Considerada crítica pelos especialistas, uma variação de 1ºC na temperatura de uma localidade de uma década para outra está diretamente relacionada ao desenvolvimento das cidades, ao aumento do número de veículos, ao desmatamento e à produção industrial. "As regiões mais pobres serão as mais prejudicadas. Eles não contribuíram com o problema e não têm recursos para investir nessa adaptação", analisa o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em mudanças do clima, Fúlvio Fonseca.
[SAIBAMAIS]O desmatamento e, em seguida, as emissões de gases poluentes são as principais causas das mudanças climáticas, de acordo com o especialista. Apesar de iniciativas voltadas para a diminuição do impacto do homem no meio ambiente, ele destaca que as comunidades terão de se adaptar às transformações ambientais. O Distrito Federal, no entanto, tem condições de contornar o problema. "O DF ainda não é uma área vulnerável e o cerrado é uma vegetação resistente". Mas Fonseca alerta: "O aumento de 1ºC na temperatura pode parecer pequeno, mas não é. Mesmo sendo em uma década".
O cabeleireiro Antonio Felleti, 55 anos, mudou a rotina para amenizar o calor do dia a dia. Ele mora em Brasília há 25 anos. Em 1985, trabalhava no salão de beleza na 204 Sul e mantinha as janelas abertas. A brisa era suficiente para deixar o lugar agradável. Tony percebeu as mudanças na temperatura ao longo dos anos e acabou instalando ar-condicionado na loja para ter conforto durante o horário de trabalho e oferecer mordomia aos clientes. "O gasto com energia aumenta e o ar fica mais seco, mas vale a pena." Ele compara: "No passado, as chuvas eram regulares e as noites eram frescas. Hoje, a pele e o cabelo têm de ser mais hidratados. Além de seco, o clima é desregulado e muito quente".
Meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lincoln Alves explica que o fenômeno é uma tendência nas maiores cidades brasileiras. Segundo ele, a colocação de asfalto em grandes extensões e a construção de mais e mais prédios de concreto forma ilhas de calor. Nessas áreas, o ar tem menos espaço para circular, e, com isso, a temperatura da região aumenta.
O asfalto e o concreto irradiam grande parte do calor absorvido pela luz do sol ao longo do dia. O ar daquela região %u2014 que já pouco circula - esquenta ainda mais. Nas áreas em que o solo está livre de construções, a terra absorve uma parcela maior da energia solar. A tendência de aumento constante da temperatura, no entanto, pode ser interrompida com medidas benéficas ao meio ambiente. "O aumento da temperatura depende das ações ambientais de cada cidade. A arquitetura pode ser modificada, o material asfáltico pode causar menor impacto ambiental, além de medidas de arborização", analisa Alves.
Saúde
O homem, responsável por todas essas mudanças do clima, torna-se uma das principais vítimas do aumento da temperatura. Segundo a presidenta da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Carmélia Reis, o número de casos relacionados a doenças de calor aumenta a cada dia no DF. São brotoejas, micoses, dermatites, herpes simples e urticária. "A prevenção é a melhor forma de evitar qualquer tipo de doença. Quando isso não for possível, a pessoa deve procurar ajuda de um especialista em dermatologia", aconselha Carmélia.
Para a médica, as pessoas devem se conscientizar: "É importante pegar sol para a síntese da Vitamina D e para garantir o bem-estar. Mas a exposição excessiva aos raios solares pode causar transtornos". Entre os distúrbios observados no corpo humano em razão do abuso do sol estão envelhecimento precoce e câncer de pele.