Dois meses antes do início das investigações da Operação Caixa de Pandora, o pré-candidato petista ao Governo do Distrito Federal, o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz assistiu a gravações feitas por Durval Barbosa que mostram políticos do Distrito Federal, inclusive o governador José Roberto Arruda (sem partido), recebendo dinheiro. Agnelo esteve no 10; andar do Palácio do Buriti, acompanhado do jornalista Edson Sombra, para uma conversa com Durval, que, naquela altura, já comentava com várias pessoas que estava totalmente desencantado com Arruda.
Segundo uma pessoa que conversou com Durval sobre o assunto, o encontro na Secretaria de Relações Institucionais foi gravado, como muitos que o delator da Operação Caixa de Pandora filmou com equipamento escondido em sua sala. Agnelo falou ontem pela primeira vez sobre o assunto com o presidente regional do PT, Chico Vigilante. Ao Correio, o candidato petista confirmou que esteve com Durval pela primeira e única vez nessa ocasião ; em julho. As investigações que resultaram na ação policial de 27 de novembro começaram em setembro de 2009. ;O Sombra me convidou e estive lá porque o Durval queria mostrar as gravações. Sei que ele exibiu as fitas para pelo menos outras 10 pessoas que tinham credibilidade no Distrito Federal;, explicou Agnelo.
Nenhuma providência
O petista disse que Durval mostrou apenas parte da videoteca e as imagens estavam editadas, de forma que não havia como identificar quem entregava o dinheiro. Agnelo disse que não tomou nenhuma atitude, como protocolar representação ao Ministério Público ou à Polícia Federal, porque Durval não lhe entregou cópias das gravações. ;Avaliei que apenas Durval poderia fazer a denúncia, caso tivesse disposição para isso, como acabou acontecendo. Era uma cena grave, mas não sabia em que circunstâncias havia ocorrido;, explicou Agnelo.
Edson Sombra é um dos principais responsáveis pela delação premiada de Durval Barbosa. Em setembro, ele levou o então secretário de Relações Institucionais do DF ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para que registrasse em depoimento as acusações de corrupção no governo Arruda que motivaram a Operação Caixa de Pandora. Conhecido como Sombra, o jornalista confirmou ontem ao Correio que levou Agnelo a Durval. Segundo ele, a conversa durou cerca de uma hora e meia ; das 14h40 às 16h. Sombra, no entanto, disse que só revelaria em ;foro adequado; o teor da conversa. ;Não posso dizer que foi filmada, nem que não foi;, afirmou ao Correio. Agnelo garante que não tem receio de qualquer gravação. ;Foi um encontro rápido. Esse assunto nem merece destaque. Parece que querem colocar a gente nesse samba;, afirmou o petista. ;Durval mostrou as fitas a algumas pessoas porque tinha medo de ser assassinado;, disse Vigilante.
Fora das votações
A deputada Eurides Brito (PMDB) informou ontem ao Correio que não vai participar de nenhuma votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) relacionada aos pedidos de impeachment do governador Arruda. A distrital disse que, quando o assunto for debatido na CCJ, ela será substituída pelo suplente Wilson Lima (PR). A medida esvazia pedido protocolado na Mesa Diretora pela bancada do PT de afastamento de Eurides, por suspeição. A distrital é investigada no mesmo inquérito contra Arruda, por ter sido filmada recebendo dinheiro de Durval Barbosa na campanha de 2006.
Se a Câmara Legislativa não declarasse a suspeição de Eurides, o PT entraria com Mandado de Segurança no Tribunal de Justiça do DF contestando a decisão. Na próxima semana, a Justiça decidirá se concede ou não liminar em ação civil pública protocolada pelo Ministério Público que pede o afastamento de todos os investigados de qualquer ato ou decisão relacionados ao impeachment.
Enquete aponta preferência pela permanência de Arruda
Enquete promovida pelo portal Correiobraziliense.com.br aponta que 77,92% dos leitores querem ver o governador José Roberto Arruda (sem partido) à frente do Governo do Distrito Federal até o fim de seu mandato, em 31 de dezembro de 2010. A enquete entrou no ar em 7 de janeiro e permaneceu no portal até a tarde de ontem. Foram registrados 290.650 votos no total.
Entre os internautas que defendem a permanência de Arruda à frente do GDF, 47,22% (veja ao lado) são favoráveis a que o governador não interfira nas eleições. Arruda não pode concorrer porque se desfiliou do DEM ; segundo a legislação eleitoral, o candidato precisa estar filiado a algum partido político pelo menos um ano antes da data da votação.
A alternativa que recebeu mais votos sinaliza também a preferência para que o vice-governador Paulo Octávio (DEM) fique fora da disputa eleitoral de outubro. Embora Paulo Octávio seja investigado no Inquérito n; 650 que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ), por suposto esquema de desvio de recursos públicos de contratos, o vice-governador permanece filiado ao DEM, partido do qual, aliás, é presidente regional. Para 30,7%, Arruda deve ficar até o fim e apoiar a candidatura de Paulo Octávio ao governo.
Menos votos
A opção que recebeu menos votos ; com 0,01% do total ; foi a possibilidade de Arruda e Paulo Octávio renunciarem, ficarem fora da disputa eleitoral e deixarem o governo nas mãos do presidente da Câmara, Leonardo Prudente, que foi filmado recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa e guardando os maços em todos os bolsos do paletó e nas meias. A segunda alternativa que recebeu menos apoio (0,12%) é a que prevê a renúncia de Arruda, com a transferência do governo para Paulo Octávio, que concorreria à reeleição.
A enquete registrou que 21,67% preferem que Arruda, Paulo Octávio e todos os citados na Operação Caixa de Pandora, inclusive o presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (sem partido), deixem seus cargos e não disputem a eleição deste ano. Nesse cenário, o governo ficaria sob a responsabilidade do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Níveo Gonçalves. Apenas 0,28% dos participantes da consulta informal feita pelo Correio Braziliense consideram, como melhor caminho para Brasília depois da crise deflagrada no DF com a Operação Caixa de Pandora, que um deputado distrital a ser eleito para a presidência da Câmara Legislativa no lugar de Prudente assuma o GDF. (AMC)