Jornal Correio Braziliense

Cidades

Quiosque irregular causa revolta entre moradores de Planaltina

Construído de forma considerada irregular pela administração da cidade, um pequeno ponto comercial provoca revolta na população, que organiza abaixo-assinado para demolir a obra

A construção de um quiosque de 24 metros quadrados em frente a uma escola na Vila Buritis, em Planaltina, revoltou a comunidade e os comerciantes da área. A administração regional da cidade garante que a ocupação de área pública é irregular ; não tem autorização. Na rua, porém, a versão é a de que o dono do comércio seria parente de um funcionário da administração. A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), que tem a responsabilidade de determinar a retirada do quiosque, já vistoriou o local.

Nem a entidade que representa os quiosques(1) apoia o que foi construído há 15 dias na Quadra 04 da Vila Buritis, grudado ao muro da Escola Classe n; 4, onde estudam mais de 700 alunos. ;Há anos a gente luta pelos nossos direitos, pela nossa regularização. Não podemos aceitar que qualquer pessoa chegue e bagunce tudo. Tem que demolir;, adverte Luiz Ribeiro, presidente da União dos Proprietários de Traillers, Quiosques e Similares do DF (Unitrailler). Ribeiro acusa a Administração Regional de Planaltina de ter forjado uma autorização para o quiosque. ;O que eu sei é que o dono do quiosque é parente do diretor de serviços públicos da administração;, acusa o morador da cidade. ;Disseram que era uma relocação de quiosque já existente, mas isso não é verdade. Aquele quiosque nunca existiu em Planaltina;, alega.

Na administração, o discurso é diferente. Funcionários da assessoria do gabinete do administrador que não quiseram se identificar informaram ao Correio que não há um registro sequer de pedido para a ocupação da área pública. De acordo com eles, não seria possível a um funcionário do local autorizar sozinho a construção ou mudança de qualquer quiosque, visto que essa decisão cabe ao administrador regional. E este, segundo os funcionários, não ficou sabendo de nada ; de modo que a obra é irregular.

A Agefis fez uma vistoria no quiosque na última terça-feira e autuou o proprietário. De acordo com o órgão, porém, o dono do quiosque possui uma autorização da Coordenadoria de Serviços Públicos para ocupar cinco metros quadrados ; e não 24. Ele tem 30 dias para regularizar a situação.

Abaixo-assinado
Enquanto isso, a população segue indignada. ;É revoltante, porque é uma invasão(2) descarada de área pública. A pessoa que fez teve a certeza de que não haveria punição, porque investiu dinheiro, fez a base de concreto e deixou ai esse caixote horroroso;, reclama o aposentado Aloísio de Sena, 63 anos, olhando para a estrutura de metal pintada de verde que ocupa um espaço maior do que a parada de ônibus ao lado. ;Os moradores e comerciantes fizeram um abaixo-assinado para tirar isso daí. Espero que o governo não nos deixe na mão;, diz.

O boato é de que o quiosque iria abrigar uma lanchonete. ;Quero saber como é que ficam os empresários sérios, que têm alvará, pagam impostos, aluguel;, questiona Kellyane Gomes Vasconcelos, prima da dona de uma bomboniere que fica do outro lado da rua. ;Agora, até a visão da bomboniere ficou prejudicada. Com certeza vai ser prejuízo para a minha prima. E ninguém quer isso aí. Até a diretora da escola já disse para todo mundo que ele precisa ser demolido;, conclui ela.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com o dono do quiosque.

1 - Invasão de área pública
Para ocupar espaços públicos, estabelecimentos comerciais precisam de autorização da administração regional da cidade e tem que pagar uma taxa. É o que ocorre, por exemplo, com os famosos puxadinhos das quadras comerciais do Plano Piloto ; os da Asa Sul estão sendo regularizados e devem estar padronizados até 6 de abril.

2 - Unidades registradas
O comércio ambulante de bens e serviços é o ganha-pão de milhares de brasilienses. De acordo com a Unitrailler, são 14 mil quiosques reconhecidos pelo poder público.

O número
60 mil

Número aproximado de empregos diretos criados pelo comércio dos quiosques, segundo a União dos Proprietários de Trailleres, Quiosques e Similares do DF