Jornal Correio Braziliense

Cidades

Custo de material escolar tem diferença de até 400%

Estudo do Procon compara os valores das listas escolares cobrados em 11 papelarias de seis pontos do Distrito Federal

Uniforme, cadernos, apontador, borracha, cola bastão, lancheira, tesoura sem ponta, régua em acrílico, lápis, canetas, folhas, livros; É item que não acaba mais na lista de material escolar. São, no mínimo, 40 produtos a serem comprados. Lá se vão pelo menos R$ 800 para atender as exigências dos filhos e da unidade de ensino. A menos de três semanas para o início das aulas na maioria dos colégios do Distrito Federal, as papelarias estão lotadas. Até o fim do mês, o movimento chega a ficar 10 vezes maior, segundo os comerciantes. Resultado: filas para ser atendido e para pagar.

Levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) mostra que vale a pena levar a sério a orientação de pesquisar preços. Técnicos do órgão compararam os valores cobrados em 11 papelarias de seis pontos do DF ; asas Sul e Norte, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Guará, Taguatinga e Ceilândia. Encontraram uma diferença de mais de 400% em alguns itens (veja quadro). Foram pesquisados 40 produtos comuns na maioria das listas distribuída pelas escolas A diferença entre a combinação mais cara e a mais barata ficou em R$ 124,99. Esse é o tamanho da economia para quem pesquisar. No caso de uma caixa de lápis de cor, por exemplo, a variação chega a R$ 15,55. O presidente do Procon-DF, Ricardo Pires, disse que não há elementos para constatar preço abusivo, já que não existe uma tabela para ser usada como referência. Na avaliação dele, cabe aos pais ficarem atentos. ;A nossa opção é orientar os consumidores. Pensando naqueles que não têm tempo de fazer um levantamento, divulgamos essa tabela;, comentou.

Mais empregos
Existem cerca de 590 pontos de venda de material escolar no DF. Desses, 120 são casas especializadas. O número de funcionários do setor pula de 4 mil para 6 mil nesta época do ano, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel), José Aparecido da Costa. Desde setembro do ano passado, as lojas contrataram mais vendedores e reforçaram os estoques. Por enquanto, nos cálculos de Costa, apenas 30% dos pais foram às compras. ;Como sempre, a maioria deixa para a última hora;, constatou.

Os preços dos itens da lista de material escolar aumentaram de 4% a 5% em relação ao ano passado. O reajuste, porém, pode ser maior daqui para a frente. ;Os valores podem subir até 20% se for preciso reforçar o estoque;, alertou Costa. O presidente do Procon-DF sugere que os pais se reúnam em grupos na hora de comprar.;É maior o poder de barganha quando há mais materiais e o valor da compra é maior. Isso aumenta a possibilidade de conseguir um desconto;, argumentou. Algumas lojas oferecem a opção de parcelamento em até quatro vezes, sem juros.

A fisioterapeuta Rosimary de Melo, 37 anos, passou dois meses pesquisando preço. Ontem, chegou a hora de pagar a conta, acompanhada de dois dos quatro filhos. ;Se os outros dois viessem, eu teria que vender um para pagar tudo;, brincou ela, ao calcular que vai gastar cerca de R$ 4 mil com o material escolar do quarteto. ;O difícil é convencê-los de que um apontador de R$ 7 faz a mesma coisa que outro de R$ 1;, acrescentou, tentando controlar o impulso dos mais velhos: Heitor, 14 anos, e Arthur, 12.

Este ano, o comerciante Américo Naves Aguiar Júnior, 40 anos, não teve tempo de comparar preços. Preferiu ir direto à papelaria onde havia comprado em 2009. ;Se fosse só a correria estava bom, o pior é essa hora aqui;, afirmou ele, na fila do caixa. O pai estima que todo o material para o casal de filhos, João Américo, 10 anos, e Ana Clara, 4, custará algo em torno de R$ 2,2 mil. ;Não tem para onde fugir, é um sacrifício que a gente tem que fazer. Mas se eles fizerem a parte deles e estudarem direitinho ao longo do ano, será um investimento;, observou Júnior.

Propaganda não é ilegal
É uma prática comum entre os colégios usar a lista do material escolar como espaço para propaganda de papelarias. Os órgãos de defesa do consumidor explicam que a medida não é ilegal, mas lembram aos pais que eles não são obrigados a comprar os produtos nas lojas sugeridas. Os comerciantes dizem que a parceria com as escolas envolve apenas uma troca de favores que facilita a vida dos pais, uma vez que o estoque dos estabelecimentos é formado com base no que os colégios pedem. De acordo com os empresários, essas propagandas não são pagas. A livraria e papelaria Brito, por exemplo, firmou parceria com cerca de 70 escolas, segundo a gerente Leida da Silva Neto. Ali, os pais podem encontrar com mais facilidade o que essas unidades de ensino pedem na lista. Por dia, desde o início do ano, a Brito tem fechado negócio com cerca de 250 pais. (DA)

Fique atento!

# A escola não pode exigir a compra de determinada marca, nem que o material seja adquirido em lojas específicas ou mesmo comprado na instituição de ensino
# Faça um balanço do que restou do período anterior e veja a possibilidade de reaproveitamento
# Leia com atenção a lista de material. Veja se a quantidade exigida é adequada ou se a escola está pedindo algo fora do normal. Em caso de dúvida, questione a direção do colégio
# Não é preciso comprar todo o material escolar no início do ano. Os pais podem combinar com a escola e adquirir apenas os produtos que serão usados no primeiro semestre, por exemplo
# Pesquise preços. Visite sites, percorra papelarias, depósitos, lojas de departamento e até supermercados
# Organize grupos de pais para tentar descontos nas lojas
# Procure comprar somente o necessário e leve em consideração as taxas de juros nos pagamentos a prazo
# Exija sempre a nota fiscal com os artigos discriminados
# Fique de olho nas embalagens de materiais como colas, tintas, pinceis atômicos e fita adesiva. Esses produtos devem conter informações claras e precisas a respeito do fabricante, da origem, instruções de uso e do grau de toxidade
# Peça à escola a indicação de duas ou três empresas para fornecimento do uniforme. Os pais podem ter a opção de contratar uma costureira para o trabalho, respeitando cores, modelo e logotipo da instituição
# A escola só pode exigir material didático de uso individual

Fonte: Ibedec

Serviço
Caso se sinta lesado pelas exigências da escola ou pelo valor dos produtos nas lojas, o consumidor pode registrar reclamação no Procon. Os telefones são 3905-7495 ou 3905-586. Também há a opção de acionar o Ibedec pelo número 3345-2492 ou pelo e-mail consumidor@ibedec.org.br.



Lista
É uma prática comum entre os colégios usar a lista do material escolar como espaço para propaganda de papelarias. Os órgãos de defesa do consumidor explicam que a medida não é ilegal, mas lembram aos pais que eles não são obrigados a comprar os produtos nas lojas sugeridas.

Os comerciantes dizem que a parceria com as escolas envolve apenas uma troca de favores que facilita a vida dos pais, uma vez que o estoque dos estabelecimentos é formado com base no que os colégios pedem. De acordo com os empresários, essas propagandas não são pagas.

A livraria e papelaria Brito, por exemplo, firmou parceria com cerca de 70 escolas, segundo a gerente Leida da Silva Neto. Ali, os pais podem encontrar com mais facilidade o que essas unidades de ensino pedem na lista. Por dia, desde o início do ano, a Brito tem fechado negócio com cerca de 250 pais. (DA)

Mensalidades
Os gastos com a educação dos filhos não se restringem à compra do material escolar. O aumento das mensalidades escolares em 2010 foi, em média, de 6,5%, segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF). Em algumas escolas, no entanto, o reajuste chegou perto de 11%. A média nacional ficou em 7%.

A planilha de custos das escolas inclui basicamente a folha de pagamento dos professores, que tiveram 1% de ganho real no salário este ano, além de despesas com impostos, materiais de consumo e tarifas públicas (aluguel, água, luz etc.). Também são levados em conta investimentos em infraestrutura e a proposta pedagógica de cada colégio.

O Procon e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) estão atentos aos reajustes das mensalidades escolares. A recomendação para os pais e responsáveis é exigir da escola a planilha de custos que serve de base para os aumentos. A Lei Federal 9.870, que dispõe sobre o valor total das anuidades escolares, assegura esse direito. Se não liberarem os cálculos, as escolas podem ser multadas.

Onze unidades de ensino estão sendo investigadas pelo MP, sob suspeita de aumento abusivo em 2009. Os pais devem ainda ficar atentos às promessas que, segundo os diretores dos colégios, justificam o reajuste. Precisam checar, por exemplo, se as melhorias na infraestrutura ou a oferta de determinado curso extra se concretizaram. (DA)