A polícia confirmou ao Correio que o padrasto de um dos seis jovens de Luziânia que estão desaparecidos é o principal suspeito do sumiço do enteado. Testemunhas viram Diego Alves Rodrigues, 13 anos, pela última vez em 30 de dezembro. Depois dele, outros cinco moradores do Parque Estrela Dalva (1); situado a 66km de Brasília ; também saíram de casa para não voltar mais. O sumiços deles foi destaque na edição publicada no último dia 16, com exclusividade. Além de morar no mesmo bairro, as vítimas têm em comum o fato de não possuírem histórico criminal na Justiça goiana.
O pedreiro J.F.S., 50, acabou preso no último dia 11 ao se apresentar por vontade própria no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) para prestar depoimento que pudesse colaborar com as investigações sobre o desaparecimento do enteado. Contra ele, havia um mandado de prisão preventiva por envolvimento em roubo na região de Luziânia. O acusado foi encarcerado ali mesmo no Ciops, onde permaneceu por nove dias. Em 20 de janeiro, os policiais transferiram J. para o Presídio de Luziânia. Por ser considerado perigoso, ele teve de ser ouvido formalmente na penitenciária.
A prisão de J. causou mais um choque para a família de Diego. Principalmente, para a mãe do garoto, Aldenira Alves de Sousa, 51. A dona de casa convivia com o pedreiro e os filhos no mesmo lote havia 1 ano. Além de Diego, mora na residência, no Parque Estrela Dalva 4, a filha mais velha, Gláucia Gomes de Sousa, 24. ;Ele nunca falou nada para a gente. Parecia uma boa pessoa;, descreve Gláucia, em entrevista exclusiva ao Correio.
A família permaneceu em silêncio durante todo esse tempo. Somente ontem, Gláucia resolveu conversar com a nossa equipe. Ela contou detalhes do misterioso sumiço do filho caçula de dona Aldenira. Além de Diego e ela, Aldenira teve mais quatro filhos, que estão com os pais. A irmã da vítima percorreu, com a reportagem, o caminho que Diego fez antes de sumir. A entrevista foi finalizada com uma máxima: ;Não acredito que o meu padrasto tenha feito alguma coisa contra Diego. Mas coração dos outros é terra que ninguém vai;.
O garoto saiu de casa por volta das 12h de 30 de dezembro. Ele acompanhava o padrasto até a oficina que fica situada entre os parques Estrela Dalva 1 e 2. No Ford Del Rey que transportava os dois, estava também o sobrinho da vítima, Tiago Wesley Gomes de Sousa, de 11 anos. Eles chegaram em menos de cinco minutos na oficina de Ênio Alves Lopes, 30. O carro estava com problema na caixa de marchas.
Enquanto aguardava para ser atendido, J. saiu para fazer uma pagamento no próprio bairro. Deixou, então, os dois adolescentes no carro fora da oficina. Não demorou muito e Diego começou a ficar impaciente com a espera. Ele teria virado para o sobrinho Tiago e o chamado para ir embora para casa. Mas o outro menino disse que ficaria esperando o ;tio;. Diego, então, saiu caminhando sozinho, por volta das 12h30 daquele dia.
A distância entre a casa de Diego e a oficina de Ênia é de cerca de dois quilômetros. Diego era acostumado a fazer percursos maiores a pé. Por isso, a família nunca se preocupou com ele quando estava fora. Ênio, o dono da oficina, contou que não chegou a ver Diego se despedindo de Tiago. Mas recorda com precisão o momento em que J. retornou para sua loja. ;Ele demorou aproximadamente uma hora;, afirma. Segundo o mecânico, J. parecia calmo.
Fontes da polícia de Luziânia contaram ao Correio que J. passou a ser o suspeito principal de ter envolvimento com o desaparecimento do enteado no dia em que ele foi preso. A partir daquele momento, os investigadores passaram questionar com a família o tipo de relação entre J. e Diego. ;Ele havia se tornado um empecilho para o padrasto;, disse um investigador, que pediu para não se identificar. Ontem, nossa equipe conversou com o delegado Rosivaldo Linhares, que confirmou a prisão de J. e a suspeita do envolvimento dele no caso. ;Estamos investigando isso também. Ele é o principal suspeito por esse caso;, afirmou Linhares.
Gláucia, por sua vez, disse que Diego era fechado e não costumava brincar com J. Mas afirmou que o padrasto nunca havia agredido o irmão dela. ;Ele (J.) só não gostava quando o Diego trazia os amigos dele para brincar aqui dentro de casa;, revelou ela. A prisão do companheiro foi uma decepção para a dona de casa Aldenira. ;Ela está muito deprimida com mais essa notícia;, lamentou Gláucia. Aldenira passou o dia fora de casa e preferiu não falar com o Correio.
[SAIBAMAIS]Depoimentos
A polícia ainda não tem pistas sobre o paradeiro de nenhum dos seis jovens que estão desaparecidos em Luziânia. São eles: Diego, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16; George Rabelo dos Santos, 17; Divino Luiz Lopes da Silva, 16; Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14; e o maior Márcio Luiz Lopes de Souza Lopes, 19. O dia foi de depoimento no Ciops. Entre eles, a equipe do delegado Linhares ouviu a mãe de Divino, Mariza Pinto Lopes, 42. Sobre o depoimento, ela disse: ;Eu falei da rotina dele em casa e dos amigos;, antecipou.
1 - Sete quadras
O bairro Parque Estrela Dalva tem 50 mil habitantes. A maioria trabalha em Brasília. Tem sete quadras que levam o mesmo nome, diferindo apenas a numeração, que vai até oito. Os desaparecimentos ocorreram no Parque Quatro (3 sumiços), Dois, Um e Sete.
Ajude
Quem tiver informações sobre os desaparecimentos em Luziânia pode entrar em contato com o Ciops pelo telefone 3620-2416. É possível também ligar para o S.O.S Criança. Basta discar o número 100. A central funciona das 8h às 22h em qualquer localidade brasileira.
Para saber mais
Cadastro Nacional
Sancionada no fim do ano passado pelo então presidente em exercício, José Alencar, a Lei n; 12.127/09, que entrou em vigor em 18 de dezembro de 2009, cria o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. Os dados pessoais servem para integrar e facilitar o acesso às informações em todo o país e tornar mais ágil o trabalho policial de busca e localização. O cadastro terá informações sobre as características físicas e dados pessoais de crianças e adolescentes sumidos que tenham sido registrados em órgão de segurança pública federal ou estadual. Os custos relativos ao desenvolvimento, instalação e manutenção da base de dados são arcados pelo Fundo Nacional de Segurança Pública.