Os moradores do Setor de Chácaras e Mansões Santa Maria, em Valparaíso de Goiás, estão preocupados com o projeto de construção de um transbordo de lixo no local. A empresa Quebec, responsável pela coleta de detritos na cidade, pretende começar os trabalhos ainda no primeiro semestre deste ano, após o término das chuvas, mas muitos chacareiros são contra a iniciativa. Eles temem que o lugar se transforme em um verdadeiro lixão e que o chorume contamine o lençol freático, além de terem medo de contrair doenças devido à frequente presença de ratos, moscas e baratas.
O transbordo será criado com a finalidade de economizar e reduzir o tempo de coleta. Segundo o gerente de limpeza da Quebec, Alírio Esperandine, os caminhões de lixo fazem diariamente 10 viagens de 20km até o aterro sanitário da Cidade Ocidental,(1) em funcionamento desde abril de 2008. A intenção é que esses caminhões deixem de cumprir esse percurso e passem a despejar os resíduos diretamente em uma carreta com capacidade para 35 toneladas, que se encarregará de levar tudo para o aterro. Dessa forma, o gasto com combustível seria reduzido pela metade. A Prefeitura de Valparaíso paga R$ 140 mil por mês para que a empresa recolha o lixo da cidade, que varia entre 90 e 100 toneladas todos os dias.
Para o servidor público Jasube Siciliano, 53 anos, outra preocupação é como será construída essa área de transbordo. A empresa Quebec alugou uma chácara particular na Rua 7, próximo ao córrego, para desenvolver o projeto, mas o entra e sai de caminhões de lixo e caçambas tem deixado os chacareiros ainda mais receosos. ;Me preocupa se o líquido desse lixo está caindo no solo e se os caminhões já estão sendo lavados nessa chácara;, apontou. O gerente de limpeza Alírio Esperandine garante que, por enquanto, a área é utilizada apenas para guardar os caminhões ; o que, explica, elimina o risco de contaminações. ;Eles são lavados longe daqui, na Etapa D, que fica no centro de Valparaíso;, disse. Esperandine explica que o futuro transbordo será controlado por um engenheiro químico, que tomará todos os cuidados necessários para evitar prejuízos ambientais. ;Vamos retirar os resíduos diariamente, mas a proteção será a mesma usada em um aterro sanitário. Vamos usar mantas e caixas para conter o chorume que cair da carreta. Não haverá problemas quanto a isso;, garantiu.
Uma chacareira que preferiu não se identificar teme que tudo não passe de discurso e prevê transtornos caso o projeto seja levado adiante. ;Se não há preocupação nem em colher o lixo direito, imagine se terão preocupação com o meio ambiente! Aqui é Goiás. Depois do dano, não adianta querer consertar, porque tudo que se paga com dinheiro é barato. Estamos questionando isso agora porque temos amor à terra e não queremos que nada de ruim aconteça a ela;, declarou a senhora.
Embora uma base de concreto já esteja pronta para realização do transbordo, a empresa ainda não tem licença ambiental para desenvolver o projeto ; que, segundo o secretário de Saúde, Francisco Carvalho, só será levado adiante se a empresa cumprir todas as exigências ambientais e tiver autorização dos órgãos competentes para atuar. ;Se houver alguma ameaça de prejuízo, não permitiremos a criação do transbordo. Estou acompanhando de perto e faremos reuniões com demais secretários e engenheiros químicos da empresa para discutir o assunto;, informou.
1 - Originalmente, uma boa ideia
O lugar foi aberto justamente para pôr fim ao lixão instalado na época em uma Área de Preservação Ambiental (APA) no bairro Pacaembu, em Valparaíso. O espaço foi desativado após o Ministério Público de Goiás denunciar a contaminação do solo e de nascentes, além da constatação de trabalho infantil na área. O lixão tem capacidade para operar quase duas toneladas de resíduos diariamente.
Eu acho...
;A gente não pode deixar esse transbordo virar bagunça. Esse negócio de trazer lixo para dentro de uma chácara não parece ser legal. Acho que, além do mau cheiro, vai trazer rato e barata para dentro das nossas casas. Deveriam continuar levando o lixo diretamente para o lixão da Cidade Ocidental, porque assim não haveria tanta reclamação.;
Maria da Natividade França Alves, 51 anos, chacareira