É tempo de descobrir uma outra Brasília. Durante o período de férias, a debandada de muitos moradores transforma a capital. Deixa a cidade muito mais agradável para quem fica: com ruas tranquilas, sem engarrafamentos nem filas duplas. O empurra-empurra das pessoas nos centros comerciais desaparece como um balão solto no ar. As lojas vazias tentam atrair os poucos clientes com promoções pós-Natal. Uma vantagem para o cidadão que escolheu não gastar dinheiro com viagens. Apesar do temperamental clima brasiliense nesta época ; que muda de estação com a rapidez de uma rádio AM/FM ;, a cidade está de asas abertas para quem estiver disposto a aproveitá-la.
Acostumada a passar férias nas praias do litoral nordestino, a empresária e bailarina Thereza Maciel, 42 anos, preferiu mudar o roteiro e ficar em casa neste janeiro. Dona de uma escola de dança em Valparaíso (GO), ela escolheu usar o tempo livre para organizar seus projetos artísticos e se dedicar à família. ;É o tempo que tirei para botar minha vida em ordem. Quando você viaja, deixa para trás um bando de coisas a fazer;, avaliou.
Na última quinta-feira, Thereza acompanhou o pai, Antônio Maciel Pinheiro, 77, numa ida ao Setor Comercial Sul (SCS). Ele foi resolver assuntos financeiros. Ela foi passear e impressionou-se com a atual paz do local. ;Não tive incômodo para achar vaga. As ruas não estão tão cheias. Dá até para ensaiar alguns passos;, brincou. Em sua opinião, quem reclama de Brasília nas férias é porque não procura o que fazer. ;A cidade está repleta de opções. Peças de teatro, shows musicais, exposições para todos os gostos. Além disso, você não precisa brigar por lugar no barzinho ou no restaurante. Estou achando maravilhoso ficar aqui nesta época;, afirmou a bailarina.
A aposentada Nejea Madruga, 53, compartilha da mesma opinião. Veterana em passar férias na capital, ela acredita ser este o melhor momento para curtir a cidade. ;O trânsito melhora 100%. Fica mais gostoso sair de casa porque todo o comércio abre, mas não há multidões competindo espaço e serviços com você;, disse. De olho em boas promoções, ela anda garimpando nos comércios locais da Asa Norte o melhor preço. E há muitas opções.
Quinta-feira passada, Nejea foi à comercial da 309 Norte olhar alguns produtos nas vitrines e aproveitou para almoçar num dos restaurantes da região. Moradora da 110 Norte, ela sabe como é difícil ser atendida com atenção na movimentada comercial. ;Agora entro na loja e todas as vendedoras querem me receber. O mesmo acontece no restaurante. Não encontro dificuldade em achar um bom lugar para sentar. E a situação dos supermercados? As filas estão bem menores. Isso é que é ter qualidade de vida!”, comemorou.
Sossego
Adepto da filosofia oriental, o holandês Terry Agerkop, 70, pratica tai chi chuan e taekwondo há quatro décadas. Os exercícios podem ser feitos no apartamento onde mora na 415 Norte, mas ele prefere estar perto da natureza, num lugar sossegado para praticá-los. Quando chegou ao Parque Olhos d;Água, na manhã da última quinta-feira, o professor universitário se viu imerso num pequeno oásis, com quase ninguém andando ao redor. ;É normal as pistas de cooper estarem cheias e hoje não vi quase ninguém. O parque está um paraíso. Vim com o propósito de relaxar e praticar meus exercícios. Apostei certo;, contou. Ao comparar Brasília com outras cidades brasileiras, Terry diz que aqui as pessoas têm a oportunidade de ter acesso às áreas verdes em meio ao caos urbano. ;Isso é um privilégio que a população tem que desfrutar. O único fato que me desagrada é eu não poder andar de bicicleta, como fazia na Holanda;, lembrou.
Pegar um cineminha é um programa que cai bem durante as férias. E em Brasília, dependendo dos horários, não é preciso encarar longas filas para assistir à sessão escolhida. A estudante Brenda Nascimento, 15, o operador de telemarketing Manoel Silva, 27, e a comerciante Gisele Neves dos Santos, 24, passaram uma tarde no Pátio Brasil e asistiram ao filme Lula, o filho do Brasil, biografia do presidente da República.
Enquanto aguardavam o horário da sessão, eles tiravam fotos perto do elevador panorâmico do local e se divertiam com as poses que faziam. ;Estamos nos divertindo. Acho bom que não tem muita gente. Temos o shopping só para nós;, exultou a estudante. Já Gisele, natural de Barreiras (BA), não achou atraente o pouco movimento do local. ;Estou achando meio parado. É época de férias e cadê as pessoas dessa cidade? Lá na Bahia é mais agitado!”, reclamou a comerciante. Mal sabe ela que, durante janeiro e fevereiro, Brasília se torna uma outra cidade. Mas este é um segredo que poucos conhecem sobre a capital.