Depois de um 2009 de muita briga entre os pediatras da cidade e os planos de saúde, o ano começou com uma possibilidade de acordo entre as partes. O atendimento por meio de convênio havia sido suspenso na maioria dos hospitais particulares, por conta do boicote dos médicos. Mas as conversas entre as empresas e os pediatras evoluíram e vários planos voltaram a ser aceitos nas emergências das unidades privadas de saúde do DF. Nos casos em que ainda não houve consenso, as negociações continuam. Os usuários de convênios comemoram a novidade e esperam uma solução definitiva para o problema. Pelo menos 700 mil brasilienses são conveniados a planos de saúde. Desses, 120 mil são crianças e dependem dos serviços dos pediatras.
Até o ano passado, as empresas repassavam, em média, R$ 48 por consulta aos profissionais. Os pediatras exigiam um reajuste para R$ 90 por atendimento. Sem um acordo, os médicos decidiram romper os contratos e boicotar a maioria dos planos. No auge da crise, o único convênio aceito na maioria dos hospitais particulares era o Sistema Integrado de Saúde (SIS), do Senado Federal, que acatou os argumentos dos médicos e concordou em pagar R$ 100 por consulta. Nos outros casos, os pacientes tinham que desembolsar R$ 90 para cada consulta de emergência em pronto-socorro. Mas, na maioria das situações, os usuários de plano de saúde não conseguiam o reembolso posterior.
O presidente da Sociedade Brasiliense de Pediatria, Dennis Alexander Burns, está satisfeito com os avanços nas negociações. Ele conta que boa parte dos convênios aceitou pagar um valor que varia entre R$ 65 e R$ 88. ;Não é o valor exato que exigíamos, mas já representou uma grande vitória;, comemora Dennis. ;Além disso, as consultas de retorno passarão a ser pagas aos médicos, assim como as visitas aos pacientes internados;, acrescenta o pediatra. Se o paciente receber mais de uma visita por dia na internação, as consultas subsequentes custarão 30% do valor principal.
Segundo a Sociedade Brasiliense de Pediatria, as negociações já estão concluídas com alguns planos que reúnem grande quantidade de usuários, como Bradesco, Amil, Sul América, Slam e Life Empresarial. No caso de planos ligados a órgãos públicos, os principais que conseguiram acordo com os pediatras são TRF e Saúde Caixa. Mas nem todos os hospitais voltaram a receber exatamente os mesmos convênios que aceitavam anteriormente. Essa volta será gradual e é importante o paciente verificar no hospital antes da consulta.
Negociações
O pediatra José Marco de Andrade, diretor da Sociedade Brasiliense de Pediatria, conta que médicos de alguns hospitais particulares estão negociando individualmente com as empresas. ;Os convênios que já voltaram a atender representam, pelo menos, dois terços dos usuários. A tendência é que, nos casos em que ainda não houve acordo, as negociações individuais continuem;. Segundo o diretor da entidade que representa os pediatras, dois dos principais planos de autogestão que ainda não chegaram a um acordo com os pediatras são Geap e Cassi. ;Nesses dois casos, colocamos o valor-base de negociação entre R$ 60 e R$ 70. Mas eles limitaram o repasse por consulta a R$ 48;, afirma José Marco.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, diz que as negociações devem continuar e destaca que não é a primeira vez que uma especialidade médica organiza um boicote. ;Já houve outras ações no passado, é um movimento legítimo dos médicos. Mas não temos poder de polícia junto às operadoras para impor quanto elas devem pagar. Cabe a cada empresa negociar;, afirma Arlindo.
O plano de saúde da dona de casa Antônia da Silva Carvalho, 40 anos, havia sido suspenso nas principais emergências pediátricas dos hospitais particulares. Mas ontem o atendimento havia sido retomado e ela conseguiu levar o filho Leonardo, de 5 anos, ao pronto-socorro. O garoto estava com princípio de pneumonia. ;Ainda bem que resolveram essa briga. Se eu tivesse que pagar quase R$ 100 ficaria muito pesado para mim;, conta Antônia.
O jornalista Marcelo Molina, 34 anos, também torce por uma solução definitiva para o impasse. Pai do pequeno Miguel, de 6 anos, ele paga um convênio particular para toda a família e reclama da cobrança por consultas de emergência. ;O cliente é sempre o mais prejudicado. A gente fica no meio da briga entre os médicos e os planos e, no fim, nós que pagamos a conta;, reclama Marcelo.
Fique atento
Confira quais planos são aceitos na emergência em
pediatria dos principais hospitais particulares da cidade:
Hospital Anchieta (Taguatinga):
Amil, BRB, Codevasf, Embratel, Omint, SIS, Unibanco,
Saúde Caixa, TRF
Hospital Santa Lúcia (Asa Sul):
SIS, Life Empresarial
Hospital Santa Helena (Asa Norte):
SIS
Hospital São Francisco (Ceilândia):
Afeb, Amil, Slam, Golden Cross, SIS, Cifais
Hospital Santa Marta (Taguatinga):
Afeb, Amil, Golden Cross, SIS, Slam
Hospital Santa Luzia (Asa Sul):
Não informou
Hospital Brasília (Lago Sul):
Não tem emergência pediátrica
Hospital Prontonorte (Asa Norte):
Não tem emergência pediátrica
Acordo
-O que os pediatras conseguiram negociar com a maioria dos planos de saúde:
-O preço repassado por consulta passa a variar entre R$ 65 e R$ 88.
-O valor da consulta de retorno será pago aos médicos.
-Os pediatras receberão o valor de uma consulta no caso de visita a pacientes internados.
-A partir da segunda visita diária, o valor será equivalente a 30% do total da consulta.