agentes do delegado Rosivaldo Linhares é que Diego seria um empecilho no relacionamento de J. com Aldenira. Mas a família não acredita na relação dele com o crime. "Isso é um absurdo. Ele pode ser culpado do outro crime, mas não deste", afirmou Aldenira. Computador A polícia também conseguiu obter autorização para recolher alguns bens dos adolescentes desaparecidos, como computador. Os policiais foram até a casa de Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14 anos, no Parque Estrela Dalva 7, e pegaram o computador de uso do jovem, desaparecido desde o dia 18 último. Eles explicaram a mãe dele, Valdirene Fernandes da Cunha, 36 anos, que esperam encontrar alguma pista nos e-mails de Flávio e na sua conta no Orkut - site de relacionamento. "Agora, não posso nem acompanhar as notícias pela internet porque era o único computador da casa", lamentou Valdirene. A audiência pública no Fórum de Luziânia também contou com a presença integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, presidida pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Ele disse que, se for o caso, solicitará a ajuda da Polícia Federal nas investigações do desaparecimento dos seis jovens. Cirlene Gomes de Jesus, 42 anos, também esteve no Fórum. Ela está impaciente diante da falta de notícias de George Rabelo dos Santos, 16, desaparecido desde o dia 10 deste mês. "Deus está aborrecido de tanto eu pedir a Ele meu filho de volta. Eu quero ele vivo ou morto para, pelo menos, poder enterrá-lo com dignidade", desabafa. George foi o terceiro a sumir, depois de Diego e Paulo Victor. Morador do Parque Estrela Dalva 8, o garoto saiu de casa por volta das 11h do dia 10 para ir encontrar a namorada no Parque 4. Lá, ele ficou por cerca de uma hora e disse que teria de ir ao centro de Luziânia. Foi a última notícia que se teve do adolescente.