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Cidades

Um dos bairros mais caros de Brasília ainda não tem serviços básicos de captação e tratamento de esgoto

A falta de infraestrutura básica não é um problema apenas das regiões pobres do Distrito Federal. Em um dos bairros mais nobres da capital, o Lago Sul, os moradores esperam há mais de 30 anos pela rede de captação e tratamento de esgoto. O serviço foi instalado pela Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) até a altura da QI e QL 25. As quadras restantes não têm a benfeitoria e a previsão é que só a recebam em 2012. Enquanto isso, cerca de 12 mil pessoas mantêm fossas dentro do terreno de casa.

O advogado Geraldo Cortês, 71 anos, construiu três fossas no lote onde vive na QI 26. As instalações foram surgindo e dividindo o espaço do quintal com as mangueiras que ele plantou em 1977. As mudas se tornaram grandes árvores, e as fossas, parte da paisagem. ;Durante esse tempo, já ouvi tanta promessa de rede de esgoto que nem acredito mais. Elas vêm sempre na véspera das eleições. Enquanto isso, vamos cuidando das fossas. Não pago para limpá-las porque uso fortes produtos químicos que impedem o mau cheiro e o acúmulo de dejetos. Mas não é todo mundo que cuida assim;, afirmou ele.

É proibido jogar papel higiênico e plástico na fossa dos Cortês. A regra só cairá quando o GDF instalar a rede de esgoto no local. ;Se não lutarmos para melhorar o problema sanitário em geral, o governo não vai lembrar de fazê-lo;, aconselhou o advogado. A previsão da Caesb é que o serviço comece a ser instalado nas últimas quadras do Lago Sul (da 26 à 29) no segundo semestre deste ano. As obras(1), orçadas em R$ 15 milhões, devem ser concluídas só em 2012, com previsão de atendimento de 12,6 mil pessoas. A ampliação da rede evitará a contaminação do solo e do lençol freático e o depósito irregular da água suja. A tubulação deve passar na parte da frente das moradias.

Conta
Morador da QI 27, o engenheiro têxtil Peter Sterf, 55, está acostumado a fazer a manutenção das duas fossas que tem em casa. Depois que construiu a segunda, nunca mais contratou os serviços prestados pelas empresas de limpa-fossa. Cada limpeza custa em média R$ 100. Com a manutenção em dia, ele até prefere ficar sem a rede de esgoto. O engenheiro sabe que, quando o benefício chegar, a conta de água vai dobrar de valor. ;A quantidade de água que entra em casa vai ser a mesma que sai. Esse é o sistema de cobrança da Caesb. O jeito vai ser economizar no gasto. Já tenho um sistema de captação de água de chuva para diminuir o consumo e vou apertar mais;, contou ele.

Mesmo com o aumento da conta mensal de água, o administrador Ricardo Garófalo, 53, é a favor da instalação da rede de esgoto no bairro. Ele cita que regiões mais novas, como São Sebastião, Paranoá e Itapoã, já receberam a benfeitoria. ;Estou no Lago Sul desde 1986 esperando a tal da rede. Toda vez que se fala do serviço só se olha um estrato da população. Mas todos têm o mesmo direito;, disse.

Para garantir a qualidade de vida da comunidade e preservar o meio ambiente, o morador precisa estar atento à manutenção das fossas. A limpeza deve ser feita a cada seis meses. Mas nem sempre isso ocorre. O trabalho malfeito pode acarretar transtorno para todo mundo. Mau cheiro e vazamento de esgoto ocorrem nas quadras comerciais quando chegam os temporais. Na QI 25, a população conhece o problema e exige soluções. As reclamações que chegam à Administração Regional são encaminhadas à Caesb. Segundo o chefe de gabinete, José Vicente Coelho, a instalação da rede nas áreas públicas e os problemas decorrentes da falta do serviço são de responsabilidade do órgão.

1 - Projeto pronto

Para completar a rede de esgoto do Lago Sul, faltam 82 km de tubulação de coleta do material e 2.520 ligações. O projeto técnico está pronto, mas ainda não há dinheiro para a obra. A Caixa Econômica Federal será o agente financeiro do processo de licitação. Hoje existe coleta de esgoto em 94% do DF.

O número

12 mil
Número de moradores do Lago Sul que precisam construir fossas no terreno de casa