Há oito dias, uma nova visitante passou a fazer parte do quadro de moradores da Casa do Vovô Lar Cecília Ferraz. Uma cadela da raça pastor-alemão chegou de forma inesperada à residência localizada na 603 Norte, e, diferentemente dos 70 idosos que lá residem, ela não poderá ficar. A administradora do local, Irani Ferreira de Castro, de 74 anos, procura com insistência os proprietários da cadela, que, pela sua avaliação, deve ter menos de um ano de idade. Desde que chegou faminta à casa, em 3 de janeiro, a cachorra anda ressabiada pelos cantos. Durante os dias, fica presa em um canil. Mas, à noite, quando é solta no quintal, continua triste. O pelo bem-cuidado e a aparência saudável levam a administradora do asilo a crer que a cadela tenha um dono. Sua intuição lhe diz que ele deve morar em Taguatinga, onde, desconfia dona Irani, ela foi roubada e levada à Asa Norte.
Nos últimos dias, várias pessoas apareceram querendo adotar a cadela, mas Irani não aceitou. ;Quero muito encontrar o dono, fico pensando na tristeza que essa pessoa deve estar sentindo. Não podemos ficar com ela aqui, mas não vou entregá-la para qualquer um;, conta. Uma mulher se apresentou como dona da cadela e deu a ela o nome de Sissi, mas o pastor nem sequer levantou os olhos para vê-la. ;Vi que ela estava mentindo por isso. Cachorro quando vê o dono fica alegre, pula, brinca, demonstra alegria. Ela não reconheceu aquela mulher. E ela me disse que o filho a tinha trazido de Taguatinga. Por isso, acho que os verdadeiros donos moram lá.;
A preocupação de Irani tem uma explicação: o amor pelos animais. Além dos 70 idosos e dos 65 funcionários que se revezam dia e noite, transitam pela área de 5 mil m; do asilo nove cães, 18 gatos, dois papagaios, passarinhos e dezenas de pombos que Irani alimenta todas as manhãs. ;Tenho pena dos donos dessa cachorra. Se sumisse um cachorro meu, eu iria chorar muito, morrer;, lamenta. Os bichos ficam isolados no quintal, longe das alas dos idosos, mas a nova moradora agradou aos velhinhos, segundo a administradora do local.
Todas as semanas, os cães e os gatos consomem 6kg de ração, mais carne moída e leite. Somente a pastor-alemão consome 1kg de ração por dia. Boa parte dos R$ 12 mil que o marido de dona Irani recebe de aposentadoria vai para a compra dos alimentos dos bichinhos. Dos cachorros, cinco deles dormem diariamente com a senhora. E o mais velho deles, Tiquinho, um pinscher de 12 anos, rosna sempre que um estranho se aproxima da dona. O ciúme dos outros cachorros é um dos motivos que impedem a cadela pastor-alemão de permanecer na casa. Irani teme que eles se estranhem e se machuquem. Dos nove cães que transitam pelo lar, oito são dela. Todos são filhos de Tiquinho. Apenas o nono não mora na casa. Ele apenas passa os dias lá enquanto a filha de Irani está no trabalho. De noite, volta para o lar, um apartamento da Asa Norte.
Irani está à frente da Casa do Vovô há 25 anos, quando ficaram prontas as obras, que duraram mais de duas décadas. A ideia de construir um local para abrigar idosos surgiu quando ela viu os pais sem um local com estrutura especial para serem cuidados. O pai foi morador de rua. A mãe, lavadeira. Hoje, Irani cobra até R$ 4,5 mil mensais para abrigar um idoso no local, e os que se hospedam em quartos particulares pagam o valor maior. Nutricionistas elaboram os cardápios que as cozinheiras preparam. Fisioterapeutas, fonoaudiólogos e médicos tratam dos pacientes. As enfermeiras se responsabilizam por repassar os remédios corretos a cada um deles. E as cuidadoras alimentam e dão banho na turma da melhor idade. ;Aqui, temos os pagantes e os não pagantes, que são carentes. A casa é sem fins lucrativos, não preciso desse dinheiro, vivo num lugar nos fundos, com a renda da aposentadoria do meu marido;, conta. Há dois anos, ela abriu a segunda Casa do Vovô, em Vicente Pires, onde já moram 33 idosos.
AJUDE
Se você tem informações que possam levar ao dono da cadela pastor-alemão, entre em contato com a Casa do Vovô Lar Cecília Ferraz. O telefone é 3223-6610.