O brasiliense gasta R$ 13,93 menos para comprar os produtos da cesta básica (1) do que gastava há um ano. Os alimentos considerados essenciais ficaram 5,90% mais baratos em 2009. O morador da capital federal, com renda de um salário mínimo, precisou trabalhar 20 horas a menos para adquirir os 13 produtos pesquisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). No fim de 2008, as mesmas compras exigiam 125 horas e 11 minutos de trabalho. Atualmente são necessárias 105 horas e oito minutos. Dos 13 itens pesquisados, nove ficaram mais em conta em 2008 puxados pelo aumento da oferta interna e uma queda na demanda internacional devido à crise econômica. Das 17 cidades pesquisadas pelo Dieese, apenas uma registrou aumento de preços em 2009: Belém (2,65%). Em João Pessoa, foi verificada a maior redução, de 14,92%.
Neste ano, a expectativa é de que os preços estabilizem, se o clima colaborar. ;A previsão é que a oferta seja boa em 2010. Então, não devemos ter aumentos grandes de preços. Mas isso só vai acontecer se o clima ajudar e a chuva não atrapalhar o plantio;, afirma o coordenador da pesquisa da cesta básica feita pelo Dieese, o economista José Maurício Soares. No ano passado, a queda dos preços decorreu de uma oferta maior de grãos, como arroz, feijão e soja, provocada pelo aumento da área plantada em 2008 e em 2009. A dupla arroz e feijão ficou mais barata na capital federal 11,48% e 37,39%, respectivamente.
A queda de 9,27% no valor do quilo da carne no DF tem influência externa. Ocorreu aumento da oferta interna após a redução nas exportações. Os países importadores pararam de comprar a carne brasileira devido à crise econômica, que atingiu o mercado internacional a partir de setembro de 2008. A volta das exportações não deve significar aumento de preços, na opinião da coordenadora de estudos econômicos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rosemeire Santos. ;A tendência é de estabilização dos preços, embora haja uma demanda maior de carne neste ano, porque a oferta também está aumentando. Isso acaba estabilizando o preço.;
1 - Produtos essenciais
O levantamento é realizado mensalmente pelo Dieese em Brasília e em outras 16 capitais brasileiras. São apurados os preços de 13 itens considerados essenciais para a alimentação de um trabalhador adulto. O Dieese considera as quantidades mínimas mensais desses alimentos, como, por exemplo, 6kg de carne, 7,5 dúzias de banana, e 3kg de arroz.
Entre os caros, DF é o terceiro
Mesmo com a redução de preços, Brasília continua figurando entre as capitais que têm a cesta básica mais cara do país. No início de 2009, a capital federal estava em quinto lugar do ranking das cidades mais onerosas. Agora ocupa a terceira posição. Em média, os 13 produtos essenciais custam R$ 222,22 em Brasília. Apenas em Porto Alegre e em São Paulo eles valem mais: R$ 237,58 e R$ 228,19, respectivamente. Até 2008, Florianópolis e Rio de Janeiro tinham preços mais elevados do que em Brasília. Mas quedas de 11,77% e 11,02% nos valores fizeram com que as duas cidades ficassem à frente do Distrito Federal.
A ultrapassagem ocorreu em dezembro. Em novembro, o brasiliense pagava o nono valor mais elevado. Mas um acréscimo de 2,77% no preço da cesta apenas em dezembro, o mais alto do país, foi o responsável pela mudança de posição. Nenhuma das outras 16 cidades teve aumento superior a 0,8% em dezembro. O incremento registrado na capital federal foi puxado por reajustes em 10 de 13 alimentos. A cesta ficou R$ 6 mais cara em apenas um mês. O maiores acréscimos se deram nos preços da batata (18,59%), da banana (14,77%) e do açúcar (14,77%). Apenas a alta da batata representou um aumento no valor total de R$ 2,22. A banana, outros R$ 1,95. Os preços dos dois itens são muito flutuantes e variam por conta da influência climática. As altas nos demais produtos tiveram impacto menor do que R$ 1 no custo total, segundo o Dieese.
Apesar da queda ao longo do ano, a cesta continua sendo muito pesada para boa parte da população do DF. As compras de supermercado do morador da Estrutural Willian Rodrigues, 24 anos, gerente de um restaurante, são feitas aos poucos. Segundo ele, dessa forma é possível ter um controle maior do orçamento familiar.
Ontem, ele comprou arroz, feijão, açúcar, leite e mais alguns produtos. Os considerados supérfluos não fazem parte da rotina da casa, mas, em alguns meses, podem entrar na geladeira da residência em que mora com a mulher e um filho. ;Vejo que muitos alimentos caíram de preços, tanto que tenho comprado iogurte, o que não dá para comprar sempre, só quando meu filho pede muito;, conta. Por mês, ele calcula gastar cerca de R$ 200 por mês apenas com as contas de supermercado. (MF)
; 2010 COMEÇA COM INFLAÇÃO EM ALTA
A capital federal começou o ano com a inflação em alta. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) aumentou 0,19% na primeira semana do mês, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em dezembro, o acréscimo na inflação tinha sido de 0,12%. De 1; a 7 de janeiro, a elevação se deu em cinco das sete classes de despesas pesquisadas. Os alimentos encareceram 0,19%. As peças de vestuário, 0,49%, os gastos de educação, leitura e recreação, 0,34%, os produtos e serviços de habitação, 0,27%, e as despesas diversas, 0,16%. Em contrapartida, as despesas com saúde e cuidados pessoais e transportes, ficaram, 0,10% mais baratos. O IPC-S é pesquisado em sete capitais brasileiras. Em todas elas, houve aumento de preços nos primeiros sete dias de 2010. Em média, a inflação do período foi de 0,51%. Os maiores aumentos foram registrados no Rio de Janeiro (0,71%) e em Recife (0,60%). Porto Alegre teve a menor aceleração (0,09%).
; Palavra de especialista
Informação só por cargo
;Com a queda das exportações, a oferta de carne no mercado interno aumentou, reduzindo preços. E houve uma redução do consumo de arroz e feijão, itens que não exportamos, apenas produzimos para o mercado interno. Acho que está havendo uma mudança no padrão de alimentação do brasileiro, que está consumindo menos esses alimentos. Em 2010, não devemos ter grandes aumentos de preços porque estamos com uma oferta maior de praticamente todos os produtos. Vamos ter estabilidade, pelo menos no primeiro semestre, que é um período de colheita da maioria dos grãos, a não ser que tenhamos um problema climático grande. No caso da carne, o preço deve ser mantido em função de um aumento da produção. A exceção poderá ser nos produtos que são cotados internacionalmente, como o açúcar. Uma quebra de safra na Índia, que é grande produtora de açúcar, provocou esse aumento exagerado de preços.;
Rosemeire Santos, coordenadora de estudos econômicos da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)